O "novo" Aécio e a senzala social
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O "novo" Aécio e a senzala social


Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

A “coluna social” de Monica Bérgamo, na Ilustrada da Folha de hoje, é um retrato sem retoques do que representa Aécio Neves.

Representa Fernando Henrique Cardoso, nada mais, nada menos.

Leia.

É uma visão dantesca do Brasil que, tomara, tenha ficado sempre para trás.

O Brasil governado para o capital.

Não para o povo.

Não para “os que votam como o estômago”, como diz o banqueiro André Esteves.

Esta gente que tem o estranho desejo de comer todo dia, desatenta ao fato de que sempre foi preciso que passasse fome para que os salões do nosso capitalismo brilhassem.

“Esgotou (-se) a capacidade de crescer pelo consumo (da população).”

É como se dissessem: “chega, você já tiveram o que merecem, acabou o recreio, voltem para a senzala social”.

Sonham com a “reconquista” do Brasil, porque não querem o povo brasileiro como parceiro de seu sucesso, mas como uma massa de servos de seus empreendimentos.

Uma elite que não se emenda, que nem mesmo tendo visto do que este país é capaz quando é um só, não aceita os pobres, os negros, os mestiços, o povão senão ali, nas caras telas de Di Cavalcanti penduradas na parede da mansão.

Eles são lindos assim: imóveis, passivos, decorativos.

“Estou preparado para as decisões necessárias, por mais que sejam impopulares”, garante Neves, e um empresário traduz: aumentar as tarifas públicas.

Não o dirá aos que votam com o estômago, mas que importa? Pois se podem ser deixados sem comer, o que é deixá-los sem saber? Eles não estão aqui, senão nos servindo canapés e não entendem o que se diz.

Não vão saber, como não saberão que será vendido o que sobrou do período Fernando Henrique e o petróleo que depois dele se encontrou.

Os negros, os mulatos, os pobres dos quadros de Di Cavalcanti tudo ouvem, porém, nas paredes da mansão.

Fugiriam das telas, se pudessem, para dizer aos seus iguais, de carne e osso o que dizem os “sinhôs”.

Não podem, mas nós podemos.

O que se vai enfrentar nas eleições não é uma decisão sobre o futuro.

É um fantasma do passado.

*****

Aécio: estou preparado para decisões impopulares

Mônica Bergamo

No pequeno púlpito montado na sala de jantar de sua casa, tendo como fundo uma parede com quadros de Di Cavalcanti, João Doria Jr. chama Aécio Neves para falar à seleta plateia de empresários que foram ao encontro com o presidenciável tucano. “Um jovem amigo. Um dos mais valorosos nomes da política brasileira. Ele é o novo!”

Os convidados, que já tinham aplaudido os governadores Geraldo Alckmin, de SP, e Antonio Anastasia, de Minas, voltam a bater palmas.

Mas é quando Fernando Henrique Cardoso é anunciado que o público realmente se empolga.

Empresários como José Luiz Cutrale, maior produtor de suco de laranja do mundo, André Esteves, do BTG Pactual, Guilherme Leal, da Natura, e Luiz Carlos Trabuco, do Bradesco, se levantam para aplaudir aquele que, segundo Doria, é um “exemplo de homem público”, “de ser humano”, “de brasilidade”, “de estadista”. E o grande fiador da candidatura de Aécio.

Antes de ceder o microfone, Doria fala dos 50 anos do golpe militar. “Viva a democracia!”, afirma. E todos, em uníssono: “Viva!”.

FHC se diz “sem palavras”. E inicia um breve discurso de apresentação de Aécio.

Lembrando seu próprio governo, acena com a possibilidade de reformas numa eventual gestão do tucano mineiro. “O reformador só é aplaudido depois de muito tempo.” O Brasil precisa de um novo rumo, segundo ele. “E não dá para mudar com as mesmas pessoas. O cachimbo deixa a boca torta.”

Antes de falar, Aécio chama Armínio Fraga, presidente do Banco Central no governo FHC, para ficar ao seu lado, sinalizando que ele terá papel primordial na condução da economia em seu eventual governo. “Ninguém tem o time que nós temos”, diz o mineiro. “Vou anunciar aos poucos quem estará comigo. Esse time dará confiança ao mercado.”

Aécio segue: “Eu conversava com o Armínio e ele me perguntou: Mas é para [num eventual governo] fazer tudo o que precisa ser feito? No primeiro ano?’. E eu disse: Se der, no primeiro dia’”.

“Eu estou preparado para tomar as decisões necessárias”, diz. “Por mais que elas sejam impopulares.” Num outro momento, repete: “Se o preço [das medidas] for ficar quatro anos com [índices de] impopularidade, pagarei esse preço. Que venha outro [presidente] depois de mim”. Sua ambição, diz, não é ser querido. E sim “fazer o maior governo da história do país”.

O tucano não detalhou que medidas seriam essas. Um dos empresários disse à Folha: “Ele está querendo dizer que vai reajustar tarifas. Não dá mais para empurrar com a barriga, como o governo [Dilma Rousseff] está fazendo, por populismo”.

Começam as perguntas. O banqueiro André Esteves diz que o país vive numa “armadilha do baixo crescimento”, em que se “esgotou a capacidade de crescer pelo consumo”. “Temos que investir” e, para isso, o governo tem que despertar “a confiança”.

Horacio Lafer Piva, ex-presidente da Fiesp, pergunta como o presidenciável fará sua mensagem chegar “aos que votam com o estômago”, referindo-se aos beneficiários de programas sociais do governo. Jorge Gerdau pede que ele se comprometa a não aumentar a carga tributária.

Depois de responder a todas as perguntas, Aécio Neves se despede com uma brincadeira: “Se tudo der errado, eu tenho um craque para entrar em campo”. Ele, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.




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