Por Altamiro Borges
Nos últimos dez anos, em função do crescimento da economia e da adoção de políticas públicas, houve uma tímida melhora na situação das mulheres brasileiras no mundo do trabalho. As estatísticas confirmam que o desemprego diminuiu e que o salário subiu – inclusive na comparação com os homens. Mesmo assim, ainda persistem graves diferenças e a superação da exploração e da opressão de gênero é uma luta que demanda muita combatividade e unidade. Daí a importância dos protestos do Dia Internacional da Mulher.
Segundo pesquisa divulgada nesta semana pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e pela Fundação Estadual de Análise de Dados (Seade), o rendimento médio real por hora de trabalho na Região Metropolitana de São Paulo subiu mais para as mulheres do que para os homens na passagem de 2011 para 2012. Para as mulheres, o valor por hora ficou em R$ 8,24 em 2012, alta de 5,8% ao verificado em 2011. Já para os homens passou a equivaler a R$ 10,70, alta de 5,2% no mesmo período.
Mas o estudo também revela que essa tênue diferenciação no ritmo de crescimento pouco impactou na aproximação entre os salários feminino e masculino: em 2011, o rendimento por hora das mulheres correspondia a 76,6% do recebido pelos homens, proporção que passou para 77% em 2012. Já no que se refere à taxa de desemprego, ela permaneceu estável entre as mulheres – 12,5%, a menor da última década. Já entre os homens, ela subiu de 8,6% para 9,4%. Mesmo assim, o desemprego ainda é maior entre as mulheres.
Entre 2011 e 2012, aponta o estudo, o número de mulheres com idade economicamente ativa que trabalham na região metropolitana de São Paulo aumentou de 55,4% para 56,1%. Já entre os homens, o indicador ficou praticamente estável. Passou de 71,3% em 2011 para 71,5% no ano passado. Segundo o Dieese, a taxa ficou estável porque o número de postos de trabalho criados foi equivalente ao número de mulheres que entraram no mercado de trabalho.
Outra pesquisa, realizada pelo Instituto Data Popular e intitulada “Tempo de Mulher”, indica que a renda de mulheres – não apenas das assalariadas - cresceu 83% nos últimos dez anos. Mais voltado para o consumo e bem mais otimista, o estudo aponta que até o final de 2013, “deverão passar pelas bolsas das mulheres R$ 1,1 trilhão, valor equivalente ao PIB da Suécia ou da Bélgica”. Caso realizem seus planos de consumo, até o final do ano as mulheres terão comprado 6,5 milhões de celulares e 6 milhões de televisores.
“A massa de renda das mulheres (R$ 1,1 trilhão) é superior ao que toda a classe C – que reúne 104 milhões de brasileiros e representa 53% da população total do país – deve receber neste ano, um total de R$ 966 bilhões”, explica Renato Meirelles, diretor do instituto. Para ele, estes números refletem as mudanças que permitiram maior presença da mulher no trabalho. Nas duas últimas décadas, houve aumento de 162% no número de mulheres com carteira assinada. No mesmo período, a população feminina teve expansão de 36%.
São 11 milhões a mais de brasileiras no mercado de trabalho formal neste período, contingente equivalente a quase toda a população de um Estado como o Rio Grande do Sul. As projeções foram feitas a partir de dados do IBGE (pesquisas de orçamento familiar, mensal de emprego e nacional por amostra de domicílio) e com pesquisa do Instituo Data Popular realizada com 1.300 mulheres de 44 cidades, entre dezembro do ano passado e fevereiro deste ano.
Ainda segundo o estudo, o crescimento da massa de renda das mulheres supera o avanço obtido pelos homens nos mesmos dez anos. De 2003 a 2013, o valor masculino deve aumentar na ordem de 45%. Mas, apesar deste avanço, a massa de renda das mulheres deve atingir apenas neste ano o mesmo R$ 1,1 trilhão (trabalho formal, informal e benefícios) que os homens conseguiram receber há dez anos, em 2003. Em 2013, a massa de renda masculina deve atingir R$ 1,6 trilhão. Ou seja: a desigualdade diminuiu, mas ainda persiste.
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