Merkel, o protecionismo e a hipocrisia
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Merkel, o protecionismo e a hipocrisia


Por Altamiro Borges

A chanceler Angela Merkel gosta de posar de durona neoliberal, uma nova versão da “dama de ferro” Margareth Thatcher – que o digam os gregos e outros povos europeus espezinhados pela Alemanha na atual crise econômica. Na visita ao seu país da presidenta Dilma Rousseff, ela respondeu com ironia às críticas do governo brasileiro à guerra cambial desencadeada pelas potências capitalistas.

“A presidente Dilma falou num tsunami de liquidez e manifestou a sua preocupação quando olha para os Estados Unidos e para a União Européia. Por outro lado, nós olhamos para as medidas protecionistas unilaterais e penso, portanto, que a confiança é o caminho que devemos trilhar para sair da crise”, atacou a direitista alemã.

Arrogância imperial e falsidade

Sua réplica, porém, revela pura arrogância imperial e hipocrisia. A Alemanha é um dos países que mais protegem a sua economia e não tem moral para criticar as medidas, por acaso bastante tímidas, adotadas pelo Brasil para conter a atual enxurrada de euros e dólares que valorizam artificialmente o real – prejudicando as exportações e incentivando as importações.

Como explicou no jornal Valor o presidente da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), Robson Braga de Andrade, a retórica dos chamados países desenvolvidos contra qualquer medida de proteção nas economias mais frágeis é pura falsidade. Através da manipulação da taxa de câmbio e de várias barreiras comerciais, estes países são exatamente os mais protecionistas.

Arsenal de medidas de proteção à economia

Ele cita reportagem da revista The Economist que aponta o real como a quarta moeda mais sobrevalorizada do mundo em 2011, o que gera uma invasão de produtos estrangeiros e torna mais cara a exportação brasileira – penalizando a produção nacional e a geração de emprego e renda. Além da política cambial, vários países adotam medidas restritivas também no comércio.

“O Brasil praticamente só faz uso de tarifas de importação para se proteger, com teto em 35%. Enquanto isso, os outros usam um arsenal de medidas para blindar seus mercados. Os Estados Unidos são exemplo de protecionismo. Para preservar a sua indústria do aço, baixaram uma série de medidas de defesa comercial. No caso das salvaguardas, impuseram, de forma preventiva, barreira ao produto importado sem que fosse provado o dano à atividade doméstica”.

Déficit de US$ 92 bilhões

“Se o Brasil é tão protecionista como apregoam vários analistas, que não cansam de criticar o empresariado da indústria como defensor da ultrapassada reserva de mercado, como explicar o déficit de US$ 92 bilhões na balança comercial de bens manufaturados em 2011?”, conclui Robson Braga em seu artigo no jornal Valor.

Apesar destas constatações, o presidente da CNI não propõe nenhuma medida mais contundente de proteção à indústria nacional – como a adoção do controle do câmbio e do fluxo de capital. Ele prefere pregar a “flexibilização das leis trabalhistas”. Coisa típica da mentalidade burguesa. Mesmo assim, os seus argumentos servem para desmascarar a hipocrisia de Angela Merkel.

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