Na marra - EDITORIAL O ESTADÃO
Geral

Na marra - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 15/11

Conforme prometido pelo presidente Nicolás Maduro, a Venezuela está agora em plena "guerra econômica". Parece ser o ápice da ruptura chavista com as leis de mercado. O preço a pagar - expressão apropriada no momento em que o governo impõe drástico controle de preços - será talvez mais alto do que o país pode suportar.

Sem o carisma do caudilho Hugo Chávez, essencial para dar sentido à loucura denominada "socialismo do século 21", restou ao medíocre ex-motorista de ônibus Maduro apelar à força bruta para dirigir um país desgovernado.

Na sexta-feira passada, Maduro mandou soldados do Exército ocuparem lojas de eletrodomésticos acusadas de cobrar preços que o governo considera muito altos. Administradores das empresas foram presos, e Maduro estimulou os consumidores a cobrarem das lojas a devolução do dinheiro que lhes foi "roubado".

No dia seguinte, o presidente anunciou que a ação contra os varejistas não foi "nem a pontinha do iceberg". Na TV, ele disse que a truculência foi necessária para "conseguir equilibrar a economia verdadeira, a economia real", como se a inflação pudesse ser contida na marra, encarcerando os empresários. Segundo o discurso oficial, é essa "burguesia parasitária", ao lado dos "esquálidos" políticos de oposição e dos "imperialistas ianques", a responsável pela tragédia que a Venezuela enfrenta. Tudo - da inflação galopante aos constantes apagões - é visto como "sabotagem".

Ainda assim, até Maduro sabe que, ao forçar a redução dos preços, haverá uma corrida desenfreada às prateleiras - algo que, aliás, já começou. "Não caiamos no nervosismo do consumismo", pediu ele na TV. Dizendo que os venezuelanos não devem comprar "como loucos" e precisam poupar seu dinheiro - que é corroído pela inflação de 54% ao ano -, Maduro deu um "conselho" a seus governados: que adquiram apenas o "necessário". Assim, o presidente quer não apenas estabelecer o valor de uma mercadoria, mas também o quanto cada cidadão deve comprar. A história mostra que modelos assim são fadados ao colapso.

Ademais, ao anunciar o recrudescimento da fiscalização para flagrar preços que julga abusivos, deixando explícito que o destino dos que discordarem dessa violência é a cadeia, Maduro nada mais faz do que agravar a doença que ele diz combater. O controle de preços e a hostilidade aos empreendedores são a senha para desestimular a produção, gerando mais escassez, elevação de preços e comércio clandestino. Mas argumentos racionais não têm lugar na Venezuela chavista.

A alta dos preços decorre não apenas do desmonte do setor produtivo, realizado graças à estatização patológica da economia, mas, principalmente, do controle cambial imposto por Chávez. Como o varejo venezuelano depende de produtos importados, os preços são fixados não pela cotação irreal do governo, mas pelo mercado paralelo, onde o dólar é oito vezes mais caro. Maduro, no entanto, não tem a menor intenção de corrigir essa distorção. Ao contrário: seguindo o padrão de abafar a realidade quando esta não lhe interessa, como bem sabem os jornais que lhe são críticos, ele simplesmente mandou bloquear sites que divulgam o dólar no paralelo.

Não contente em apenas fixar preços, Maduro anunciou também que pretende tabelar os lucros em todos os setores da economia, assim que a Assembleia Nacional lhe conceder os poderes excepcionais que solicitou. Ele citou até mesmo textos religiosos para condenar o crime de usura, e anunciou a criação de tribunais especiais para acelerar o julgamento de casos de "roubo descarado", ameaçando os empresários com até 30 anos de prisão.

É assim que Maduro, ao tentar proibir a inflação por decreto, conduz a Venezuela ao desastre. A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, afirmou que o país terá de enfrentar "escolhas políticas difíceis" em breve para estancar a sangria de suas reservas. Enquanto isso, o sucessor de Chávez antecipou o Natal por decreto, para "derrotar a amargura", e criou o Vice-Ministério da Suprema Felicidade.




- Divergências No Chavismo Ameaçam Maduro - Editorial O Globo
O GLOBO - 04/07 Militares e setores ortodoxos do chavismo começam a mostrar descontentamento com medidas ?liberalizantes? que presidente é obrigado a tomar diante da crise Após a demissão do ministro do Planejamento, Jorge Giordani, as divergências...

- A Involução Venezuelana - Rodrigo Botero Montoya
O GLOBO - 25/11 Com os poderes que lhe concede a Lei Habilitante, Maduro poderá tornar realidade o desejo de Chávez de levar o país ao mesmo mar de felicidade em que navega Cuba O regime bolivariano se debate entre a farsa e o dramatismo heroico....

- Maduro Reforça Modelo Chavista E Agrava Crise - Editorial O Globo
O GLOBO - 15/11 Inflação vai a 54% ao ano, desabastecimento se amplia e substituto de Chávez busca superpoderes para governar por decreto A URSS tornou-se superpotência com base no planejamento centralizado, na crença de que as leis de mercado podiam...

- Universo Paralelo - Editorial Gazeta Do Povo - Pr
GAZETA DO POVO - PR - 06/11 O ?Vice-Ministério da Felicidade?, o rosto de Chávez em um túnel de metrô e o Natal antecipado por decreto são factoides para desviar a atenção do caos econômico e social por que passa a Venezuela Em um desses casos...

- Morre O Presidente Hugo Chávez
Do sítio da Agência Brasil: O vice-presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou, há pouco, em rede de rádio e televisão, a morte do presidente Hugo Chávez. Nesta tarde, Maduro confirmou notícia dada na noite passada sobre o agravamento do...



Geral








.