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O Brasil fora do ritmo - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 09/04
A economia mundial está mais forte e deve continuar melhorando nos próximos anos, mas o Brasil permanecerá em marcha lenta, segundo as novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI). Os fatos têm confirmado, até agora, as tendências apontadas em outubro. A recuperação prossegue no mundo rico, a reforma econômica avança na China, vários países latino-americanos mostram vigor e até na África Subsaariana há sinais animadores, mas o Brasil destoa do conjunto, como já acontecia em 2013. Nenhum dos números divulgados aponta uma crise iminente, até porque o País dispõe de reservas superiores a US$ 370 bilhões. Mas os dados mostram fundamentos frágeis - como inflação muito alta combinada com crescimento medíocre.
O governo brasileiro protestou e esperneou, quando o País foi incluído entre os mais vulneráveis a choques cambiais e financeiros, num relatório do Federal Reserve. Esperneou de novo quando a Standard & Poor's cortou a nota de crédito brasileira. Mas esses protestos não afetam os analistas bem informados sobre as condições do País.
Os economistas do Fundo recomendam mais aperto na política econômica brasileira. "Apesar dos aumentos substanciais da taxa básica de juros no ano passado, a inflação continua no limite superior da banda", diz o Panorama Econômico Mundial, relatório semestral do FMI. "A consolidação fiscal ajudaria a reduzir a pressão da demanda interna e a diminuir os desequilíbrios internos, além de contribuir para baixar uma dívida pública relativamente alta." Enfim, também é preciso cuidar dos gargalos da oferta.
Em apenas um parágrafo, os autores do relatório resumiram os principais entraves ao crescimento mais rápido e seguro da economia brasileira. Em outro capítulo há mais detalhes sobre as limitações da oferta, incluídos os problemas de infraestrutura e a insuficiência do investimento privado. Esses problemas remetem à perda de competitividade e à baixa confiança do empresariado. Ao tratar das perspectivas de crescimento econômico, os autores do texto usam a expressão "marcha lenta". Pelas novas projeções, o PIB deve crescer 1,8% neste ano e 2,7% no próximo, muito menos que em outros países sul-americanos, como Peru (5,5% e 5,8%), Colômbia (4,5% em cada um dos anos), Chile (3,6% e 4,2%) e Paraguai (4,8% e 4,5%).
A perda de potencial de crescimento é um problema global e só será resolvida, segundo os técnicos do Fundo, com mais investimentos e com reformas. A pauta inclui, no caso da Europa, principalmente reformas institucionais (no mercado de trabalho, por exemplo). A recomendação para os latino-americanos acentua os investimentos produtivos em infraestrutura e em capital humano, além da formalização maior do emprego e da melhor regulação dos negócios. O grande resultado, na América Latina, deve ser o aumento da produtividade e da competitividade. Tudo isso vale para o caso brasileiro. Se alguém tiver dúvida quanto aos problemas de capital humano, basta dar uma espiada nos testes internacionais de educação e ver a classificação dos brasileiros, no fim da lista.
Todos esses problemas são bem conhecidos e se refletem em vários indicadores. O baixo crescimento industrial, a estagnação do PIB e a deterioração do comércio exterior estão claramente vinculados às deficiências do investimento público e privado e às misérias da educação, embora alguns analistas insistam em apontar o câmbio valorizado como a grande causa dos problemas econômicos nacionais. Esses analistas aparentemente nunca se perguntaram por que as exportações ficaram emperradas e as importações cresceram mesmo quando o câmbio se desvalorizou, nos últimos dois anos.
Se o crescimento continuar no mundo rico, haverá mais oportunidades de exportação para os emergentes, exceto, é claro, para os menos preparados. Ao mesmo tempo, a redução dos estímulos monetários nas economias desenvolvidas, consequência do maior crescimento, poderá dificultar o financiamento. O governo brasileiro deveria estar preocupado com essas duas tendências.
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