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Macri, Venezuela e a mídia tendenciosa
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Por Max Altman, no site Opera Mundi:
Uma coisa é ter opinião, manifestar posição política e ideológica, travar a disputa de ideias.
Mas não dá para espancar a realidade. Principalmente no jornalismo em que postulados como objetividade e imparcialidade são imperativos de seu bom exercício.
Não acredito em imparcialidade de órgãos de comunicação. Sua linha editorial expressa a opinião de seus proprietários ou de sua direção.
Porém um mínimo de equilíbrio e respeito aos fatos é exigência, em especial nas reportagens.
A Folha de S. Paulo (ed. 22 dez, p. A13 mundo) escancara sua tendenciosidade no debate travado entre o presidente argentino Maurício Macri e a chanceler venezuelana, Delcy Rodriguez, por ocasião da XLIX Cúpula do Mercosul, que ocorreu ontem, 21 dezembro, no Paraguai.
Macri tomou a palavra antes e a Folha transcreve ‘ipsis literis’ o trecho em que acusa a Venezuela de atentar contra os direitos humanos: “No Mercosul não pode haver lugar para perseguição política por razões ideológicas nem privação ilegítima da liberdade por pensar diferente. Quero pedir expressamente, diante de todos os queridos presidentes do Mercosul, a pronta libertação dos presos políticos da Venezuela.”
Agora, quando se trata da Venezuela, a história é outra. Começa com a ilustração da chanceler Rodriguez exibindo uma foto. O texto legenda fala de uma suposta imagem de protesto de 2014. Como suposta? Esta foto foi tirada não pelo governo Maduro e sim por um fotógrafo da Agência France Press. Trata-se de um membro daqueles bandos de ultra-direita que levaram a violência e o caos às ruas daquele país em fevereiro de 2014, portando uma bazuca. Isto mesmo, uma bazuca, que foi uma das armas pesadas utilizadas nos atos de extrema violência praticados por aquela gente.
Noutra passagem diz o jornal: “A chanceler mostrou ainda fotos de manifestações que, segundo ela, teriam sido promovidas de maneira violenta pela oposição” Como “segundo ela”? E por que a condicional? Foram fatos reais, comprovadamente acontecidos, de que resultaram dezenas de mortos, em grande parte de responsabilidade dos bandos ultradireitistas.
“Num outro trecho, citando palavras da chanceler venezuelana “Entendo que Macri queira pedir a liberdade desses violentos. Um de seus primeiros anúncios foi o de libertar responsáveis por tortura, desaparecimento e assassinato na ditadura argentina”, a repórter Mariana Carneira completa de próprio punho: “citando um indulto que nunca aconteceu”.
A chanceler em momento algum mencionou tal indulto. Referiu-se a pronunciamentos de Macri durante a campanha e anteriormente, corroborados por um rumoroso editorial do jornal conservador La Nación no dia seguinte das eleições em que pedia uma espécie de indulto aos responsáveis pelos crimes da ditadura e que mereceu forte rejeição dos próprios jornalistas daquele órgão e dos defensores dos direitos humanos da Argentina.
Macri pediu a libertação imediata dos presos políticos na Venezuela. E o que fazer com os familiares das dezenas de vítimas fatais e das centenas de feridos em decorrência dos atos de violência desatados sob a liderança desses presos políticos? Os familiares gritam não à impunidade e clamam por justiça.
Como defendo intransigentemente a objetividade, convido os leitores a ouvir a manifestação do presidente Macri e a seguir a da chanceler Delcy Rodriguez [aqui].
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