MEMÓRIA E CULPA NUM ÓTIMO DOCUMENTÁRIO
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MEMÓRIA E CULPA NUM ÓTIMO DOCUMENTÁRIO


Capturing the Friedmans (2003) é um extraordinário documentário, uma aula de como contar uma história, sobre memória, culpa, e perdão. É, no fundo, a história de uma família judia de classe média alta, os Friedman, que vê sua vida ruir quando o pai, um professor de computação e piano, é acusado de estuprar seus alunos. Ao invés de narrar todos os fatos de uma só vez e fazer com que a gente condene e odeie esse pai, o documentário decide pôr tudo em xeque. Primeiro que o que mais vemos são cenas de vídeo filmadas pela própria família, ao longo dos anos, mostrando o que aparenta ser um ótimo relacionamento entre um pai e seus três filhos homens. Mas o que aconteceu foi o seguinte: em 1987, uma década antes da internet, a polícia estava investigando pornografia infantil. Friedman recebeu uma revista pornô holandesa (o que já seria crime), mas, como não mandou nada de volta ao remetente, a polícia decidiu agir. Ela enviou um cartão fingindo ser da Holanda, dizendo: “E aí? Não vai me mandar nada?”. Friedman mordeu a isca e mandou uma outra revista, junto com um cartão escrito “Aproveite”. Assim, a polícia obteve um mandado de busca para revistar sua casa, e lá encontrou uma pilha de publicações com pornografia infantil. Decidiu trazer uma outra equipe para o caso, pra analisar se Friedman teria cometido algum abuso sexual contra os muitos meninos que eram seus alunos. Logo o negócio se transformou num escândalo, e o nome do filho do meio, Jesse, que tinha apenas 18 anos na época, foi citado. Uma jornalista investigativa veio cobrir o caso, e não acreditou nas acusações. Para ela, não era possível que tantos meninos houvessem sido estuprados durante tantos anos, sem nenhum indício físico. Como que um garoto, após ser sodomizado por dois adultos, podia ser buscado pelos seus pais sem manifestar nenhum distúrbio até que a polícia aparecesse? O documentário mostra alguns depoimentos de ex-alunos que juram que nada aconteceu, e que não crêem nas acusações contra os Friedman. Mostra também uma entrevista com um investigador (não desse caso), que aponta que é preciso tomar muito cuidado ao entrevistar crianças, porque elas querem agradar. Elas sabem o que os adultos querem ouvir e vão concordar. Por isso, segundo esse detetive, é importante conduzir uma entrevista com uma criança nas linhas de “E o que aconteceu em seguida?”, ao invés de “E então ele te tocou?”. Mas as entrevistas no caso Friedman foram todas do segundo tipo e, com as respostas, formou-se uma forte união entre a comunidade, que passou a dizer que todos os alunos haviam sofrido abuso (os que não admitiam estariam reprimindo a verdade para si próprios).
Mas não é nenhuma Escola Base. Friedman era mesmo um pedófilo. Mais adiante, numa carta para a jornalista, ele admitiu que, quando tinha 13 anos, fez sexo com seu irmão de 8 (o irmão nega e diz não ter nenhuma lembrança disso). Friedman também revelou ter estuprado dois meninos –- não seus alunos, e não em sua casa, mas na casa de praia. Mais tarde, quando o advogado de defesa de Jesse vai conversar com Friedman na cadeia, Friedman pede para mudar de sala porque havia um menininho de cinco anos visitando um detento, e isso estava deixando-o excitado (o advogado acrescenta ter ficado chocado com a declaração e precisado de quinze minutos para se recompor). Bom, Friedman foi condenado a 20 anos de prisão. E não importa se ele não estuprou 40, "só" 2 meninos -– obviamente mereceu a pena. Mas o que Jesse tinha a ver com isso?
Ao ver que tudo estava perdido, o advogado de defesa de Jesse tentou pintar Friedman como monstro e seu filho do meio como vítima. Ele também teria sido estuprado (Jesse nega e alega que foi apenas uma estratégia de defesa). Não funcionou, e o adolescente foi condenado a 18 anos. Na prisão, Friedman se suicidou, por causa da culpa em relação ao seu filho, mas também para deixar a ele uma apólice de seguro que tinha, no valor de 250 mil dólares (que foi gasto pagando os advogados). Jesse saiu da prisão treze anos depois, mais ou menos quando o doc foi filmado. É fascinante ver como trabalha a consciência de cada um. O filho mais novo não quis participar do filme. O mais velho não quer acreditar nem que seu pai tenha sido um pedófilo, e culpa a mãe por tudo. A mãe, que se divorciou do pai e casou-se de novo, segue sua vida. E Jesse tenta reconstruir a sua.
Veja o trailer e o filme. Nessas horas de grande comoção no Brasil pela morte de Isabella, vale a pena refletir na nossa rapidez em apontar culpados.




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