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O avanço chinês - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S. PAULO - 27/09
No campo comercial, o Brasil estabeleceu com a China uma relação de disputa, que está perdendo, e de dependência, que vai se acentuando. De um lado, tradicionais importadores de produtos brasileiros passaram a comprar mais bens fabricados na China. De outro, com a crescente demanda por produtos agrícolas e matérias-primas, a China aumentou suas compras do Brasil numa velocidade tal que se tornou o maior importador de produtos brasileiros, tendo superado os Estados Unidos, há alguns anos, e também a União Europeia, mais recentemente.
Depois de abocanhar fatias do mercado brasileiro que pareciam exclusivas da indústria nacional, também no mercado internacional a China está conquistando espaços que antes eram ocupados pelo produto brasileiro. O que espanta é a rapidez com que cresce a presença do produto chinês, sobretudo em países considerados parceiros comerciais tradicionais do Brasil.
A diferença de atitude do Brasil e da China na disputa por mercados, com evidente vantagem para o país asiático, tornou-se particularmente danosa para as exportações brasileiras depois da crise nos países industrializados. A crise comprimiu a demanda por importações em muitos países, mas, enquanto o Brasil se acomodou a essa realidade, a China buscou mercados alternativos.
Os resultados são nítidos - e ruins para o Brasil. Nos últimos cinco anos, os produtos chineses aumentaram suas fatias em mercados tradicionais de produtos brasileiros, como os do Mercosul (Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela), Aladi (membros plenos do Mercosul mais Bolívia, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México e Peru) e do Nafta (Estados Unidos, Canadá e México).
Em 2008, no início da crise, esses países absorviam 38,5% das exportações brasileiras; no ano passado, a fatia foi de 31,9%, de acordo com estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (ledi). Nesse período, enquanto as exportações brasileiras para os três blocos aumentaram 1,9% (bem menos do que as exportações totais do País, que cresceram 23,4%), as exportações chinesas para esses países subiram 47,6%, mais do que as exportações totais (42,8%). Os principais compradores de produtos brasileiros continuaram a importar mais, mas passaram a importar proporcionalmente mais da China do que do Brasil.
Quando as exportações dos dois países cresceram, as da China cresceram mais depressa; no caso em que os produtos chineses e brasileiros perderam espaço nos países do Mercosul, da Aladi e do Nafta, os do Brasil perderam mais.
A China, observe-se, vem ampliando rapidamente também sua fatia no mercado brasileiro. Há anos, a indústria reclama desse fato, sem conseguir dar uma resposta adequada a ele. Embora existam, não são apenas práticas comerciais condenáveis que asseguram a participação crescente do produto chinês no mercado brasileiro. A principal explicação para isso é o aumento da competitividade do produto chinês, que o brasileiro não acompanhou. A baixa competitividade brasileira resulta em perdas de espaço em todos os mercados onde o produto nacional enfrenta a concorrência chinesa.
Ironicamente, a China evitou que, nos primeiros sete meses deste ano, as exportações brasileiras caíssem bem mais do que caíram. Se as vendas para a China não tivessem crescido 10,3% em relação a 2012, nossas exportações totais teriam caído 5,5%, e não apenas 0,8%, como acabou ocorrendo.
As exportações brasileiras para a China vêm crescendo rápida e constantemente. Há quatro anos, a China superou os Estados Unidos como principal país de destino dos produtos brasileiros e, agora, passou à frente também da União Europeia. A demanda chinesa tem evitado resultados ainda piores da balança comercial do Brasil, mas ela pode consolidar a dependência brasileira ao mercado chinês, cuja demanda, que se concentra em matérias-primas e produtos agrícolas, tende a reduzir a diversidade da pauta de exportações do País.
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