MINHA HERESIA DO DIA: ISRAEL NUM OUTRO CONTINENTE
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MINHA HERESIA DO DIA: ISRAEL NUM OUTRO CONTINENTE


Nos comentários do post em que dei minha opinião sobre os ataques de Israel em Gaza, surgiu uma outra discussão: por que o estado de Israel tem que ser necessariamente no Oriente Médio? A Carla, uma judia que mora na Alemanha, escreveu:
Talvez pra quem não seja religioso seja mais difícil entender por que Israel não poderia ser no Texas, por exemplo, ou na Europa, como foi dito. Os judeus têm uma ligação religiosa e bíblica com a terra de Israel (não que isso justifique guerras, ocupações, ou coisas do tipo), mas eu me sinto desrespeitada quando leio isso. É como se eu saísse dizendo que todos os católicos do Brasil devessem ser enviados pro Vaticano ou pra Sibéria”.
Eu sei que deve ser ofensivo pros judeus, pros muçulmanos e pros cristãos, ouvir de alguém que não é religioso (meu caso) questionar a relevância de Jerusalém como local sagrado para determinar a instalação de um estado. Sei da ligação religiosa e bíblica das três religiões com o local. Mas, sinceramente, se Israel se mudasse pra um outro lugar, e lá pudesse viver em paz, sem homens-bombas, sem ter que gastar todo seu orçamento em armas, isso não seria mais importante que insistir em ficar isolado no Oriente Médio só porque as origens da sua religião saíram daquele solo há 3 mil anos? Essas ligações históricas e religiosas realmente precisam ficar acima de todo o resto?
Não concordo com a sua comparação. Os católicos no Brasil não estão em conflito com outras nações e religiões há décadas, como é o caso de Israel. E seria bem complicado relocar 200 milhões de pessoas e colocá-las num outro país (e por que as opções brasileiras seriam o Vaticano e, pasme, a Sibéria? Alemanha parece ser um lugar bem melhor. Tanto que você mora aí, não?). Talvez mudar uma população de 7,2 milhões seria mais fácil.
Eu estou falando aqui de alegre, claro. Não há nenhuma oferta da Alemanha ou do Texas pra ceder parte de seu território pra Israel. Nunca li nada sugerindo seriamente que Israel instalasse seu estado num outro continente. Mas me parece que a decisão de 1948 de criar o estado israelense em um campo minado foi arbitrária e autoritária, e veio dos judeus e de países ocidentais, que desprezaram a opinião dos moradores do local. Claro que Israel queria Jerusálem (todas as três religiões querem), mas, na época, não poderia ser negociado um lugar mais tranquilo? Os conflitos eram bem previsíveis, convenhamos.
Depois da Segunda Guerra houve toda uma nova geografia política. Países foram repartidos. Cada uma das potências ficou com a sua parte do espólio. Por que um novo país, Israel, não foi construído num lugar em que não estivesse cercado de inimigos? Nunca havia pensado no Texas (essa foi piadinha de uma leitora, se bem que praticamente a metade dos judeus no mundo atualmente vive nos EUA), mas, como a Alemanha nazista foi a maior algoz dos judeus, seria justo que ela cedesse um pedaço do seu território para acolher um novo país, Israel. Será que isso sequer foi cogitado? Também não podemos esquecer, lógico, que, assim como foi prevista a instalação de Israel no Oriente Médio, também foi a da Palestina. Foi na mesma época! Por que Israel existe desde 1948 e o estado palestino não existe até hoje? Sem falar que Israel começou com o pé errado ao declarar sua independência quando a divisão de terras ainda estava sendo negociada. Harry Truman, o presidente americano no período e um dos principais articuladores do acordo (que nunca foi cumprido), admitiu que essa divisão arbitrária nunca foi boa para os palestinos, mas, como ele tinha mais judeus sionistas entre seus eleitores que árabes, ficou por isso mesmo.
E nem de longe a criação de um estado próprio para Israel era unanimidade entre os próprios judeus. Einstein, por exemplo, declarou: “Penso que seria muito mais razoável a concórdia com os árabes e a coexistência pacífica com eles do que a criação de um estado judaico”. E o psicanalista Erich Fromm disse: “As pretensões dos judeus à Terra de Israel não é legítima. Se todas as nações reivindicassem subitamente os territórios dos seus antepassados de dois mil anos atrás, o mundo tornar-se-ia um manicômio” (estas citações foram tiradas deste excelente site com português de Portugal).
Eu não sou contra um estado israelense, muito pelo contrário. Acho que ele tem tanto direito de existir quanto um estado palestino. Mas ambos os lados precisam aprender a conviver em paz. “Conviver em paz” não é apenas não criar homens-bombas. É também respeitar acordos, não começar uma guerra como a dos Seis Dias em 1967, ou esta de agora, não anexar novos territórios, e indenizar quem foi expulso do local. E não estou me referindo aos colonos judeus, mas aos cerca de 4 milhões de refugiados palestinos. E que tal se algum país rico tivesse sentimento de culpa para os palestinos também, a quem foi prometido um país 70 anos atrás? Desconfio que muitos palestinos da Faixa de Gaza aceitariam correndo se mudar prum pedacinho da Alemanha, do Texas, ou de qualquer lugar em que um dos exércitos mais bem-equipados do mundo não despejasse mísseis diários sobre suas cabeças.




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