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MUITO MAIS SOBRE A POLÍTICA DO FILHO ÚNICO
O post sobre a política do filho único na China gerou comentários incríveis, que levaram o debate para outro nível. Destaco alguns:
"Lola, só para complementar. Em várias dessas sociedades agrárias do extremo oriente, o casamento é patrilocal (a noiva vai para a casa do marido) e é responsabilidade do filho mais velho cuidar dos pais idosos. Por causa disso é que foi aberta exceção para as famílias camponesas. Tentar de novo e, no caso da China, há uma pensão para o casal idoso camponês sem filhos homens. Há vários ditos chineses, indianos e de outros povos da região fazendo alusão ao fato de quem tem uma menina engorda o gado do vizinho, afinal, quando ela estiver na sua fase mais produtiva, irá embora, a família formaria mão de obra para outrem. Pior ainda, no caso indiano, é a prevalência do dote. Ter uma filha é prejuízo, econômico e mesmo espiritual, pois certos rituais fúnebres só podem ser feitos pelo filho homem. Enfim, a situação é muito dramática: 'Na China, em Taiwan, na Coréia do Sul, a ausência de herdeiro do sexo masculino significa a extinção da linhagem da família e do culto aos ancestrais. Na religião hinduísta, ela condena os pais à errância eterna, pois é o filho que, tradicionalmente, encarrega-se dos ritos funerários de seus pais. Na Índia e na China, uma menina está com seus pais apenas de passagem. Quando se casa, ela parte para se devotar à família de seu marido e, a partir de então, não deve mais nada a seus próprios pais. Os camponeses chineses sabem que é preciso 'ter um filho para prepara-se para a velhice'. 'Ter uma menina', diz um ditado chinês, é 'cultivar o campo de outros'; para os indianos, é 'cuidar do jardim do vizinho'.' Aborto seletivo gera escassez de 96 milhões de meninas na Ásia. Índia, onde meninas nem sempre são bem-vindas.
Pais pagam cirurgia para transformar filhas em filhos na Índia.
Procuram-se mulheres: Num mundo com 7 bilhões de habitantes faltam mulheres em alguns países." (Valéria)
"Oi, Lola! Estou adorando os posts sobre a China e aprendendo muitas coisas interessantes. Gostaria que comentasse um pouco mais sobre a atuação das chinesas no mercado de trabalho, pois, nesse ponto, a China parece estar a passos largos do Japão. Morei no Japão e fiquei estarrecida com a situação das mulheres, já que a maioria deixa o trabalho logo após o casamento. As leis de trabalho japonesas desestimulam a participação feminina no mercado de trabalho a partir de ações como licença-maternidade muita curta/ sem remuneração adequada ou dedução de impostos para famílias em que apenas um dos membros trabalhe (geralmente são os homens que trabalham)." (Anônima) [Compare com os EUA, anon].
"A princípio, planejamento familiar tem tudo a ver com feminismo.
Eu não consigo vislumbrar algo mais eficiente e mais definitivo para manter uma mulher no seu 'devido lugar' do que a maternidade (por isso acho comédia esse negócio de fim do capitalismo = fim da miséria feminina; ha, tolinhos). Mas até mesmo dentro do feminismo esse fato é ignorado. Eu sou 100% a favor, e também não consigo imaginar um caminho diferente sem ferir os direitos humanos básicos, da conscientização das pessoas sobre as responsabilidades de se ter filhos. E antes que me queimem na fogueira -- nem estou falando aqui sobre condições financeiras -- mas sim sobre o impacto pessoal, social e ambiental que isso traz. Porém sou 100% contra a interferência estatal direta, como foi feito na China. Vejam, a política do filho único foi uma medida brutal pela falta de vontade de resolver um problema antes que chegasse ao ponto que chegou.
Se houvesse conscientização, educação, oportunidades igualitárias e acesso ilimitado à contracepção, esterilização voluntária e aborto, muito raramente a situação escalaria e sairia do controle." (Jane Doe)
"Achei na net e é interessante: Em uma entrevista Bill Moyers perguntou a Isaac Asimov: O que acontecerá à ideia de dignidade da espécie humana se o crescimento populacional continuar na sua atual proporção?
Asimov respondeu: Ela será completamente destruída. Eu gosto de usar o que eu chamo minha 'metáfora do banheiro': se duas pessoas vivem em um apartamento e existem dois banheiros, eles podem ambos ter a liberdade do banheiro. Você pode ir ao banheiro quando quiser e ficar lá quanto tempo você preferir ficar. E todos acreditam na liberdade do banheiro; ela deveria estar na constituição. Mas se você tem vinte pessoas no apartamento e dois banheiros, não importa o quanto cada pessoa acredita na liberdade do banheiro, porque isto não mais existe. Você tem de definir horários para cada pessoa, você tem de bater na porta, 'Você ainda não acabou?' e por aí vai. Asimov concluiu com a profunda observação: Da mesma forma, democracia não pode sobreviver à superpopulação. Dignidade humana não pode sobreviver à superpopulação. Conveniência e decência não podem sobreviver. À medida que você coloca mais e mais pessoas no mundo, o valor da vida não apenas declina, mas desaparece. Não importa se alguém morre, quanto mais pessoas existirem, menos cada pessoa importa. A China e a Índia mostram muito bem que esse último trecho é verdade. Intervenção estatal é ruim? Com certeza. Queremos isso? Não. Mas se a situação atingir um ponto crítico, é o que vai acontecer. Então só nos resta decidir se queremos fazer isso numa boa ou na marra. Se não puder ser numa boa agora, será na marra futuramente." (Mallagueta Pepper)
"Moro na China há dois anos e sou casada com um sul-africano de origem chinesa. O que tenho a dizer sobre planejamento familiar por aqui é que tudo se dá sem que ninguém fale sobre sexo. A repressão do governo sobre qualquer coisa de cunho sexual (lembra quando você disse que pornografia era proibida por aqui?) impede que exista qualquer tipo de educação sexual nas escolas. Os alunos aprendem na aula de biologia, por exemplo, que o espermatozoide fecunda o óvulo, mas ninguém comenta sobre como ele foi parar lá. A maioria esmagadora das famílias ainda faz de conta que sexo não existe, e as pessoas chegam aos 20, 25 anos sem ter muita ideia de como sexo funciona. Sou professora de inglês em uma faculdade na Mongólia Interior, região autônoma no norte da China, e quero primeiro deixar claro que o que vou dizer é baseado somente nas experiências e conversas que tive por aqui, e que talvez algumas coisas sejam diferentes em outras regiões. Uma vez estava conversando com algumas alunas (tendo 27 anos, não sou muito mais velha do que elas), e perguntei, casualmente, como acontecia a contracepção por aqui. A princípio elas não entenderam, provavelmente devido ao inglês, mas quando eu traduzi a palavra 'camisinha' para o chinês, elas coraram e deram risadinhas. Uma delas arregalou os olhos e disse 'Não, não, não! Não usa iso, não!'. Perguntei, então, como mulheres casadas -- já que nenhuma delas iria admitir ter feito sexo -- faziam para evitar terem filhos antes da hora. Elas ficaram confusas e disseram que não faziam ideia. Há a ideia disseminada de que casais não fazem sexo antes do casamento por aqui -- o que, obviamente, não passa da mais pura balela. Embora seja verdade que a maioria chegue virgem aos 20, 22 anos de idade, eles não se casam virgens. E fazem sexo sem saber como se prevenir contra uma gravidez. O resultado disso é que dentro das caixinhas de testes de farmácia é comum vir cartão de desconto para clínicas de aborto. Assim que você conquista a confiança de alguma moça chinesa, elas logo confessam que já fizeram ou conhecem alguém próximo que tenha feito um aborto. Entenda que, embora eu apoie a possibilidade de uma mulher poder descontinuar uma gravidez indesejada, não acho -- e ninguém acha -- que abortos devam ser usados como método primário de contracepção. Outra questão, agora sobre filhos, é que crianças nascidas de pais não casados não podem ser registradas. Isto é devido à própria política do filho único, já que se os pais não forem casados fica difícil monitorar se há mesmo apenas um filho por casal, mas a ideia de que alguém não tenha direito a uma certidão de nascimento -- e consequentemente não podem frequentar escolas, ter emprego formal, comprar casa, etc -- simplesmente porque seus pais não são casados não deixa de ser revoltante." (Tatiana)
"Tive a oportunidade de conhecer alguns chineses na França, onde estudei por um período. Quanto à política do filho único, achei que você deixou de abordar um aspecto interessante. Fiquei sabendo por intermédio de meus colegas que os chineses endinheirados costumam ter um segundo filho nos Estados Unidos. São os chamados American Born Chinese (ABC). Essa estratégia é comum na elite chinesa, que se orgulha de garantir a dupla nacionalidade às suas crianças (embora seja dito que o segundo passaporte fica escondido, pois esta prática, além de não ser bem vista pelo governo, é proibida na China). É isso. Neste planeta, dinheiro resolve tudo!" (CN)
Update no final de outubro: Após 30 anos, governo chinês permite que casais tenham 2 filhos.
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