LOLINHA PUXADORA
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LOLINHA PUXADORA


Como o marceneiro está instalando nosso primeiro armário embutido (no quarto), fomos a uma loja comprar puxadores (até porque as portas são altas, e sem puxador eu sofro, tenho quase que me pendurar na porta pra conseguir abri-la. Algum dia tiro fotos pra vocês verem). O dono da loja e uma representante comercial que estava lá entregando os produtos de uma linha específica nos convenceram, mostrando fotos e tal, que era melhor colocar os mesmos puxadores maiores tanto pras portas grandes quanto pras pequenas (o que chamam de maleiro, é isso? Não entendo absolutamente nada do assunto. Aliás, certeza absoluta que nunca comprei puxador nos meus 42 anos de vida!). A gente estava pensando em comprar puxadores maiores pras portas grandes e pequenos pras portas pequenas, sabe? Mas o pessoal realmente se empenhou pra que comprássemos os maiores pra todas as portas. Imagino que é porque sejam mais caros, lógico. Mas, pelas fotos que vimos, ficou bonito ter todos os puxadores do mesmo tamanho. (Falar tão extensamente neste tópico me lembra o Eliot Ness em Intocáveis achando incrível que sua mulher se preocupe com a cor da parede: “É surpreendente que neste mundo ainda exista gente preocupada com a cor da parede”, ou algo assim). Mas os argumentos que os vendedores usaram não foram dos melhores. Um era que, quando a gente for trocar de puxador, é muito mais fácil pedir todos de um só tamanho. Opa, como assim? Trocar de puxador?! Eu: “Trocar por quê? Eles estragam?”. Mulher: “Não, claro que não! É só que quando a gente quer dar uma repaginada no visual, aí, ao invés de trocar o armário todo, troca só os puxadores”. Putz, eu tenho cara de quem vai querer dar repaginada no armário? Expliquei pra ela que definitivamente não havia esse risco.
Mas o pior veio depois, quando o dono da loja foi buscar os puxadores que escolhemos (todos do mesmo tamanho, maiorzinhos) no depósito. A vendedora, falante e simpática, decidiu completar o raciocínio: “É como eu sempre digo pra todos os meus clientes. Colocar um puxador mixuruca num armário lindo é como uma mulher se maquiar toda e esquecer de colocar o batom! Não dá pra desprezar os detalhes, não é mesmo?”. E eu e o maridão: “Hm”.
Um homem sorridente, que estava no balcão ouvindo a conversa, já falou logo: “Gostei da comparação!” (claro que gostou, honey). Mas a vendedora deve ter percebido a nossa cara de velório e perguntou: “Vocês não acham que armário sem puxador decente é como mulher sem maquiagem?”. Aí, pô, como ela me perguntou diretamente, eu tive que falar: “É que eu não acho muito legal comparar um troço passivo, um puxador, um objeto, com uma mulher. Eu sou feminista. Não dava pra comparar armário sem puxador bom com alguma coisa, não com mulher?”. A vendendora, confusa, se pôs a explicar o seu exemplo... repetindo o mesmo exemplo.
E eu fico na dúvida: será que apontar a besteira da frase dela nessas horas ajuda? Adianta alguma coisa? Será que ela vai parar de usar o tal exemplo? Ou será que ela continuará usando o troço, agora acrescentado de “A última vez que eu disse isso uma mulher ficou brava! Mas também, era uma feminista!”?
Às vezes até dá vontade de ser uma porta.




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