Por Renato Rabelo, em seu blog:Muitos perguntavam: “Cadê o movimento popular? A esquerda na sua maior parte não se une!” As manifestações de 20 de agosto começaram a responder favoravelmente a estas indagações.
Foram mais de 50 organizações sociais, organizadas, incluindo as sindicais, que se reagruparam e foram capazes de uma vasta mobilização massiva, numa quinta-feira, ocupando as ruas em todo país. Deu o seu tom e apresentou seu lado político, suas reivindicações e alternativas diante da crise política e econômica, expressão de parte real e de parte forjada, que cobre e recobre o país.
Sim, foi uma expressiva manifestação nacional que começou a retirar da letargia e do burocratismo as múltiplas organizações dos trabalhadores e do povo. Estas, nos períodos de “paz” se assomam da rotina e inércia, quase afogadas nos seus próprios interesses corporativistas, longe da ação política. Nada mais eficaz para o despertar do que o risco que pode levá-las a grandes perdas e até à ameaça de retrocesso das conquistas democráticas.
Primeiramente, as manifestações de 20 de agosto, divulgadas nas redes sociais, sem divulgação na grande mídia - distinta da prioridade midiática dada às manifestações domingueiras do dia 16 - confluiu e se uniu com entusiasmo num campo definido: a defesa da democracia, do mandato constitucional da presidenta Dilma, contra o golpe da direita,
Em segundo lugar, além das diversas organizações sociais e sindicais, tiveram a participação e presença também dos partidos políticos como o PCdoB, PT, PSOL, PCO e PDT, que têm suas militâncias atuando permanentemente nessas organizações populares.
Em terceiro plano, próprio de organizações populares que dão sua arrancada política, as consignas levantadas expressavam suas reivindicações e anseios nesse momento de crise aguda, com um chamamento que reflete a sua natureza e seu rumo: “que os ricos paguem pela crise”, “contra o ajuste fiscal” e “pela retomada do crescimento, garantido os direitos sociais”; “contra a corrupção e pela investigação e condenação exemplar dos responsáveis, garantindo o pleno direito de defesa”, e uma “reforma política democrática, sem financiamento empresarial das campanhas eleitorais”.
Esses acontecimentos que culminaram nas manifestações do dia 16 e do dia 20 de agosto revelam, nas atuais circunstâncias, a configuração de dois campos de luta social e política. Um campo, com predominância de camadas médias das cidades e de maiores rendas - insuflada pela mídia e por esquemas profissionais de redes sociais - com uma ideologia própria da denominada pequena-burguesia, com uma reação similar em momentos de crise. Outro campo, predominantemente de camadas de trabalhadores, gente simples de origens mescladas que compõem o povo brasileiro e que aspiram maior avanço social.
Desde sua quarta derrota na eleição presidencial de 2014, o consórcio oposicionista assumiu uma ação mais extremada e feroz, com ampla e direta participação da mídia hegemônica, contra a presidenta da República reeleita, o PT e estendendo sua ignomínia à maior liderança popular desse período, Luis Inácio Lula da Silva.
Isso influenciou e abriu o caminho para uma ação radical odienta dessas camadas pequeno-burguesas – aspiram ser burgueses e se assombram com o ascenso social das camadas pobres –, dando lugar a setores de ultradireita e fascistas. Sendo esses estratos e grupos que vêm delineando os protestos sucessivos que desembocaram no terceiro, no dia 16 de agosto.
Qual o retrato e expressão dessas raivosas manifestações domingueiras? Inflamada pela ação da direita reacionária e revanchista essas camadas e grupos se apresentam para exigir a derrubada da presidenta da República, o fim do PT e a execração de Lula. Em suma são contra a esquerda, as forças progressistas e populares.
Expõem sua própria natureza antidemocrática na forma crua de protestos reativos, irracionais, intolerantes. Sua raiva desarvorada brada o que querem, mas, não sabem o que querem após a pretendida destituição da presidenta da República. Sem alternativa, o que desponta são os apelos dos grupos mais extremados que gritam pela a volta dos militares, em cartazete como “S.O.S FFAA”. Ou a abominável afirmativa de que “Dilma deveria ter sido assassinada” desde a ditadura.
É nesse meio que os partidos de oposição surfam, onde o presidente tucano, Aécio Neves se infiltra — participa de forma relâmpago como “cidadão” — comungando também, apenas, com a revolta dos revoltosos nas ruas. A oposição tenta dar as cartas, mas, no fundo não tem alternativa definida para o pretendido pós-Dilma, ou procuram deixar submerso seu verdadeiro propósito.
Por enquanto é o vale tudo com o único objetivo de lançar chispas para incendiar toda pradaria, numa ação conjunta de grande conspirata golpista. Depois? Depois deixa com eles. A “saída” vem sendo arranjada assiduamente por meio de um “mandato” arranjado “constitucionalmente”. Elites conservadoras dominantes agem nos bastidores e já ostensivamente nos órgãos de poder do Estado. Juristas de plantão ao seu serviço é que não faltam como sucedeu no tempo da Ditadura.
É diante desse incessante curso golpista que reascende o movimento popular, que pode se tornar numa força motriz fundamental pelo avanço democrático, progressista e popular.
Este movimento manifesta-se já definindo seu lugar, seu lado e o que pretendem: defesa da democracia e preservar o mandato constitucional da presidenta Dilma; retomar o crescimento não ficando o ônus do ajuste somente com os trabalhadores, mas sim com a parcela dos que têm maiores rendas e fortunas; defender a Petrobras, o marco regulatório do pré-sal e a engenharia nacional. E a perspectiva de aprofundar as mudanças através de reformas estruturais, essencial para o novo ciclo de avanço do projeto nacional de desenvolvimento, com progresso social e soberania nacional.
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