Não é o que parece - ANTONIO DELFIM NETTO
Geral

Não é o que parece - ANTONIO DELFIM NETTO


Valor Econômico - 18/06

Como tem feito nos últimos anos, o Pew Research Center divulgou, em 23 de maio, os resultados de sua pesquisa sobre como os cidadãos de 39 países "sentem" as suas vidas e explicitam suas esperanças sobre o futuro próximo. O levantamento ouviu nada menos do que 37.653 pessoas no período de 2 de março a 1º de maio de 2013.

No Brasil, uma amostra estratificada pelas cinco regiões, e pelo tamanho dos municípios, pôs em contato físico com os pesquisadores, entre 4 de março e 21 de abril, 900 pessoas adultas. A estimativa do erro amostral é de mais ou menos 4,1%. Em todos os países o levantamento tem erro amostral relativamente próximo, de forma que as porcentagens das respostas podem ser diretamente comparadas.

O Brasil sai bem na fotografia. O fato mais interessante é que os resultados da pesquisa contrariam as expectativas pessimistas que hoje parecem prevalecer em amplos setores da sociedade brasileira. Qual seria um indicador das expectativas mais profundas de qualquer cidadão? É difícil dizer. Provavelmente, entretanto, ninguém recusaria que a resposta à questão: "Quais suas esperanças para o nível de bem estar dos seus filhos: será ele melhor ou pior do que o seu?" contém uma informação importante sobre aquelas expectativas. A resposta no caso brasileiro deixa pouca dúvida, como se vê abaixo.

Das 900 pessoas adultas consultadas em todo o Brasil, 684 diante da sua situação atual e das perspectivas que enxergam para o futuro manifestaram a esperança que o bem-estar dos seus filhos seria melhor do que o seu. É difícil conciliar essa resposta com as manifestações de pessimismo que emanam de alguns setores da sociedade, principalmente o financeiro.

O levantamento da Pew contém outras informações que confirmam aquela esperança. É o caso, por exemplo, das respostas à questão: "Nos próximos 12 meses (de maio de 2013 a abril de 2014), a situação da economia nacional vai melhorar ou piorar?" (veja tabela "Resultados da pesquisa")

Existe uma certa correlação entre as duas respostas, mas a distância do Brasil e da China da mediana dos países emergentes (48, 25 e 17, respectivamente) revela claramente as expectativas mais otimistas dos seus cidadãos. Fato importante é que, quando a pesquisa pergunta se a situação pessoal do entrevistado é boa ou ruim, os aspectos positivos da situação brasileira se destacam, como se observa no quadro abaixo.

Uma questão fundamental revelada pela pesquisa é a sensação generalizada que a organização social em que vivemos, uma economia de mercado controlada pelas finanças (cujo codinome é "capitalismo financeiro"), é portadora de graves problemas de desigualdade, que favorecem os mais ricos. Em 31 dos 39 países participantes da amostra, mais de metade da população considera a desigualdade um grave problema (no Brasil, 75%).

Com algumas exceções, na maioria dos países há a sensação de que o funcionamento do sistema beneficia os mais ricos (no Brasil, 80%). O curioso é que em nenhum deles, com exceção da Alemanha (onde o nível de desigualdade cresceu enormemente), a redistribuição das riquezas é colocada como uma prioridade nacional.

Nessa perspectiva mundial, é difícil dizer que a economia brasileira vai tão mal quanto insistem alguns de nossos analistas financeiros. Temos sim problemas graves que precisam ser enfrentados, o mais importante dos quais é devolver à indústria nacional o vigor que lhe foi tirado por uma política econômica que, descuidadamente, roubou-lhe as condições isonômicas de competição.

A análise histórica dos levantamentos feitos pelo mesmo Pew Research, feitos de 2010 a 2013, deixam, entretanto, uma pequena preocupação. Aos olhos das pessoas consultadas no Brasil, a administração geral do país parece ter sofrido uma ligeira deterioração, ainda que a variação do indicador não seja significativa (tendo em vista os erros de amostragem). A resposta à mesma pergunta feita em todos os anos - "Em geral, você está satisfeito ou não, como as coisas estão indo hoje?" mostra isso (veja tabela "Grau de satisfação").




- Erosão De Confiança - Editorial Folha De Sp
FOLHA DE SP - 15/04Datafolha detecta queda de 39 pontos no otimismo com país e economia; Dilma enfrenta uma convergência de fatores eleitorais negativosNuma nação apaixonada por futebol a 58 dias de receber a Copa do Mundo, a acentuada retração...

- As Expectativas Parecem Ser Piores Que A Realidade - Editorial O EstadÃo
O Estado de S.Paulo - 21/08 Pesquisas divulgadas ontem pelas Confederações Nacionais da Indústria (CNI) e do Comércio (CNC) mostram que as expectativas para os próximos meses são não apenas ruins, mas piores do que justificariam os dados objetivos...

- O Povo Vai Bem, O País Vai Mal - ClÓvis Rossi
FOLHA DE SP - 20/06 Pesquisa de instituto dos EUA mostra 55% de insatisfeitos com o Brasil, daí os protestos O cada vez mais imperdível Delfim Netto puxou para sua coluna de terça-feira no "Valor Econômico" uma pesquisa que talvez ajude a entender...

- Mídia Estimula O Pessimismo No Brasil
Por Helder Lima, na Rede Brasil Atual: Para quem acompanha o noticiário sobre inflação e desemprego na grande mídia, o país está à beira do caos. "A mídia tem um comportamento em relação aos governos Lula e Dilma constante e regular de apresentar...

- Desemprego Gera Medo; No Brasil, Não
Do blog Viomundo: Nessa quarta-feira 20, a consultoria alemã GfK divulgou um estudo interessante, que a mídia brasileira fez questão de ignorar. A GFK apurou que o desemprego lidera a lista das principais preocupações em um grupo de 17 países pesquisados....



Geral








.