Na trilha das migalhas perdidas - ALEXANDRE SCHWARTSMAN
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Na trilha das migalhas perdidas - ALEXANDRE SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 03/07

Ter a inflação na meta (4,5%) exigiria levar a Selic a algo entre 11,25% e 11,50% ao ano, pelo modelo do próprio BC


Na semana passada, o Banco Central divulgou seu Relatório Trimestral de Inflação (RTI), detalhando os motivos de suas decisões recentes de política monetária, inclusive projeções de inflação até meados de 2015.

Trata-se de um documento essencial. Além da transparência, crucial em qualquer regime democrático, as previsões de inflação são críticas para entendermos o comportamento do BC, como, acredito, será possível mostrar neste espaço.

Sob o atual regime, cabe ao BC a responsabilidade de manter a inflação próxima à meta definida pelo Conselho Monetário Nacional, ou seja, pela Presidência da República. O BC define, assim, a taxa de juros supostamente para atingir esse objetivo.

Ocorre que as decisões de política afetam a inflação com defasagem considerável: segundo estimativas do BC, o efeito máximo da taxa de juros sobre a inflação se dá de 6 a 8 trimestres à frente, isto é, decisões tomadas em meados de 2013 repercutirão com maior intensidade apenas ao final de 2014 e começo de 2015.

Posto de outra forma, a inflação (elevada) de hoje reflete as decisões (equivocadas, como se percebe) tomadas entre o segundo semestre de 2011 e o início de 2012.

Não é necessário acrescentar (embora aqui se faça) que prever a inflação é tarefa complicada e que pode se tornar ainda mais difícil caso premissas ruins sejam incorporadas aos modelos.

Independentemente, porém, da precisão das projeções, os números divulgados na semana passada oferecem uma rara oportunidade de avaliar, de acordo com o modelo do BC, o que seria necessário fazer para trazer a inflação de volta à meta.

O RTI traz dois conjuntos de previsões que compartilham os mesmos pressupostos, à exceção de duas variáveis. No chamado "cenário de referência", o BC projeta o comportamento da inflação presumindo que tanto a taxa de juros (Selic) quanto a taxa de câmbio permaneçam inalteradas ao longo de todo horizonte de projeção nos mesmos valores observados na primeira semana de junho, isto é, 8% e R$ 2,10/US$, respectivamente.

Segundo esse cenário, a inflação no final de 2014 atingiria 5,4%, dadas as demais hipóteses.

Já no "cenário de mercado" a taxa de juros e a taxa de câmbio seguem as trajetórias previstas pela média dos economistas que contribuem para a pesquisa Focus, mantidos os demais pressupostos. No caso, a trajetória prevista da taxa de câmbio é praticamente idêntica à do "cenário de referência", com o dólar a cerca de R$ 2,10.

Por outro lado, a trajetória da Selic é algo distinta, incorporando um aumento de 0,50 ponto percentual em julho e outro de 0,25 ponto em agosto, o que traria a Selic para 8,75%, ali permanecendo até novembro de 2014.

De acordo com esse cenário, a inflação prevista para 2014 se reduziria para 5,2%.

A única distinção entre os dois cenários é o nível da taxa Selic: 8% no "cenário de referência" ante 8,75% no "cenário de mercado".

Assim, a redução da projeção de inflação, 0,2%, pode ser integralmente atribuída à diferença de 0,75 ponto percentual na Selic.

Dado, porém, que um aumento de 0,75 ponto da Selic reduz a inflação projetada em 0,2%, uma diminuição de 0,9% da inflação (que a trouxesse de 5,4% para 4,5%) requereria um aumento 4,5 vezes maior, isto é, a taxa de juros atingindo algo entre 11,25% e 11,50% ao ano.

Noto, mais uma vez, que esse resultado deriva do modelo do BC e das premissas por ele adotadas no último RTI, algumas bastante otimistas, em particular no campo fiscal, onde ainda se espera o cumprimento integral da meta de superavit, resultado a cada dia menos provável.

Resta saber se o BC irá seguir seus modelos e promover um aperto monetário adicional superior a três pontos percentuais ou parar no meio do caminho e inventar uma história sobre como a inflação há de seguir as migalhas e achar sozinha o caminho de volta à meta.

O histórico recente, como expresso no comportamento atual da inflação, sugere que comecemos a procurar a trilha das migalhas perdidas...




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