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Nó cego - JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SP - 03/12
Cabral não relacionou sua indicação a motivo algum. Mas Datafolha passa à frente de qualquer especulação
A indicação de Sérgio Cabral, comunicada de surpresa, ontem, sobre sua renúncia em março para candidatar-se ao Senado, deu um nó cego no que eram as mais enroladas preliminares das próximas eleições. Não só em razão dos sentimentos extremados que se opõem na pré-campanha, como pela importância agora atribuída ao Estado do Rio na eleição presidencial --o que está evidente na dedicação de Lula ao tema.
Feita a quatro meses do prazo para sua decisão, a indicação de Cabral não foi por ele relacionada a motivo algum, em especial. Mas o Datafolha passa à frente de qualquer especulação. Cabral recolhera-se à vida pessoal mais discreta e à mais cautelosa existência política, a ponto, por exemplo, de não buscar nem o mínimo fruto do novo e louvado Maracanã. Apesar disso, a sua aceitação, que estivera nas altitudes dos 55 pontos, caiu de já melancólicos 25 para 20. Os quais significam a perda de mais 20% dos apoios vistos na pesquisa anterior.
O aviso tão antecipado da retirada pode enfraquecer as intermitentes manifestações por sua renúncia, mas Cabral foi mais longe. Mesmo a candidatura ao Senado, dada como motivo de sua retirada ainda com nove meses de mandato, foi reduzida por ele a mera hipótese: "o partido é que vai decidir". Não. É ele quem vai ponderar suas condições eleitorais no próximo ano. E se a eleição para governador pender para um adversário extremado, aí é dar tudo para revestir-se das conveniências de uma senatória.
Mas a retirada de Cabral não se passa à margem da candidatura de Luiz Fernando Pezão à sua sucessão. Vice-governador incumbido das obras, Pezão está na parte inferior das pesquisas e só foi lançado pelo governador com base na confiança, então possível, de que Cabral lhe transferisse uma base expressiva de votos. E agora, o comunicado da futura retirada de um é sinal da retirada também da candidatura? A questão leva diretamente às transações petistas para a eleição presidencial.
Manter o convívio de PT e PMDB é tido por Lula como um objetivo fundamental. Lindbergh Farias, considerado pelo PT como candidatura inegociável ao governo estadual, passou as últimas semanas sob forte pressão de Lula para segurar os petistas por mais tempo em seus cargos no governo Cabral. Tempo suficiente, embora Lula não o diga, para uma negociação que junte em uma só chapa os candidatos dos dois partidos. Combinação tida como tranquilizadora contra a ameaça que se chama Anthony Garotinho, líder nas pesquisas, com amplo eleitorado no interior do Estado, capaz de atrair uma fatia do PMDB e, para encurtar, apoio a Dilma ainda bastante incerto.
A complicação no Rio já era bastante para sustentar a ideia de que Dilma Rousseff não visitasse o Rio durante a campanha, pela impossibilidade de ter três ou quatro palanques no Estado ou, como péssima alternativa, deixar de ir a dois ou três. Pois a complicação aumentou, mesmo que em futuro próximo aparente certo arranjo --por exemplo, entre o PT e o PMDB.
PESAR
Dom Waldyr Calheiros, bispo de Volta Redonda de 1966 a 2000, foi um dos mais bravos entre os prelados da primeira linha no enfrentamento com a ditadura. Chegou a ser sequestrado por militares e padecer nas mãos deles. Mas não recuou, nem quando sob pressões originárias do Vaticano.
Mesmo com sua morte simultânea à de um diretor de gravadora de discos, logo, uma celebridade nacional, dom Waldyr Calheiros merecia mais reconhecimento dos meios de comunicação. Afinal, todos os que batalharam contra a ditadura, como dom Waldyr Calheiros, fizeram mais pela liberdade dos meios de comunicação do que eles próprios.
Governador Marcelo Déda: muito talentoso, íntegro, vocação de homem público como se vê cada vez menos.
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