NÃO TENHO SACO PRA CLUBE DA LUTA
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NÃO TENHO SACO PRA CLUBE DA LUTA


- Eu sou a única mulher no filme e tudo que ganho é essa droga de vestido?

Vi Clube da Luta novamente, após quase dez anos (o filme é de 99), pra verificar se minha impressão inicial mudava. Minha impressão inicial foi: êta filme chato, interminável, machista, fascista, não entendo como tem tantos fãs, ainda mais fãs mulheres, já que me falta testosterona pra gostar dele. Depois que Clube ficou em décimo lugar entre os 500 Melhores Filmes da História da revista Empire, pensei: preciso rever isso, vai que eu estava errada? Pois é, não estava. Minha opinião não mudou. Sigo detestando o filme. Mas, como nunca escrevi sobre ele (fora para inclui-lo na minha lista pessoal dos piores dos anos 90), decidi fazê-lo agora.
Pra começar, Clube é uma das produções que já vi mais excludentes em relação às mulheres. Não é que exista apenas uma personagem feminina com um mínimo de destaque, a Marla (Helena Bonham Carter). Só consigo pensar em mais três mulheres que tenham falas no filme inteiro - a vítima de câncer, que implora para transar antes de morrer, a organizadora desse grupo de apoio, e a moça oriental que compra os sabonetes de luxo e diz que são os melhores. Há várias menções às mulheres, mas todas são pejorativas. O personagem do Brad Pitt diz que sua geração foi criada por mulheres, e deu no que deu. Ele e o Edward Norton (que, no final, descobrimos serem a mesma pessoa) coletam gordura descartada de cirurgias de lipoaspiração, e fazem sabonetes com ela. “Dividem” também a mesma mulher, que parece não ter outro propósito além de aliviar nosso pânico homofóbico. Ela funciona pra dizer aos espectadores: “Não se preocupem que o Brad e o Edward, que passam a viver juntos e se tocarem o tempo todo, através de lutas homoeróticas, não são gays! Um deles até transa com uma mulher, tá vendo?”. A principal fala dela no filme todo é que o carinha, apesar de esquisitão, é “espetacular na cama”.
Marla, definida por Brad como “uma predadora que posa de bicho de estimação”, representa a atração e a repulsa que tantos homens sentem por mulheres (que é ilustrado tão bem na cena da banheira em O Iluminado, aquela em que Jack começa a beijar e apalpar uma jovem e bela mulher, que se transforma numa velha em decomposição, também nua, causando-lhe absoluto pavor). No início, Edward vai a grupos de apoio a pacientes, entre eles um de pacientes com câncer testicular. Ele consegue chorar com um gordinho que possui o que Edward chama de “bitch tits” (tetas de vadia/fêmea/cadela). Em seu peito maternal, Edward pode chorar a sua miserável existência. Quando, em outro grupo, ele tem que visualizar seu animal interior, surge um pinguim (com voz feminina, pra piorar!). Não um leão ou um urso, que é o que se espera de um homem, e que deve ser o animal interior do Brad. Não, um pinguim. Edward é um fracote. Ele ainda decora seu apê com móveis caros da moda, algo que a nossa sociedade considera muito feminino (ou gay). O próprio Brad diz em outro filme do David Fincher, Seven, referindo-se a sua esposa pintando o novo apartamento, “Ainda há gente que se preocupa com a cor das paredes neste mundo”. Esse é um papel de mulher, nunca de homem. Quando Edward/Brad explodem o apartamento refinado, deixando pra trás os objetos (que não pertencem a eles, eles é que pertencem aos objetos), eles também abandonam seu lado feminino, frágil. Brad lembra Edward que pior que perder seu apartamento seria uma mulher cortar seu pênis e jogá-lo pela janela de um carro em movimento. Mulheres são um perigo ao que os homens têm de mais valor. E são castradoras.
Edward, por um tempo, no começo, sente conforto em estar com homens nos grupos de ajuda. Até que surge Marla. Ela é a ruptura, uma ameaça tão séria que, graças a sua presença, todo o mundo de Edward rui. É depois de confrontá-la que ele precisa inventar o Brad. Mesmo que eles a compartilhem (Brad só transa com ela, Edward só fala duramente com ela), eles não têm com ela qualquer intimidade. Mantêm segredos que ela não pode saber. Quando ela descobre esses segredos, precisa ser eliminada. Por incrível que pareça, nem Brad nem Edward, esses homens tão violentos e grossos, batem nela (se bem que, no final, ela reclama que os rapazes da organização bateram nela com uma vassoura, quase quebrando-lhe o braço). Mas tampouco é coincidência que Edward, que “quer desruir coisas belas”, acabe com o rosto de um rapaz com suaves feições femininas, cujo personagem chama-se Angel Face (feito pelo Jared Leto).
O consumismo exacerbado não é criticado nas mulheres, o que é estranho, já que, como disse a feminista Germaine Greer já nos anos 70, as mulheres precisam parar de ser as maiores consumidoras do capitalismo. Em Clube da Luta, são só os homens que precisam parar de consumir. Não se critica que as mulheres façam lipoaspiração. Apenas se comenta que a gordura dessas mulheres faz sabonetes de luxo e as melhores bombas. Pois é, as bombas são feitas de matéria-prima feminina, justamente num filme que exclui as mulheres. Aí tem.
Uma das cenas finais do filme. Falo mais de Clube da Luta aqui.




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