Muita areia, pouco caminhão - VINICIUS TORRES FREIRE
Geral

Muita areia, pouco caminhão - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 26/06

Presidente pede, enfim, controle de gastos, mas governos devem gastar para apaziguar as ruas


EM MENOS DE 24 horas, a incerta Constituinte proposta pela presidente transformou-se num informe plebiscito para votar uma reforma política. Informe, mutante e, até as 18h30 de ontem, quando era escrita esta coluna, descomunal, pois pode virar do avesso instantaneamente todo o sistema eleitoral.

Menos atenção tem se prestado a outro dos "pactos" importantes propostos por Dilma Rousseff, o de controle dos gastos públicos, que a princípio parecia ainda mais incerto do que a Constituinte sugerida pela presidente. Em que bicho vai dar? O que pode sair do cruzamento entre a pressão das ruas e a necessidade de poupar, dados os constrangimentos econômicos?

Antes de os protestos transbordarem, em maio, o governo, enfim, desistira do grosso da política econômica tocada do fim de 2011 ao início de 2013. E aparentemente resignara-se com a ideia de que os juros teriam de subir, dada a inflação resistente, e com a necessidade de apresentar contas mais em ordem.

No fim de maio, o ministro Guido Mantega, da Fazenda, apresentara meta mais ambiciosa de poupança (receita menos despesa, afora gastos com juros, o que os economistas chamam de superavit primário).

Mais ou menos um mês depois, na reunião de segunda-feira com prefeitos e governadores, a presidente num minuto reafirmou o compromisso de Mantega e noutro disse que vai destinar dezenas de bilhões para um programa de melhoria nos transportes, o filme ruim que deu origem à série de protestos.

A presidente conclamou Estados e municípios a apertarem os cintos (a poupança total do setor público, a meta que interessa, inclui a poupança, o superavit, de Estados e municípios). Se governadores e prefeitos estourarem os gastos, o governo federal em tese tem que entrar com a diferença (gastar ainda menos).

Como está evidente, governadores e prefeitos terão ainda mais problemas para evitar que suas contas entrem no vermelho. Revogaram aumentos de tarifas de transporte; começam a desistir de aumentos outros, como pedágios e eletricidade (em empresas estatais). Por outro lado, estão com a massa nos portões dos palácios, com uma corda no pescoço político-eleitoral se não entregarem investimentos e melhorias sociais. Mesmo com menos receitas, em tese teriam de fazer mais.

"Ah, coitados", a gente pode dizer. Sim, não há santos nem abnegados e competentíssimos governos nessa história, máquinas públicas que já fazem o máximo com o dinheiro que têm, com eficiência e qualidade. Tudo certo. Mas apenas no país das maravilhas os governos vão sair do brejo para se transformarem imediatamente em príncipes gestores --não vai acontecer agora, no ano que vem, nem no outro.

Isto posto, o governo federal e, por tabela, os estaduais e municipais sofrem ainda o efeito da baixa de receita devida às reduções de impostos dos últimos dois anos e também à lerdeza da economia.

A economia vai permanecer devagar. Além dos problemas de base, da inflação e das reviravoltas de política econômica, o clima externo piorou bárbara e rapidamente em um mês para o Brasil, que está pagando juros maiores e tem de lidar com o dólar mais alto.

Só com mágicas e milagres para fechar a conta econômica e política ao mesmo tempo.




- Cobertor Curto E Desfiando - Vinicius Torres Freire
FOLHA DE SP - 15/01 A velha história do cobertor curto não pode dar conta do que vai acontecer com os gastos do governo neste ano. Talvez seja otimista demais ficar na dúvida entre cobrir os pés ou a cabeça. O cobertor deve ficar mais puído, deve...

- Aumento De Imposto? - Vinicius Torres Freire
FOLHA DE SP - 26/02 Sem aumento extra da receita, governo terá dificuldade de cumprir meta de superavit DE ONDE VAI sair o dinheiro para o governo cumprir a meta de poupança que anunciou na semana passada? Talvez seja necessário aumentar ou recriar...

- "meu Mercado, Meu Amor" - Vinicius Torres Freire
FOLHA DE SP - 20/02 Anúncio da meta de superavit não pode ser marketing do governo; tem de ser início da mudança GOVERNO deve contar hoje ao público quanto pretende poupar dos dinheiros que arrecada. Em tese, trata-se de uma das notícias mais importantes...

- Broncas No Vermelho - Vinicius Torres Freire
FOLHA DE SP - 05/11 Deficit horrível demais de setembro aumentou e muito o mau humor com administração Dilma QUASE NINGUÉM acreditava que o governo fosse cumprir sua meta de "poupança" para este ano. O resultado das contas públicas de setembro,...

- Já Vimos Esse Filme Queimado - Vinicius Torres Freire
FOLHA DE SP - 30/08 Governo está satisfeito ou de mãos atadas, a julgar pelo Orçamento que enviou ao Congresso A JULGAR PELO projeto de Orçamento que Dilma Rousseff enviou ontem para o Congresso, o governo está satisfeito com sua política de gastos,...



Geral








.