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Livres do vexame completo - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR
GAZETA DO POVO - PR - 18/02
Curitiba receberá a Copa, mas o simples fato de, a poucos meses do pontapé inicial, ter sido cogitada a hipótese de a cidade ficar de fora da competição já é bastante embaraçoso
O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, confirmou Curitiba como sede da Copa do Mundo, provocando um suspiro de alívio ouvido do Centro Cívico até o Água Verde e evitando que a capital paranaense se tornasse a maior piada do torneio. O vexame pode não ter sido completo, mas o simples fato de, a poucos meses do pontapé inicial, ter sido cogitada a hipótese de Curitiba ficar de fora da competição já é, por si só, bastante embaraçoso. Afinal, uma cidade que até pouco tempo atrás era vista como referência em planejamento urbano se mostrou um fracasso não apenas no planejamento para a Copa, mas principalmente na execução.
A Fifa anunciou o Brasil como país-sede da Copa em outubro de 2007, mas ainda antes disso já se sabia que a competição ocorreria aqui, já que o Brasil era candidato único. Desde aquele momento, várias cidades começaram a se movimentar para buscar a condição de cidade-sede, e Curitiba sempre esteve na lista final da maioria dos especialistas. Em maio de 2009, a capital paranaense foi confirmada na relação de 12 cidades que receberiam os jogos. Ou seja, o planejamento começou sete anos antes da Copa e, com o anúncio das sedes, haveria cinco anos para deixar tudo pronto. No entanto, não foi isso o que aconteceu.
Comecemos pela reforma da Arena da Baixada, já que foi ela que quase tirou Curitiba da Copa. Sua reforma era orçada inicialmente em R$ 135 milhões, que seriam divididos igualmente entre Atlético Paranaense, prefeitura e governo do estado. Ou seja, desde o início já havia um pesado aporte de recursos públicos via empréstimo; em outras palavras, dinheiro do contribuinte que poderia ser usado para finalidades muito mais importantes. Apesar de estarem investindo pesado no estádio, prefeitura e governo estadual cometeram o indesculpável erro de deixar o Atlético administrar sozinho a obra, quando deveriam ter exigido participação nas decisões. Foi por decisão do clube que grandes empreiteiras foram preteridas para dar lugar a um sem-número de pequenas empresas trabalhando ao mesmo tempo na Arena. O resultado todos sabemos; o orçamento cresceu até chegar aos atuais R$ 330 milhões e só após a ameaça de Valcke é que o poder público resolveu intervir na administração da reforma.
Do lado de fora do estádio, o ?legado? da Copa até o momento é a confirmação do clichê segundo o qual brasileiro deixa tudo para a última hora. O projeto que Curitiba entregou à Fifa em 2009, revelado pela Gazeta do Povo em 15 de março de 2009, previa 16 obras, entre infraestrutura turística e de mobilidade. A maioria delas nunca saiu do papel, como é o caso da reforma da Avenida Cândido de Abreu. Outras ficarão para bem depois da Copa, como o metrô. E, das poucas que sobreviveram, como a Linha Verde Norte e a reforma da Rodoferroviária, nenhuma está pronta, segundo reportagem que a Gazeta publicou em 5 de janeiro. Não será uma surpresa se os torcedores e turistas que chegarem de ônibus encontrarem uma rodoviária pela metade, e se os que vierem de avião desembarcarem em um Afonso Pena em obras e ficarem parados nos congestionamentos provocados pelas obras na Avenida das Torres.
É preciso insistir: tudo isso teve cinco anos para ser projetado, licitado e construído. Só como comparação, esse período foi suficiente para que os chineses construíssem as duas pontes mais longas do mundo, uma com 165 e outra com 114 quilômetros. O Viaduto de Millau, na França, uma das maravilhas da engenharia moderna, levou três anos e dois meses do início da construção até sua inauguração.
Não foram apenas os fãs de futebol e as autoridades que comemoraram o anúncio de ontem: diversos empreendedores que investiram pensando na Copa, especialmente no setor hoteleiro e de serviços, poderão recuperar pelo menos parte do dinheiro gasto. À exceção da presença da Espanha, o sorteio da Copa não foi generoso para com a cidade. Mesmo assim, conforme publicou a Gazeta no domingo passado, a Associação Comercial do Paraná (ACP) estima que, nos quatro dias de jogos, os R$ 150 milhões diários de movimentação do comércio em Curitiba serão dobrados; e a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) prevê aumento de R$ 240 milhões no setor de alimentação em todo o estado. Que pelo menos essas projeções se realizem.
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