Por Pedro Rafael, no jornal Brasil de Fato:As últimas semanas foram marcadas por episódios que acenderam o clima de disputa pelo governo federal, a mais de um ano da campanha presidencial de 2014. Entre atos públicos e declarações diversas, ao menos quatro dos prováveis protagonistas do próximo pleito movimentaram peças que podem influir no cenário eleitoral que apenas começa a se desenhar.
No dia 16 de fevereiro, a ex-ministra e ex-senadora Marina Silva lançou seu partido, batizado de Rede Sustentabilidade. Para ter alguma viabilidade eleitoral, a agremiação precisa reunir 556 mil assinaturas em nove estados até setembro. Todo esforço dos primeiros dias do novo partido é justamente a coleta das assinaturas, tarefa que tem sido executada pessoalmente por Marina, na tentativa de constituir a força política institucional que lhe permita entrar na disputa, ou pelo menos intervir nela.
Tucanos antecipamNo PSDB, a “agenda eleitoral” já havia sido inaugurada no fim do ano passado, quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso anunciou que o senador Aécio Neves é o nome da oposição de direita que travará a disputa com Dilma Rousseff (PT). Aécio, desde então, tem esboçado uma projeção nacional ao incidir em debates sobre as medidas do governo e, inclusive, assumir defesa do período tucano na presidência (1995-2002).
No projeto que tratou da redução nas contas de energia elétrica, por exemplo, o senador e também ex-governador de Minas Gerais posicionou-se claramente contra a medida. No embate mais recente “elegeu” os 13 fracassos do PT no governo, para se contrapor à festa de 33 anos de fundação do partido governista, no dia 20 de fevereiro.
“Acho que Aécio e o PSDB estão fazendo a coisa certa, do ponto de vista deles. Assumindo com clareza um delineamento ideológico, que começa resgatando a herança do governo FHC, passa por estimular o antipetismo e se conclui com a apresentação de um programa de governo que é a volta do malanismo [em referência à política econômica do ex-ministro da Fazenda, Pedro Malan]. Não se faz política sem núcleo duro de ideias. Eles têm força eleitoral, apoio institucional, uma candidatura competitiva e estão assumindo um programa claro. Um desastre total para a maioria do povo brasileiro, mas um programa claro”, avalia Valter Pomar, membro do Diretório Nacional do PT.
O advogado Ricardo Gebrim, da Consulta Popular, entende que o movimento antecipatório serve, ao mesmo tempo, para testar o potencial do pré-candidato do PSDB e consolidar a aliança de classe necessária ao enfrentamento eleitoral. “A parcela da burguesia que o PSDB está tentando representar é o setor financeiro, que tem interesse grande na área de energia, um elemento motivador para a negativa dos governos tucanos em endossar a redução da eletricidade. É o setor que teria capacidade de bancar, juntar dinheiro”, argumenta.
Na opinião de Eliana Graça, assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Dilma “foi mais longe” que Lula no enfrentamento ao setor financeiro, o que pode desencadear a conformação dos apoios para as eleições. “A presidenta mexeu com interesses muito poderosos, ao reduzir a taxa Selic, e evitando que os juros voltem a subir. Esse setor vai querer peitar o governo”, prevê.
Lula atiça a mídiaPara o vice-presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, coube a Lula o papel de insuflar a mídia na antecipação do debate eleitoral. “Podem juntar quem quiserem, vamos dar como resposta a reeleição [da Dilma]”, pronunciou o ex-presidente da República no ato que celebrou os 33 anos de fundação do PT. Presente à festa, Amaral não gostou do tom. “Lula detonou o clima eleitoral. Isto, a imprensa já vinha fazendo. Agora, por razões que ninguém sabe, só ele, o debate foi antecipado. Do meu ponto de vista, achei desnecessário, pois todo mandatário é candidato natural à presidência”, provocou, em entrevista ao Brasil de Fato.
Valter Pomar, da direção nacional do PT, reage à ideia de que o partido acelerou a própria sucessão. “Quem precisa antecipar a campanha eleitoral é a oposição. Marina precisa constituir seu partido, Aécio precisa ganhar seu partido e Eduardo Campos (PSB) precisa tomar partido, entre ser situação e oposição.
Mas, para disfarçar seus problemas e fragilidades, a oposição acusa o governo de ter antecipado o debate eleitoral”, cutuca. Pomar lembra que a escolha pela reeleição havia sido deliberada ainda em 2010. “Nem o PT nem a Dilma podem ser proibidos de debater política com a sociedade. Nem podem nos privar do direito de reagir aos ataques. Quando eles nos atacam, dizem que é debate político legítimo, quando nós devolvemos, eles dizem que é campanha eleitoral antecipada”, complementa.
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