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Nova reação de manada no horizonte - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
VALOR ECONÔMICO - 15/07
Um dos analistas das coisas da economia americana que mais respeito surpreendeu-me ao mudar recentemente sua posição em relação às próximas ações do Fed [o Banco Central americano]. Para ele, o Fed vai declarar o início do processo de redução dos estímulos monetários em sua próxima reunião, em setembro próximo. Até agora defendia que o Fomc - braço operacional da política monetária nos Estados Unidos - deveria esperar um pouco mais para tomar essa decisão. Seu argumento principal, na defesa da continuidade do chamado QE, é que o ajuste fiscal em andamento na terra do Tio Sam tem mantido o crescimento da economia bem abaixo do seu potencial. Reforçava essa sua posição o fato de que a inflação na maior economia do mundo está correndo abaixo da marca de referência para o Fed, que é de 2% ao ano.
Com a publicação, na última quarta feira, das minutas da reunião do Fomc - que trouxe mais dúvidas do que esclarecimentos sobre seus próximos movimentos - Ian Shepherdon mudou suas previsões. Mesmo usando a linguagem cifrada e hermética, tão comum a esses fóruns monetários oficiais, onde se misturam expressões como "muitos", "alguns" e a "maioria" sem uma sequência lógica, o relatório termina com uma decisão democrática: a maioria dos membros concorda em começar a redução dos estímulos monetários até o fim do ano, se a economia continuar a crescer na velocidade estimada pelo Fed.
Sacramentado - pelo menos para a maioria do mercado - o começo do fim dessa experiência monetária ímpar na maior economia do mundo, os investidores começam a se preparar para a volta à normalidade na estrutura de juros dos títulos denominados em dólares. E a grande questão do momento é exatamente o que representará essa volta do crescimento sustentado nos Estados Unidos para as outras economias, tanto no mundo emergente como no desenvolvido.
Para muitos essa normalização deve criar um novo Tsunami Monetário, com as águas que correram nos últimos anos atrás de títulos mais exóticos - leia-se mundo emergente - na busca de algum rendimento real voltando a seu leito normal de títulos em dólares. Reforça esse sentimento o fato de que, depois de anos de recessão no mundo desenvolvido, mesmo as economias emergentes mais pujantes estão vivendo um período de vacas magras e de perda de brilho. Uma situação típica para criar de forma irracional esse novo Tsunami Monetário às avessas.
Os movimentos dos mercados nas últimas semanas mostram que esta primeira leitura foi dominante logo de início até nos mercados do primeiro mundo. A força das águas foi tanta que - durante um curto período de dias - até mesmo as cotações das ações americanas caíram mais de 4%, pois os juros elevados tirariam os investidores de mercados de maior risco. Esse movimento durou uns poucos segundos de insanidade e logo Wall Street retomou seu movimento de alta, sobrando para os mercados de câmbio e ações no mundo emergente a fúria das vendas de investidores assustados. Ainda nesta semana, talvez assustado com a reação a seu discurso mais duro, o presidente do Fed, Ben Bernanke, veio a público qualificar suas palavras, no melhor estilo do "senta que o leão é manso".
Recentemente algumas vozes mais tradicionais começaram a refletir sobre outras consequências que a normalização da economia americana, depois de quase 6 anos de uma crise infernal, poderia trazer para o mundo. Algumas perguntas inteligentes começaram a ser ouvidas nas salas de operações das grandes e médias instituições financeiras espalhadas pelo mundo. Se foi a crise bancária americana a grande fagulha que levou o mundo todo a uma situação de quase catatonismo financeiro, não será possível que a volta do crescimento nos Estados Unidos se espalhe pelo mundo todo e recoloque de pé novamente outras economias?
Não será a força da economia americana suficiente para permitir que, mesmo a Europa doente e o Japão revivido pelo dólar valendo 100 yens, voltem a crescer? O mesmo não pode ocorrer com a China que vive agora um ajuste estrutural na sua economia, com o foco das ações do governo voltado para explorar um já gigantesco mercado interno? Com a demanda americana trazendo alguma recuperação a suas exportações do país de Mao, esse processo de reciclagem será facilitado e, talvez, aceito com maior credibilidade pelos mercados. Esta me parece ser uma forma realista e construtiva de encarar a mudança na política monetária americana como início de uma volta a um período em que o crescimento econômico era o padrão para todos nós.
Entendo que os últimos anos trouxeram uma nova geração de analistas e especuladores aos mercados, treinados a reagir com violentos movimentos de venda dos chamados ativos de risco a qualquer sinal de crise. Como citei acima e usando o índice FTSE 100 da Bolsa de Londres como referência, o mercado de ações caiu 5% ao ser divulgado o texto da última decisão do Fomc e na última sexta feira tinha subido mais de 8% superando em 2% o nível anterior. Uma oscilação dessa dimensão, em um mercado com a volatilidade do FTSE100 é um sinal claro dessa verdadeira "malaise" profissional que vivemos hoje. Por esta razão a volta a tempos mais normais nos mercados vai ter que passar ainda por muita gente perdendo muito dinheiro nesta corrida maluca de correr atrás do caos.
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