Nova caça aos dólares - EDITORIAL O ESTADÃO
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Nova caça aos dólares - EDITORIAL O ESTADÃO


O ESTADO DE S. PAULO - 06/06
O governo tem pelo menos dois bons motivos para desejar mais capital estrangeiro aplicado em papéis de renda fixa, incluídos os títulos do Tesouro. Ao reduzir a zero o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) cobrado nesse tipo de operação, o Ministério da Fazenda combate o efeito do câmbio sobre a inflação e prepara o País para uma piora das condições internacionais de financiamento. A desvalorização do real em relação ao dólar havia chegado a 4,3% nas duas semanas anteriores à nova medida. Essa variação pode ser muito pequena para afetar o quadro geral dos preços.

Mas a tendência no mercado internacional é de novas altas da moeda americana, se o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) adotar, como se espera, uma política menos expansionista. O governo brasileiro decidiu antecipar-se a essa tendência, preparando-se também para maiores dificuldades na cobertura do buraco das contas externas - o déficit em transações correntes, já na altura dos 3% do Produto Interno Bruto (PIB).

No Brasil, o câmbio oscilou amplamente no primeiro dia de vigência da nova regra. Caiu no começo do dia, passou por altas e baixas durante a manhã e no começo da tarde estava novamente em alta, porque as informações do exterior pesaram mais nas decisões.

A redução do IOF, como disse o ministro Guido Mantega, é medida para produzir efeito em prazo mais longo. Nesse prazo mais longo, o cenário será, segundo a previsão corrente nos mercados, de valorização do dólar. Isso ocorrerá - e de fato já vem ocorrendo - se o Fed reduzir ou abandonar a política de compras de papéis do Tesouro americano e de títulos lastreados em hipotecas. Enquanto essa política durar, o banco central americano poderá jogar no mercado US$ 85 bilhões por mês, alimentando o tsunami monetário denunciado mais de uma vez pela presidente Dilma Rousseff.

A decisão dos dirigentes do Fed vai depender, segundo anunciaram, da evolução da economia americana. Se a recuperação se consolidar e o desemprego continuar em queda, a estratégia de afrouxamento monetário será abandonada, provavelmente de forma gradual.

Nesse caso, cessará a inundação de dólares, mesmo antes de um aumento dos juros básicos nos Estados Unidos. Esse aumento é por enquanto uma possibilidade remota, mas o cenário dos mercados já será alterado se o Fed reduzir a emissão de moeda. Nesse caso, o custo dos financiamentos já deverá subir, nos mercados, mesmo sem alteração da taxa definida pela autoridade monetária.

Autoridades brasileiras criticaram, durante anos, as políticas monetárias frouxas seguidas nos Estados Unidos, na Europa e, mais recentemente, no Japão. A grande emissão de moeda no mundo rico foi caracterizada pelo ministro Guido Mantega como guerra cambial, como se o objetivo principal da expansão monetária fosse a desvalorização do dólar, do euro, da libra e do iene. Essa política seria prejudicial ao Brasil porque o real valorizado tornaria a produção nacional mais cara e menos competitiva.

Agora o governo brasileiro se preocupa com o fenômeno oposto, a valorização excessiva da moeda americana. O efeito inflacionário dessa mudança tende a ser limitado, segundo o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Podem ter razão, mas poderia ser perigoso menosprezar esse problema. De toda forma, um maior ingresso de dólares no Brasil poderá neutralizar apenas em parte a tendência do mercado global.

Esse ingresso poderá principalmente facilitar a cobertura das contas externas, se o déficit em conta corrente continuar em expansão. Essa é a tendência mais provável, se a balança comercial continuar em deterioração, com as importações de mercadorias crescendo mais velozmente que as exportações. Como ação preventiva a redução do Imposto sobre Operações Financeiras sobre o capital estrangeiro pode ser defensável, mas o problema central das contas externas é o baixo poder de competição da economia nacional. Para cuidar disso, no entanto, é preciso um esforço muito maior por um período longo.




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