Por Altamiro BorgesApós sofrer agressões verbais em três locais - um hospital e dois restaurantes -, o ex-ministro Guido Mantega, da Fazenda, localizou e processou dois empresários caluniadores. A atitude foi corajosa e acertada, servindo como antídoto à escalada fascista que se alastrou em alguns bairros "nobres" de São Paulo. Temendo as consequências penais de seus gestos odiosos, porém, os valentões se acovardaram e pediram desculpas ao economista. Este, por sua vez, em mais um ato de civilidade, aceitou o pedido e suspendeu o processo na Justiça. Se a primeira atitude foi correta, tendo a discordar da segunda.
A informação sobre a escaramuça foi antecipada por Mônica Bergamo, na Folha de quinta-feira (9):
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Os dois empresários que gritaram palavrões, em junho, para o ex-ministro Guido Mantega, dizendo que ele era 'ladrão', 'palhaço' e 'sem-vergonha', acabam de se retratar. Diante de queixa-crime por injúria, calúnia e difamação, eles procuraram o advogado do ex-ministro, José Roberto Batochio, e propuseram um acordo. Guido Mantega assinou ontem os dois pedidos de desculpas, concedendo aos empresários seu 'perdão', exigência da lei para que a ação judicial seja suspensa. Marcelo Melsohn disse na retratação que estava no restaurante Trio, na Vila Olímpia, no dia 28 de junho, quando 'irrefletidamente' ofendeu o ex-ministro. Afirma estar arrependido e diz reconhecer que Mantega é 'probo, honesto e digno'. João Locoselli afirma que nada sabe sobre o economista que 'possa desaboná-lo em sua vida pública'.
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Alguns analistas sérios aplaudiram a atitude do ex-ministro. O jornalista Paulo Nogueira, do blog Diário do Centro do Mundo, avalia que o episódio é exemplar. "Mantega deu uma lição de como tratar com analfabetos políticos que pensam que têm o direito de insultar alguém sem consequências. Ele foi injustiçado. Dois imbecis xingaram-no num restaurante. Em vez de assistir calado à agressão, e ver impotente as redes sociais espalharem o ódio de que foi vítima, buscou a Justiça. Conseguiu o nome dos meliantes, contratou um bom advogado e exigiu satisfações... A patética retratação dos ofensores - João Locoselli e Marcelo Melsohn - certamente levará outros desequilibrados a pensar duas, três vezes antes de importunarem pessoas que estão em seu canto, sossegadas".
Sou mais pessimista do que Paulo Nogueira. Não acredito que a "patética retratação" dos meliantes e o perdão concedido pelo ex-ministro abrandem a escalada de ódio que excita parcela da elite nativa. Acho, inclusive, que a suspensão da ação judicial pode até incentivar os velhos e novos fascistas, que se sentirão mais impunes. Enquanto as autoridades públicas - o recado direto é para o inepto ministro da Justiça - ficarem passivas diante desta onda de agressões, ela só crescerá e ficara ainda mais agressiva. Um episódio recente, relatado no Jornal GGN, mostra a gravidade do atual momento.
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Estudiosa do Bolsa Família denuncia agressão de vizinho anti-petista
Por Cíntia Alves, no Jornal GGN - 12/09/2015
Desde que a presidente Dilma Rousseff foi reeleita, o clima de terceiro turno em algumas capitais do país foi levado ao extremo. Ministros e ex-ministros foram e são hostilizados nas ruas; sedes do PT, atacadas, e militantes ou simpatizantes da legenda são humilhados, muitas vezes, sem reação. A socióloga Walquiria Leão Rego, autora do livro “Vozes do Bolsa Família”, dentre outros títulos, se encaixa nesta última categoria. Até que a segurança pessoal de sua filha foi colocada em risco e ela decidiu recorrer à polícia.
Na tarde desta sexta-feira (11), enquanto aguardava atendimento no 23º Distrito Policial de Perdizes, na capital paulista, Walquiria relatou ao GGN o drama que vive com frequência há mais de um ano, por causa de um morador do apartamento um andar abaixo ao seu, no bairro nobre de São Paulo - região onde ocorrem os famosos panelaços contra o governo.
Segundo a socióloga, o vizinho nunca escondeu sua aversão à gestão petista. Mas há algumas semanas, ele "deixou de se contentar em apenas bater panela” e partiu para a provocação. Nas últimas passagens de Dilma na televisão, “ele pegava um pedaço de pau e batia no teto, colocava a cabeça para fora da janela e gritava palavrões.”
No protesto agendado por grupos contrários à permanência de Dilma no poder, que ocorreu em 16 de agosto, o morador destemperado agrediu verbalmente o marido de Walquíria. “Ele (o vizinho) e sua mulher estavam aguardando o elevador, e quando meu marido saiu, passou a ser ofendido. Ele gritava que meu marido era corrupto, ladrão, e ‘Fora PT’. Tudo isso foi gravado pelas câmeras internas, mas o porteiro me informou que preciso de um técnico para recuperar as imagens, que não foram arquivadas.”
Segundo Walquiria, seu marido saiu do elevador e, na medida em que o vizinho continuava gritando, apenas respondeu: “O senhor me respeite, que eu não falo com o senhor.” E ouviu em retorno: “Eu não respeito petista, ladrão, corrupto.”
Após o episódio, a síndica do condomínio foi procurada. Walquiria ficou em dúvida sobre fazer um Boletim de Ocorrência, mas rapidamente foi dissuadida, “porque não ia pegar bem para o prédio envolver a polícia em briga de vizinhos.” Ela, então, tentou conversar com a esposa do agressor, “na expectativa dela dizer que ele tem problemas mentais que justificam aquela postura.” Mas a esposa não quis conversa.
Nesta sexta-feira (11), a filha de Walquiria, uma historiadora na casa dos 40, mãe de um menino, estacionava o carro próximo à portaria do prédio da mãe - conhecida pelo trabalho como pesquisadora da Unicamp e pelo livro do Bolsa Família - quando o vizinho anti-petista surgiu.
“Minha filha ficou olhando, pois já sabia como ele é e tinha medo dele. Ele não gostou e ficou perguntado ‘Tá olhando o quê? Tá olhando o quê, filha da puta?’, e fez gestos obscenos com o dedo da mão. Minha filha decidiu pegar o celular e disse para ele repetir o gesto, que ela iria gravar. Foi quando ele entrou no carro e deu ré, jogando o carro na direção dela. Ela chegou em casa me relatando isso aos prantos", disse Walquíria.
As imagens, mais uma vez, foram registradas pelas câmaras de segurança do condomínio. O relato do responsável pela portaria à socióloga dá conta de que "o vizinho acelerou tanto que se houvesse crianças no trajeto que ele fez para deixar o prédio, elas seriam atropeladas". "Ele (o porteiro) já presenciou tantas cenas desse vizinho que tenho certeza que deve estar com medo de dizer algo contra ele, agora”, comentou.
Walquiria, que ironicamente já deu muitas entrevistas abordando o preconceito e ataques sem fundamento a programas criados pelo PT para ajudar a parcela mais pobre da população, disse que depois da série de insultos à família e à investida perigosa do vizinho contra a filha, decidiu fazer um B.O.
“Mas a gente vem para a delegacia com aquela cara que você pode imaginar, de petista que vai ouvir de delegado ou outro agente que foi bem feito, que a gente tem que sofrer mesmo. É o que acontece hoje. A mídia criou um ambiente de ódio semelhante ao que fizeram no nazismo. As pessoas estão fora de controle e acham que podem agredir ou até matar um petista sem que ninguém faça nada. E se ninguém do nosso lado fizer nada, é isso o que vai acontecer”, avaliou.
Ela ainda contou que o vizinho foi avisado sobre a iniciativa de Walquiria e se dirigiu à delegacia para justificar sua postura. "Ele disse que tem problemas com os barulhos que meus netos fazem no apartamento, o que é uma mentira, porque eu só tenho um, e ele sequer mora comigo."
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