Mulher é exposta como objeto sexual em 99% dos comerciais de cerveja. Neste que a Suzana mandou, da Guinness, isso fica ainda mais explícito. O único imperativo – e propaganda é a arte dos imperativos (compre, beba, faça, experimente) – está no final: “Compartilhe uma com um amigo. Ou dois”. “Uma” tanto pode ser a cerveja como a moça. Tanto faz. Eu diria que neste comercial mulher e cerveja têm igual importância, mas não é verdade. A cerveja tem rosto e é tratada com mais carinho e respeito. A mulher não pára de se mexer. E não dá pra saber ao certo o que está fazendo. Ela tá inconsciente, sendo estuprada? Ela tá fazendo sexo oral em alguém? Está numa esteira? A mão meio cambaleante que vem de baixo reforça a idéia que é algo sexual e que há dois ou três homens envolvidos. Ela não bebe cerveja. Está ocupada demais com afazeres mais importantes. Mas eles bebem sim, e depois de cada gole, dão o seu parecer: “Ahh!”. Como se fosse um gemido de prazer. Já que a mulher é um objeto, e objetos não têm prazer, apenas proporcionam prazer, à figura sem rosto não geme nem chia. À mulher é negado o prazer. Tanto o de beber cerveja quanto o sexual.
Nada mais justo: prateleiras não consomem cerveja. Vão ter prazer como? Mais uma vez fica claro: o único prazer que mulher pode ter é dar prazer aos homens. Não relaxe e goze, e ai de você se derrubar a garrafa.
P.S.: Eu gosto da musiquinha. Ela podia ser a trilha sonora pro suicídio coletivo dos publicitários que bolam esses fantásticos comerciais de cerveja.
P.S.2: Ao procurar uma foto pra ilustrar este post, descobri que o comercial é uma paródia da Guinness e não foi autorizado pela marca. Não que seja muito diferente dos anúncios “verdadeiros” de cerveja que costumamos ver.
P.S.3: Tem gente se referindo ao vídeo como “the orgy ad” (o comercial da orgia). Ah, então é sobre sexo? Eu nunca participei de uma suruba, mas até em De Olhos Bem Fechados elas parecem mais animadas. E olha que nesse filme do Kubrick todo mundo fala e age como sonâmbulo!