Melhor Filme
Vai pra “Onde os Fracos Não Têm Vez”. Se o critério for “não entender por não entender”, “Sangue Negro” também fica bem confuso no final. “Conduta de Risco” simplesmente não é bom o bastante. Agrada um pouco na hora, depois vai embora rapidinho da cabeça. “Desejo e Reparação” é lindo, e posso entender porque a maior parte dos participantes do bolão escolhe esse. Tem perfil pra ganhar. Só que não foi nem tão bem de crítica nem de bilheteria. Aí tem gente que diz que, por “Juno” ser o único levinho entre os cinco, pode se destacar e ganhar. Mesmo que os votantes da Academia sejam velhinhos conservadores e os conservadores estejam adotando “Juno”, não acredito muito na sua vitória. Pra começar que mesmo os velhinhos do Oscar são muito mais liberais que a direita cristã, e quando eles vêem a Fox (no Brasil, a Veja) jogando confete pra “Juno”, pode ficar com um pé atrás. Segundo que, se “Juno” levasse, seria a primeira comédia a ganhar melhor filme desde “Noivo Nervoso, Noiva Neurótica” (30 anos atrás!). Quer uma outra estatística? Em 93% das vezes, o vencedor de melhor filme é indicado a melhor montagem. E “Juno” e “Desejo” não foram (ok, é uma dessas estatísticas nada a ver, mas impressiona). Não sei explicar. Acho que o momento de “Juno” passou. Fica um clima no ar antes da cerimônia, sabe? Se a votação tivesse sido duas ou três semanas atrás, teria mais chances. Agora é o momento de consolidação do favoritismo de “Fracos”. O que não quer dizer que vai levar tudo. De jeito nenhum teremos uma vitória arrasadora como “Titanic” e “Senhor dos Anéis 3” (Eca, eca, três vezes eca!).
Melhor Diretor
Os irmãos Coen. Teve alguma outra vez em que duas pessoas subiram ao palco pra agradecer uma estatueta de direção? Vai ser interessante. O Julian Schnabel deve estar em segundo, mas distante. E eu não descartaria de cara o Paul Thomas Anderson.
Melhor Ator
Se depender do público, como o pessoal do bolão, é o Johnny Depp. Mas como depende de seis mil pessoas ligadas à Hollywood, o Daniel Day-Lewis ganha. Seu único perigo é o George Clooney, porque ser um charme e todos gostarem dele. Mas será uma surpresa e tanto se o Daniel não levar seu segundo Oscar pra decorar a lareira. Meu preferido, Viggo Mortensen, não tem a menor chance. Até o Tommy Lee Jones tem mais chance que ele, chuif.
Melhor Atriz
Continua sendo uma disputa acirrada entre a Julie Christie, a Marion Cotillard, e a Ellen Page. Mas pra você ver como esse negócio de momento existe, as chances da Ellen diminuíram consideravelmente, e é possível que agora a competição esteja limitada às duas atrizes européias. A interpretação da Marion tem todos os ingredientes pra abocanhar Oscar: ela se enfeiou pra fazer a Piaf, é um personagem cheio de problemas físicos e psicológicos, é uma biografia... Mas a Julie está muito melhor, num filme melhor, e que mostra uma paciente de Alzheimer sem vários dos clichês do gênero (por exemplo, ela segue totalmente linda, apesar da doença). Acho que fica com a Julie, mas não será nada fácil.
Melhor Ator Coadjuvante
Pra mim, é a maior barbada do ano. Quem ganha é o Javier Bardem. O Hal Holbrook leva o voto de simpatia, por ser um velhinho bacana, e talvez pelo conjunto da obra. Mas eu não engulo isso. Sem querer desmerecê-lo, que obra, cara pálida? Seu papel mais importante foi como o Garganta Profunda de “Todos os Homens do Presidente”, e aí só a voz dele aparecia, por alguns minutos. Não é o suficiente pra merecer uma homenagem. E se é pra ficar na questão de merecimento, o Javier criou um dos vilões mais assustadores de todos os tempos. Seu Anton Chigurh já entrou pra História, como o Hannibal Lecter. Eu adoro o Casey Affleck também, se bem que ele, e não o Brad Pitt, seja o ator principal de “Assassinato de Jesse James”. O Tom Wilkinson é a melhor coisa em “Conduta”, assim como o Philip Seymour Hoffman em “Jogos do Poder”. Mas o Javier consegue ser a melhor coisa num filme que já é muito, muito bom.
Ah, e quer ouvir algo engraçado? Minha querida leitora Maíra, a da teoria “mostrou o bumbum, merece o meu voto”, ia apostar no Tom Wilkinson, porque em “Conduta” ele fica mais ou menos nu (e veja como ela foi coerente e realmente apostou no azarão Viggo Mortensen). Daí ela viu “Fracos” e inventou que o Javier tira a roupa depois de voltar da farmácia! Na hora da cena ela se virou prum amigo e disse “Pronto, agora vou ter que mudar meu voto!” (no que o amigo ficou rosa, conta ela). Mas que nudez é essa do Javier que só a Maíra viu? Meu argumento é que mostrar a coxa descoberta não representa nudez. Nem que seja um coxão como o do Javier! Coxão com sangue em cima e buraco de bala no meio não vale!
Melhor Atriz Coadjuvante
Talvez a categoria mais complicada de todas. Acho que quem tem menos chances é a Saoirse Ronan, por ela quase não ter entrado entre as indicadas. O momento da Cate Blanchett parece ter passado. Ela faz o Bob Dylan em “Não Estou Lá”, mas não sei se muita gente da Academia se anima a ver um desses filmes sem história (o filme tá no meu computador faz um mês e eu não me animo a vê-lo). Tem a Amy Ryan, que está marcante em “Medo da Verdade”. Mas será que os votantes escolhem um personagem tão repulsivo (tá, eu digo isso logo depois de dizer que não tem como o Javier Bardem perder no papel de psicopata)? Ela não é muito conhecida no cinema, só no teatro. Parece que o momento é da Tilda Swinton, que ganhou o prêmio mais recente, do Bafta. Pessoalmente, não gosto da sua atuação, porque odeio sua personagem. “Conduta” pisa feio na bola ao sugerir que colocar uma mulher na presidência de uma empresa só pode dar em crime e incompetência. No entanto, como a maior parte dos críticos é homem, às vezes parece que eu sou a única a reclamar desse ponto do filme. Sério! Talvez o pessoal da Academia nem repare no machismo de “Conduta” e vote na Tilda. Acho que seria a única estatueta do filme. Mas eu pus a Ruby Dee no bolão. É verdade que seu papel em “O Gângster” é disparado o mais insignificante entre os cinco. Ela não faz nada além de esbofetear o Denzel Washington. Mas me acompanhe: ela leva o voto de simpatia, como o Hal Holbrook, numa categoria sem nenhum favorito. Ela é velhinha, tem 83 anos. É a única negra indicada ao Oscar deste ano, onde a proporção injusta foi de um negro entre 20 atores indicados (tô chutando, mas pode ser que a Ruby seja a única negra entre todos os concorrentes de todas as categorias), e o Oscar não gosta de ser chamado de racista. E, ao contrário do Hal, ela tem um conjunto de obra considerável (esteve em montes de filmes do Spike Lee). Minha aposta é plausível porque, se ela ganhar, será uma das raríssimas standing ovations da noite (quando todo mundo aplaude de pé). O problema é essa palavrinha, se. De qualquer jeito, pode ser qualquer uma. Eu pelo menos posso argumentar a favor do meu chute!
Melhor Roteiro Original
Embora o momento de “Juno” tenha passado, ainda acho que o Oscar vai pra Diablo Cody. Inclusive, acho que será o único prêmio dado pra essa comédia retrógrada. Quem deve estar mais próximo é o Tony Gilroy, diretor e roteirista de “Conduta de Risco”, seguido pelo Brad Bird, por “Ratatouille”. Mas aposto como o pessoal tá morrendo de curiosidade pra ver como a nossa Bruna Surfistinha vai se vestir pra agradecer pela estatueta. E será que o discurso de agradecimento vai ser tão moderninho quanto os diálogos do filme?
Melhor Roteiro Adaptado
Esta categoria está muito mais concorrida que a de roteiro original. Deve ir pra “Onde os Fracos Não Têm Vez”. Mas não surpreenderia tanto se fosse pro Paul Thomas Anderson por “Sangue Negro”, ou pra “O Escafandro e a Borboleta”. O roteiro de “Fracos” é muito fiel ao livro, é verdade. No entanto, será que os Coen vão levar pra casa tantas estatuetas assim? Muita gente acha que já é muito quatro prêmios pra esse filme difícil de entender até depois de ver três vezes (e a maioria esmagadora dos votantes só vê uma vez). Então por que continuo chutando “Fracos” em outras categorias? Porque sou uma fracote. É o medo de deixá-lo de fora bem nas categorias em que vença. Quem age assim não merece ganhar bolão. Cadê meu chicotinho de auto-flagelação pra eu bater nas minhas costas?
Fotografia
É comum esse prêmio acompanhar melhor filme, o que favoreceria “Onde os Fracos Não Têm Vez”. O problema é que o diretor de fotografia de “Fracos” é o Roger Deakins, indicado também por “Assassinato de Jesse James”. Pode ser que uma anule a outra. Mas o Roger é um nome forte num filme que é tido como favorito a melhor filme do ano, logo... Acontece que quem levou o prêmio de Fotografia dado pelo Sindicato foi “Sangue Negro”... E será que “Sangue” vai ganhar apenas melhor ator? Ou vai mais longe? Pode ir também pra “O Escafandro e a Borboleta”. Lembre-se que essa era uma das produções que muita gente queria ver indicada a melhor filme. Ai, ai. Eu forçei o maridão a colocar “Sangue Negro” mas fiquei sem coragem pra minha aposta. Pode ser um erro. Se eu perder o bolão por causa dessa covardia, vou acabar usando meu chicotinho de auto-flagelação no maridão também.
Direção de Arte
A direção de arte de “Sangue Negro” pertence ao Jack Fisk, que é marido da Sissy Spacek há três décadas (algo incomum em Hollywood). Se ele ganhar, vai ser um daqueles momentos ternos em que o marido agradece a mulher na platéia (ou esquece de agradecer, como aconteceu com a Hillary Swank). A direção de arte de “Sweeney Todd” e de “Desejo e Reparação” são igualmente impressionantes. Eu tô apostando em “Desejo” só por causa dos cenários e daquela sequência de cinco minutos sem cortes na praia, que exigiu uma direção de arte perfeita (cavalos, mar, esqueleto de roda gigante). Mas é um chute mesmo. Pode ser qualquer um dos três.
Figurino
O vestido verde da Keira Knightley chamou muito a atenção (ou seja, rendeu bastante artigo). E a figurinista conseguiu espaço na mídia pra falar como bolou o maiô branco. Portanto... Suponho que “Desejo e Reparação” tenha um leve favoritismo. No entanto, ano passado ganhou “Maria Antonieta” com os mesmos figurinos que já vimos em todos os filmes de época. As roupas em “Elizabeth” são mais atraentes, mas têm um quê de deja-vu. As de “Sweeney Todd” têm criatividade, embora o tom do filme seja tão escuro, todo mundo tão preto e branco, que talvez isso esconda os figurinos – sem falar que a figurinista de “Sweeney” já ganhou o Oscar diversas vezes.
Edição / Montagem
Eu acho que “Fracos” leva, apesar do filme ter sérios problemas de montagem (a cena em que o Tommy Lee Jones vai ao hotel onde houve o tiroteio e o Javier Bardem tá atrás da porta parece piada: onde tá o Javier, afinal? Atrás da porta mesmo? Mas de qual quarto? Embaixo da cama? Ele saiu antes do Tommy entrar? Ô edição confusa!). O motivo principal pro seu leve favoritismo? O pseudônimo! Esse tal de Roderick Jaynes que concorre pela edição de “Fracos” simplesmente não existe! É que os irmãos Coen costumam editar todos seus filmes eles mesmos, usando esse nome falso. O pessoal pode votar no Roderick pra ver o que os Coen farão ao serem desmascarados: subirão ao palco? Fingirão que não é com eles? Agradecerão em nome do Roderick? Claro que isso tudo não terá a menor graça se ganhar o carinha de “Ultimato Bourne”.
Maquiagem
O Rick Baker é o mestre da maquiagem, já tem vários Oscars na lareira, mas nem ele é capaz de seduzir a Academia a votar num filme tão ruim quanto “Norbit”. Minha impressão é que a maior parte dos votantes sente vergonha da comédia ter sido indicada (inclusive porque ela é franca favorita a ganhar todas as Framboesas de Ouro!). Portanto, excluo completamente a possibilidade de Melhor Maquiagem ir pra “Norbit”. “Piratas do Caribe” tem o homem-polvo e tal, mas sei lá, por ser a parte 3 de uma franquia lucrativa, fica na desvantagem. Meu voto vai pra “Piaf” porque conseguiram fazer uma mulher linda e jovem como a Marion Cottilard ficar a cara da Edith Piaf (que presisa ir dos 20 aos 44 anos). Não tem nada de efeitos especiais, mas é uma maquiagem e tanto.
Edição de Som
Esta estatueta às vezes vai pros filmes mais barulhentos, às vezes pros filmes de maior qualidade, aqueles com chance de ganhar melhor filme. Por isso eu voto em “Onde os Fracos Não Têm Vez”, e também por ser um filme sem trilha sonora! Ou seja, toda a mistura de ruídos e silêncios têm que suprir uma vastidão visual (os desertos do Texas) e sonora. E funciona! Compare com a música insistente que “Sangue Negro” usa pra cobrir tudo e criar clima. Só não sei se os votantes vão se lembrar que “Fracos” não tem trilha. Se o filme mais barulhento for premiado, a disputa fica entre “Transformers” e “Ultimato Bourne”, com vantagem pro primeiro.
Efeitos Sonoros
Uma das categorias mais complicadas. Às vezes ganha o filme indicado mais barulhento, noutras ganha o vencedor do melhor filme do ano. Portanto, este ano, tudo aponta que a estatueta vá pra um desses três: “Onde os Fracos Não Têm Vez”, “Transformers”, ou “Ultimato Bourne”. Os dois últimos são barulhentos, com a diferença que “Bourne” recebeu críticas mais elogiosas. Só que quem está por trás dos sons de metal contorcido de “Transformers” é o maior perdedor do Oscar de todos os tempos, um tal de Kevin Russell. Ele já foi indicado 19 vezes nessa categoria, e perdeu as 19, tadinho. Logo, o voto de simpatia seria pra ele. Acontece que o nome dos técnicos não aparece na cédula dos votantes. Será que vão saber que ele é o autor dos ruídos de “Transformers”? Se souberem, ele leva. Se não, ganha “Fracos”. Até porque há a chance dos filmes mais ruidosos dividirem os votos.
Efeitos Visuais
Pessoalmente, não acho os efeitos de nenhum desses três indicados grande coisa. Enfim. Acho que o favoritismo está com “Transformers”, que pra mim nada mais é que um monte de ferro velho. Se “Piratas do Caribe” não fosse uma terceira parte, talvez tivesse mais chance. E por favor, né? Aqueles animais gerados por computador em “Bússola de Ouro” são bem fraquinhos.
Trilha Sonora
“Desejo e Reparação” é a trilha mais bonita, e é por ela que torço. Nem me lembro da trilha dos outros filmes, e não vi “O Caçador de Pipas”. Espero que os membros da Academia também só se lembrem dos sons de máquina de escrever de “Desejo”.
Canção Original
Geralmente, quando um só filme tem três canções indicadas, uma anula a outra. Foi o caso de “Dreamgirls” ano passado, e o fênomeno deve se repetir com “Encantada” este ano. Então sobra a música de “August Rush: O Som do Coração”, um filminho enjoado e piegas (pros críticos; o público gosta mais), e “Falling Slowly”, do belo “Once”. Imagino que fique com “Once”, que é a música mais bonita das cinco. A pedra no sapato é que a canção de “August” será cantada pelo coral negro de crianças do Harlem. Prum Oscar tão branco como este, a canção de “August” pode ganhar o voto da consciência tranquila (“Nós? Racistas? Óbvio que não!”).
Animação
Tô torcendo por “Persépolis” desde criancinha, mas vai ser difícil bater “Ratatouille”. Infelizmente, parece mais que difícil. Parece impossível.
Filme Estrangeiro
Ok, este não faço a menor idéia mesmo. O pessoal especializado aponta um leve favoritismo pro austríaco “Counterfeiters”, mas ninguém sabe explicar o porquê. Todos soam parecidos: “Counterfeiters” é sobre nazistas que falsificam dinheiro pra enfraquecer a economia dos inimigos da Alemanha durante a Segunda Guerra; “Katyn” é sobre famílias polonesas vitimadas pelo stalinismo, também durante a guerra; “Beaufort” é sobre soldados israelenses saindo do Líbano, acho que em 2000; “Mongol” é sobre a juventude do Genghis Khan; e “12” é uma refilmagem russa do clássico “Doze Homens e Uma Sentença”, atualizado pra falar de preconceito contra os chechenos. Quer dizer... Acho que “Katyn” tenha chances por ter sido dirigido pelo Andrzej Wajda (que tá com 81 anos – se ganhar leva standing ovation), e por ser anti-stalinista. Os velhinhos judeus não gostam do nazismo, decerto, mas também não nutrem nenhum amor pela ex-União Soviética.