Mudanças à vista no Chile - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
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Mudanças à vista no Chile - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE


CORREIO BRAZILIENSE - 17/11
A sexta eleição consecutiva no Chile, desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), será a primeira sem voto obrigatório. Outra novidade é que a disputa se dá entre duas mulheres e pode confirmar hoje uma alternância de poder, com a volta da médica socialista Michelle Bachelet à Presidência da República, após ser sucedida pelo atual presidente, o direitista Sebastián Piñera, cuja popularidade está em baixa, assim como o crescimento do país.
O favoritismo da candidata esquerdista é suficiente para que ela supere a principal oponente, a governista Evelyn Matthei, pós-graduada em economia, já no primeiro turno. A diferença entre as intenções de voto em uma e outra é grande: 47% a 14%. Mas surpresas não estão descartadas - analistas temem a possibilidade de o eleitorado, dispensado de ir às urnas, conferir ao pleito nível de abstenção elevado, a ponto de interferir no panorama registrado pelas pesquisas de opinião.

Além disso, há, correndo por fora de forma independente, o azarão liberal Franco Parisi, jovem populista formado em engenharia e com doutorado em economia nos Estados Unidos, cuja popularidade em programas de rádio e tevê lhe valeram o terceiro lugar, com 10% das intenções de voto. Se ele tiver bom desempenho nas urnas e o comparecimento for baixo, ganha força a hipótese de segundo turno.

Curiosamente, as duas principais candidatas são filhas de oficiais militares da Força Aérea do Chile. Porém, enquanto o pai de Michelle Bachelet teve a carreira encerrada pelo golpe de 1973, quando integrava o governo deposto de Salvador Allende, o da conservadora Matthei integrou a junta militar na ditadura de Pinochet. Evelyn tornou-se candidata por indicação do presidente Piñera, apenas um dia depois de o ultraconservador Pablo Longueira desistir da disputa.

De toda forma, o embate entre forças tão díspares não abala a democracia chilena, suficientemente madura para nova transição, com alternância entre direita e esquerda. O regime que matou mais de 3 mil pessoas e torturou quase 40 mil é assunto tratado firmemente pela Justiça do país. Exemplo recente foi a negativa, esta semana, de liberdade condicional para o ex-diretor da Inteligência Nacional, a polícia secreta de Pinochet, e outros 28 condenados por violações de direitos humanos no período de exceção.

Para passar a limpo a história, avançando mais, Michelle Bachelet sustenta, na campanha, a promessa de varrer da Constituição o "entulho" autoritário da época. Resta saber se conseguirá maioria no Congresso, talvez a maior incógnita das eleições de hoje. Audaciosa, ela também se propõe a executar, nos primeiros 100 dias de governo, um pacote de 50 medidas sociais, com melhorias na educação, na saúde, nos transportes, na segurança pública e na defesa dos direitos trabalhistas, indígenas e da mulher.




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