Mas no futuro... - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
Geral

Mas no futuro... - CARLOS ALBERTO SARDENBERG


O GLOBO - 24/10

O Brasil se atira no petróleo, puro carbono, mas que ainda se trata da mais eficiente e mais barata, relativamente, fonte de energia. Até quando?



Se no Brasil o governo Dilma deposita enormes expectativas no petróleo, na Inglaterra o governo de David Cameron aposta suas fichas na energia nuclear. A presidente, seus ministros e correligionários definiram a licitação de Libra como o início de uma nova riqueza, o petróleo sendo transformado em valores como educação e saúde, mas também gerando uma nova indústria naval e petrolífera.

O primeiro-ministro Cameron anunciou como um ?novo amanhecer? o projeto de construção de uma usina nuclear ? a primeira em 30 anos ?, o caminho para garantir o fornecimento de energia elétrica, hoje em risco, e a preços menores do que os atuais, muito elevados.

Nos dois casos, os empreendimentos locais contam com forte participação estrangeira. Na Inglaterra, a usina será construída pela estatal francesa EDF, em associação com outra estatal, a Chinese General Nuclear Power Group. Sim, outra chinesa. No Brasil, a custosa e difícil exploração do campo de Libra será tocada por uma francesa, a Total, uma anglo-holandesa, a Shell, e mais duas estatais chinesas, em consórcio com a Petrobras.

Os dois governos garantem que, apesar da participação majoritária de companhias estrangeiras, haverá muito conteúdo local. Cameron diz que empresas inglesas, e seus trabalhadores, fornecerão boa parte dos componentes e serviços para a usina que, se tudo der certo, será a primeira de uma nova série. (A Inglaterra foi o primeiro país a colocar em funcionamento uma usina nuclear civil ? mas não se constrói uma nova há mais de 30 anos). No Brasil, a presidente Dilma parece bem mais ambiciosa. O petróleo do pré-sal vai ?criar? uma nova industria local, além de garantir boas escolas e hospitais.

Nos dois casos, os governos se baseiam em contas e estimativas que vão longe, para além de 35 anos, mas parecem muito seguros. Na Inglaterra, Cameron detalha números de criação de empregos ? 25 mil só na obra ? e de tarifas. No Brasil, o governo detalha, por exemplo, o dinheiro que será destinado à educação, via royalties: nada menos de R$ 638 bilhões ao longo de 35 anos.

Como se percebe, energia é uma preocupação global e será atendida globalmente, por associações de empresas de diversos países, estatais e particulares. E parece que os chineses estão no amanhecer de muita gente. De fornecedora de produtos baratos, a China vai ocupando o papel de grande potência, já fortemente atuante em energia, de qualquer tipo. Suas companhias estão no petróleo brasileiro (e latino-americano), forçam a entrada na energia nuclear na Inglaterra, onde pretendem ganhar o certificado que abra as portas da Europa, são dominantes no mercado europeu e global de painéis para energia solar, dominam a fabricação de turbinas para captação da energia dos ventos, sabem fazer hidrelétricas há muito tempo, e por aí vão.

Um fato do mundo de hoje e do futuro: a atuação global dos chineses ? que alguns já descrevem como o novo imperialismo. Será?

A verdade é que isso depende de muitos arranjos econômicos e políticos ainda em andamento no mundo todo. E de como cada país se colocará.

Na Inglaterra, por exemplo, há um grande debate estratégico: será correto retomar as usinas nucleares? Sim, diz Cameron, para manter a Inglaterra como um dos países ?mais verdes do mundo?. As regras ambientais por lá são tão rigorosas que, no momento, criam dois problemas graves: falta de investimento e tarifas caras. Cameron acha que pode destravar isso com a volta da energia gerada por usinas nucleares, claro, consideradas superlimpas e seguras, nas versões mais modernas.

Mas o debate segue ? por que não as turbinas eólicas no mar? ? e tem de passar pelos órgãos de controle europeu, o que indica que ainda há muita conversa pela frente.

Já no Brasil, o governo Dilma se atira no petróleo, puro carbono, mas que ainda se trata da mais eficiente e mais barata, relativamente, fonte de energia. Até quando? Sim, a pergunta vale porque o mundo todo está pesquisando e trabalhando sobre formas variadas de geração de energia. Sem contar as dificuldades tecnológicas da exploração do pré-sal.

Acrescentem aí o componente geopolítico e mais as surpresas que a historia das inovações sempre apresenta, e se verá como fica difícil estimar preços, segurança de fornecimento e qualidade ambiental quando se pensa na energia daqui a tantos anos.

Claro que os governos devem se ocupar de lançar as bases para o futuro. Ocorre que muitos, ao enfrentarem dificuldades na gestão do presente, se atiram para o futuro, que aceita qualquer projeção.

Para dar só dois exemplos. Na Inglaterra: as tarifas de energia elétrica estão em alta neste mês e subindo mais que a inflação. E Cameron promete preços menores lá na frente. No Brasil, já se gasta muito dinheiro na educação, muito mesmo, e os resultados são ruins. Ah! Mas quando vier o dinheiro do pré-sal...




- Boa Opção - Editorial O Globo
O GLOBO - 25/11 A matriz energética brasileira é uma das mais limpas do planeta. Considerando-se apenas a geração de eletricidade, é invejável, pela considerável participação das fontes renováveis, como as hidrelétricas, por exemplo. No entanto,...

- Petróleo E A Opção Do País - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 03/11 A presidente da Petrobrás, Graça Foster (foto), toca em pontos de estratégica importância na entrevista que está publicada no Estadão de hoje (páginas B1 e B3), concedida a Irany Teresa, Sabrina Valle e Wellington Bahnemann....

- Elétrica
Governo divulga regras para leilão de energia elétrica marcado para marçoO Ministério de Minas e Energia divulgou hoje (11) as diretrizes para o leilão de compra de energia elétrica que será realizado no dia 31 de março. Este será o primeiro...

- Correio Dos Leitores: Energia Nuclear
«(...)A energia nuclear causa um problema insolúvel, os resíduos. Ninguém sabe o que lhes fazer. O seu tempo de vida, i.e. o perigo que são para todos os seres vivos, alonga-se por milhares de anos... Vamos criar um problema às geracões futuras...

- Correio Dos Leitores: Interditos (2)
"Estranha esta posição de tabu relativamente à energia nuclear, principalmente, vinda da parte de um progressista. Se pensarmos que, historicamente, estamos a viver as primeiras perturbações sintomáticas do fim de um ciclo que ainda se arrastará...



Geral








.