Por Altamiro BorgesA prisão de José Maria Marin, ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), e de mais seis dirigentes da Fifa nesta quarta-feira (27), na Suíça, deve ter preocupado os chefões da Rede Globo. Os cartolas são acusados de envolvimento num bilionário esquema de corrupção, que envolve fraude, extorsão, lavagem de dinheiro e “acordos de transmissão televisiva”. Segundo investigação do Departamento de Justiça dos EUA, que solicitou à polícia suíça a “operação surpresa” de detenção contra os gatunos, a máfia do futebol operava há 24 anos e desviou mais de US$ 100 bilhões.
Além do cartola brasileiro, foram detidos Jeffrey Webb, Eduardo Li, Julio Rocha, Costas Takkas, Eugenio Figueredo e Rafael Esquivel. Eles estavam hospedados num luxuoso hotel em Zurique para participar do congresso da Fifa, que elegerá a nova direção da entidade máxima do futebol internacional na próxima sexta-feira. “O ex-presidente da CBF José Maria Marin, que atualmente é vice-presidente da entidade, foi escoltado por autoridades suíças na saída do hotel. Não há a confirmação para onde os detidos foram encaminhados”, relata o correspondente da Folha.
Em nota oficial, o governo da Suíça informou que as contas bancárias dos acusados foram bloqueadas. Elas eram usadas para receber subornos. A polícia local também recolheu documentos na sede da Fifa, em Zurique, em uma apuração relacionada à escolha das sedes das Copas de 2018 (Rússia) e 2022 (Catar). Ainda de acordo com as autoridades, além dos sete detidos, outros sete dirigentes da Fifa deverão ser acusados pelo envolvimento no escândalo – entre eles, os dois executivos responsáveis pelo marketing e transmissão televisiva – Jack Warner e Nicolás Leoz.
Na mesma operação, o Departamento de Justiça dos EUA confirmou o envolvimento na maracutaia de “uma grande marca esportiva americana” – a Nike, que é fornecedora da seleção brasileira desde os anos 1990. Em nota oficial, ele reafirma que o esquema envolvia “pagamento de propinas” em contratos de marketing e transmissão de jogos. Outro brasileiro é mencionado: José Hawilla, dono do grupo Traffic. Ele inclusive já teria confessado o seu envolvimento nos contratos da CBF e iniciado tratativas para reduzir a sua possível pena, segundo relatos da imprensa estadunidense. Como lembra o blogueiro Paulo Henrique Amorim, “J. Hawilla é proprietário da TV TEM, afiliada à TV Globo”.
O autor do blog “Conversa Afiada” não vacila: “Globo vai em cana com o Marin?”. Ele lembra que até hoje o império global não mostrou o comprovante do pagamento dos tributos referentes à transmissão dos jogos da Copa. “A história do DARF é por causa disso aí: ‘transmissão televisiva’… Claro que no Brasil os filhos do Roberto Marinho – como na Vara do Moro – só seriam incriminados depois de mortos. Mas, depois do Marin ir em cana, os filhos do Roberto Marinho, que não têm nome próprio,– ficarão como o Maluf, que não pode botar um dedinho fora do território nacional. Mas, aqui, aqui eles são inimputáveis! Viva o Brasil da CBF, não é isso Galvão?”, ironiza Paulo Henrique Amorim.
De fato, a prisão de José Maria Marin e de outros mafiosos da Fifa vai respingar na Rede Globo. A emissora sempre fez fortunas com os sinistros esquemas de transmissões do futebol. Em dezembro último, o jornalista Daniel Castro, do site “Notícias da TV”, mostrou que a “Copa do Mundo salvou a Globo” no ano passado:
“A Globo vai fechar 2014 com um crescimento de 8% nas vendas publicitárias e um faturamento líquido de R$ 12,4 bilhões. Isso quer dizer que ela vai arrecadar só com propaganda o equivalente a mais de seis Records (R$ 2 bilhões) e 12 SBTs de São Paulo (R$ 1,1 bilhão), segundo estimativas confiáveis do mercado... A Globo vai faturar mais por causa da Copa. O evento esportivo concentrou verbas na emissora, principalmente no primeiro semestre, e compensou a queda nos investimentos publicitários na segunda metade do ano”.
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Em tempo: Será que o cambaleante Aécio Neves – que os meninos da marcha golpista apelidaram de “arregão” – vai se solidarizar com o grande amigo José Maria Marin, que o apoiou de forma efusiva na frustrada disputa presidencial de outubro passado? Ou ele é mesmo um “arregão”?
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