Por Thiago Cassis, no site Vermelho:A partir do final do ano passado, os torcedores pelo Brasil voltaram a erguer os punhos em torno de pautas em comum. A exemplo da Argentina, onde o futebol foi um elemento para o avanço da Lei de Medios, a campanha “Jogo 10 da noite, não!”, do coletivo “Futebol, mídia e democracia”, do Barão de Itararé, teve rápida adesão nas redes e nos estádios, buscando através do futebol, escancarar o controle que a Globo exerce sobre o esporte dos brasileiros.
Obviamente a questão do horário, que no caso dos jogos às 22 horas exclui quem precisa de transporte público para atender interessas da grade de programação da emissora carioca, não é o único problema. Ingressos caros, cotas muito discrepantes entre as equipes, campeonatos regionais ignorados pela TV o que faz com que os clubes de fora do eixo Sul e Sudeste não consigam verba para estruturar suas equipes e acabem ficando de fora das principais divisões do futebol brasileiro, enfim, a lista é longa...
Mas o fato é que com quase 10 mil seguidores no Facebook, a campanha “Jogo 10 da noite, não!”, acabou apontando o caminho para novos protestos que neste início de ano se tornam mais abrangentes, mas que também tem a Globo como um dos principais alvos.
Faixa contra o horário do jogo às 22 horas exibida em uma partida no ano passado no Rio Grande do SulA Gaviões da Fiel, maior organizada do Corinthians, após ser punida pelo uso de sinalizadores na final da última Copa SP de Juniores, promove uma série de ações contra a Federação Paulista de Futebol, a CBF, contra Fernando Capez (PSDB), acusado de desviar verba das merendas das escolas públicas de São Paulo e um dos maiores inimigos das organizadas no estado e, assim como a campanha “Jogo 10 da noite, não!”, ataca também a Rede Globo.
Além de protestos em frente à sede da FPF, a maior organizada do estado também tem conseguido burlar a censura vigente nos estádios paulistas e abrir faixas com mensagens atacando seus principais alvos.
Historicamente as arquibancadas de futebol deram espaço, em diferentes lugares e momentos, a manifestações de todas as formas. Das faixas pela “anistia ampla, geral e irrestrita” da própria Gaviões da Fiel no final dos 70 até os recentes protestos em relação ao preço do ingresso na Inglaterra e na Alemanha, onde os torcedores abandonam o jogo todos juntos em um determinado momento da partida.
Sendo assim, não é necessariamente uma novidade que o futebol seja novamente o lugar onde bandeiras políticas e democráticas sejam empunhadas independente dos clubes envolvidos. Isso para não dizer quando os protestos chegam dentro das quatro linhas, como o caso da famosa Democracia Corintiana, liderada por Sócrates, que lutava pela redemocratização do país no começo dos anos 80.
O que fica evidente é a força do futebol como elemento que contribui na conscientização dos brasileiros em relação a, por exemplo, a democratização dos veículos de comunicação e para além disso, demonstra o potencial do ambiente do futebol para propagar ideias que lutem por justiça, democracia e que, de alguma forma, faça frente ao monopólio comunicacional que se apoderou da TV brasileira.
* Thiago Cassis é jornalista, assessor de comunicação da UJS, colaborador do Vermelho e editor do blog Pelota de Trapo.
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