Marchar faz bem - MARCELO RUBENS PAIVA
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Marchar faz bem - MARCELO RUBENS PAIVA


O ESTADÃO - 18/06


Cuidado agora com os oportunistas. Nada de culto à personalidade, herança da velha política.

Esqueça a musa, a menina da UNE, ou o menino do MPL.

A nova forma de se organizar tem por característica a negação de liderança.

Acorda: o movimento é político. Mas o discurso que permeia é o de um movimento não-partidário.

A grande novidade do movimento que parou o Brasil, surpreende o mundo, e que tem gerado espanto na também velha imprensa, é que não há uma clara liderança política, nem objetivos específicos e plausíveis.

A bandeira não é uma só.

A ideia do movimento é não haver uma liderança que direcione para uma rota só.

Está todo mundo descontente, e essa é a razão que trouxe todos às passeatas.

Mais do que sair com a conquista de uma pauta precisa, a grande vitória política do movimento é que cada um vai às ruas representar a si mesmo, com diferentes anseios e demandas.

Sem se sentir representado por um outro, como na atual e questionável democracia, o que o movimento está fazendo é o exercício do ideal da democracia deliberativa.

Cada um vai à praça pública colocar as suas demandas pessoais em público. E essa é a beleza do movimento.

É como se a gente tivesse vendo acontecer a tal razão comunicativa habermasiana.

É toda a ideia do OCCUPY, que só agora se populariza no Brasil.

O gigante acordou?

Depois de toda a promessa brasileira, sexta ou sétima maior economia do mundo, de ampla diminuição da desigualdade social, todo mundo percebeu que a vida não mudou tanto assim, que a riqueza escoa pelos ralos da corrupção e ineficácia, que o poder de compra está muito aquém do valor das coisas, e consequentemente a qualidade de vida não correspondeu às expectativas de um gigante adormecido.

É uma onda se formando, um novo formato de se ver/ter consciência como agente politico. Não sabemos ainda aonde isso vai dar, e nem se são possíveis conquistas políticas e sociais verdadeiras sem liderança.

O que não faz com que o movimento seja menos legítimo, ou que tenha seu mérito diminuído. O fato comum é que está ocorrendo em muitos países do mundo contemporâneo e deve assim ser apreciado.

Turquia e Brasil: movimentos diferentes, com muitas coisa em comum.

As demandas são outras, mas o formato de organização (e do protesto) é o mesmo.

Não tente entender pela (i)lógica do jogo político partidário.

Nem pelos manuais da velha esquerda.

Ninguém mais quer ser liderado.

Esqueça o pragmatismo. Marchar faz bem.





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