Lucro que salva vidas
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Lucro que salva vidas



Rodrigo Constantino, O GLOBO

A notícia divulgada semana passada foi alvissareira para milhões de pessoas. A FDA aprovou o Truvada, pílula para ajudar a prevenir o HIV em alguns grupos de risco. Segundo a agência americana, o remédio pode reduzir em até 73% o risco de infecções causadas pelo vírus da Aids. Trata-se de mais uma importante conquista do capitalismo.
O laboratório responsável pela conquista foi o Gilead Sciences, fundado em 1987 na Califórnia. Nestes 25 anos, a empresa apresentou taxas aceleradas de crescimento, sempre em busca do lucro. Graças a isso, seu faturamento ultrapassou US$ 8 bilhões em 2011, permitindo um investimento acima de US$ 1 bilhão em pesquisa e desenvolvimento no ano.
O mercado farmacêutico é bastante competitivo. Várias empresas precisam concorrer para atender melhor as demandas dos consumidores. É este mecanismo de incentivos que garante uma incessante busca por novidades desejadas pelos pacientes de inúmeros tipos de doenças e transtornos.
Claro que há o outro lado da moeda: grandes laboratórios pressionando médicos e fazendo campanhas para estimular o uso excessivo de medicamentos. Qualquer desvio do padrão comportamental virou motivo para diagnósticos precipitados. Vejo estarrecido o dia em que a Anvisa vai nos obrigar a tomar antidepressivos. João Ubaldo Ribeiro escreveu um excelente artigo sobre o tema neste jornal há alguns dias.
Mas compare este risco de abuso com a quantidade de vidas salvas graças aos avanços medicinais, com a redução do sofrimento dos doentes, com os sorrisos que retornam aos lábios idosos quando o Viagra devolve sua virilidade. Tanto alívio e tantas vidas salvas não têm preço. Ou melhor: têm sim, e custam caro!
Eis onde entra o capitalismo. Ainda presos na era medieval, muitos criticam o lucro como motivador das pessoas. Gostariam que a humanidade fosse movida somente pelo altruísmo. São românticos bem-intencionados. De boas intenções, porém, o inferno está cheio.
Os países socialistas, que seguiram esta receita, acabaram na miséria e escravidão, praticamente sem nenhuma contribuição relevante à medicina. A despeito da propaganda, o fato é que a medicina cubana é um lixo, principalmente para os pobres (todos aqueles distantes do poder). A União Soviética colocou o Sputinik em órbita, mas faltava papel higiênico e nenhum remédio importante veio deste regime.
Enquanto isso, laboratórios capitalistas em busca do lucro fornecem mais e melhores remédios no mercado. Pfizer, Merck, Eli Lilly, Roche, Sanofi, Novartis, Bayer, Schering-Plough, Astrazeneca e tantos outros, investindo bilhões na busca de medicamentos inovadores. Há quem acenda velas para santos. Eu agradeço a existência destes laboratórios em busca de rentabilidade.
Noam Chomsky, adorado pela esquerda, possui um livro cujo título já expõe a falsa dicotomia tão disseminada entre lucro e vidas humanas. Chama-se “O Lucro ou as Pessoas?”, e é uma crítica ao “neoliberalismo”, este fantasma inexistente na América Latina, mas ao mesmo tempo culpado por todos os males da região.
Chomsky, que já defendeu a candidatura de Heloísa Helena e foi citado com forte empolgação por Hugo Chávez na ONU, é um socialista. Seria o caso de perguntar ao famoso intelectual quantas vidas o regime socialista salvou, já que sabemos quantas ele ceifou: algo na casa dos 100 milhões.
Toda a retórica de nossos “intelectuais” contra o capitalismo não serve para salvar uma única vida. Por outro lado, as dezenas de bilhões de dólares que os laboratórios capitalistas destinam para pesquisas todo ano já salvaram milhões de vidas. E vão continuar salvando mais ainda, se os socialistas não criarem obstáculos demais.
Esta é a parte difícil. O sensacionalismo dos demagogos representa grande ameaça ao progresso. Sempre pregando maiores impostos (o que reduz a quantidade de recursos disponível para novos investimentos), ou então a quebra de patentes para reduzir os preços dos medicamentos (o que gera insegurança no setor e também reduz investimentos), a esquerda costuma agir como Maquiavel às avessas: para salvar dez vidas hoje, condena cem à morte amanhã.
No próprio caso da Aids, a esquerda insistiu que era preconceito falar em “grupo de risco”. Como o vírus não liga para a sensibilidade politicamente correta, milhões de pessoas podem ter contraído a doença desnecessariamente, por falta de maior precaução. A praga do politicamente correto corrói até a ciência, que não possui ideologia.
O mundo seria um lugar muito melhor se tivesse menos hipocrisia e mais laboratórios em busca de lucro. 




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