O BC e o rombo externo - EDITORIAL O ESTADÃO
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O BC e o rombo externo - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 27/03

Não se pode mesmo confiar no Banco Central (BC) e no IBGE. Como serpentes traiçoeiras aninhadas na administração federal, as duas instituições continuam divulgando notícias negativas sobre a economia brasileira, como inflação elevada, balanço de pagamentos em mau estado e baixo crescimento. Estarão a serviço da mídia empenhada, segundo a cúpula do PT, em "pintar um quadro aterrorizador para influenciar as eleições"? Em mais uma perfídia, o BC divulgou novas projeções sobre as contas externas: no fim do ano estarão em condição pior do que a estimada até o mês passado. Na projeção revista, sobe para US$ 80 bilhões o buraco na conta corrente do balanço de pagamentos, resultado pouco melhor que o do ano passado (US$ 81,37 bilhões). Na estimativa anterior, mantida por vários meses, o rombo de 2014 ficaria em US$ 78 bilhões.

A diferença de US$ 2 bilhões corresponde à mudança na previsão do saldo comercial, reduzida de US$ 10 bilhões para US$ 8 bilhões. Essa redução é explicável pelo novo valor projetado para as exportações, de US$ 253 bilhões. O déficit em conta corrente será coberto apenas em parte pelo investimento estrangeiro direto, estimado em US$ 63 bilhões. No ano passado, quando o ingresso líquido desse tipo de investimento chegou a US$ 64,04 bilhões, o País já dependeu de recursos de outro tipo, menos estáveis e geralmente mais especulativos, para cobrir o rombo. A deficiência já ocorreu no primeiro bimestre, quando o investimento direto ficou em US$ 9,23 bilhões e o déficit, em US$ 19,04 bilhões.

A conta corrente é formada pela soma da balança comercial (mercadorias) com os balanços de serviços e rendas e de transferências unilaterais. A conta de serviços inclui itens como viagens internacionais, fretes e aluguéis de equipamentos. Na de rendas aparecem a remessa de lucros e o pagamento de juros, entre outros itens. Remessas pessoais e dinheiro enviado por trabalhadores são registrados nas transferências.

A conta de mercadorias é tradicionalmente superavitária. As de serviços e rendas são amplamente deficitárias. As transferências proporcionam em geral um pequeno resultado positivo, mas o saldo dessa conta no ano passado, de US$ 3,36 bilhões, foi maior que o do comércio de bens, de US$ 2,56 bilhões. Em 2012, o saldo comercial, já em queda acentuada, havia ficado em US$ 19,4 bilhões.

Um detalhe em geral pouco notado é a estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) embutida nas projeções das contas externas. Se os cálculos do BC estiverem corretos, o valor em dólares do PIB brasileiro será este ano ligeiramente menor que em 2013. Pelos dados implícitos na tabela do BC, haverá uma redução de cerca de US$ 2,24 trilhões para aproximadamente US$ 2,22 trilhões. Traduzindo: na conversão do PIB para a moeda americana, a depreciação cambial pesará mais que o baixo crescimento da produção estimada para 2014 pelo BC. De toda forma, o dado mais importante é a expectativa de uma expansão econômica ainda medíocre, ou abaixo disso, no quarto ano de mandato da presidente Dilma Rousseff. Essa expectativa tem estado em torno de 2,3%, uma repetição, portanto, do desempenho do ano passado.

As últimas estimativas coletadas no mercado pela pesquisa Focus, do BC, também apontam um cenário ruim, embora com números diferentes. Os especialistas do mercado reduziram de US$ 78 bilhões para US$ 75 bilhões a projeção do buraco na conta corrente, mas cortaram de US$ 5 bilhões para US$ 4,71 bilhões o superávit estimado para a balança comercial. Devem ter melhorado, portanto, os valores previstos para rendas e serviços.

Nos cálculos do mercado, a piora do saldo comercial parece acompanhar o maior pessimismo em relação ao crescimento do produto industrial. A expansão prevista para este item passou de 1,87% há um mês para 1,44% há duas semanas e 1,41% na última sexta-feira, data da pesquisa divulgada na manhã de segunda-feira. Os números da pesquisa publicados semanalmente são as medianas nas projeções coletadas no mercado.




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