O brilho da poupança - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
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O brilho da poupança - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE


CORREIO BRAZILIENSE - 09/01
A boa e velha caderneta de poupança continua dando lições. Assim como no futebol, quando a torcida aplaude ou vaia, demonstrando admirável bom senso e espontânea maioria, a mais popular forma de aplicar pequenas economias desafia a sofisticação da engenharia financeira. Desprezando os arranjos montados para produzir rendimentos que superem com folga as perdas com a inflação, a poupança fechou 2013 com mais um recorde de captações líquidas.
Descontados os saques, o saldo do ano ficou em R$ 71 bilhões, um crescimento de 43% sobre os R$ 49,7 bilhões de 2012, que já tinham sido o melhor resultado desde o início do Plano Real. E tudo isso em mais um ano de modestíssimo crescimento da economia e de inflação acima do centro da meta, de 4,5%. O resultado é que milhões de brasileiros terminaram 2013 com R$ 597,9 bilhões guardados na caderneta. Em troca, tiveram rendimento médio de R$ 30,6 bilhões.

Não faltam operadores do mercado financeiro que estranham essa opção de tanta gente, se há alternativas capazes de render mais. Para piorar, desde que o governo foi obrigado a mexer nas regras da poupança em maio último, para permitir o corte na taxa Selic, a velha caderneta ficou ainda menos atraente, do ponto de vista do rendimento. Pela lógica desses profissionais, a poupança seria gradualmente abandonada pelas pessoas de renda média para cima.

De fato, com a Taxa Referencial (TR) zerada durante meses, os depósitos feitos depois de maio de 2012, portanto, na regra nova, fecharam 2013 com rendimento (nominal) de 6,37%, ajudados, em parte, pela retomada da alta da Selic. Mas, como a inflação medida pelo IPCA ronda os 5,74%, o ganho real dos poupadores não deve ter ido além de 0,61%, um dos piores em nove anos.

Nem por isso se espera que a poupança deixe de ter a preferência dos brasileiros em 2014. Pelo contrário, já passa de 10 mil o número de depositantes em contas de mais de R$ 1 milhão, contingente que cresce a cada ano. Afinal, não é no rendimento que está a razão da escolha. No país, a maioria dos investidores gosta de regras claras, detesta explicações complicadas, não quer perder tempo negociando taxas com gerentes e prefere a segurança ao risco, a simplicidade à sofisticação.

A mais popular das aplicações é também a mais democrática: a remuneração, a facilidade de aplicação e as atenções do gerente não variam conforme o saldo do cliente. São iguais para todos. Não é só isso. Esfolado por pesada carga tributária, que sabe que paga, mas não sabe explicar direito como ela é composta nem quem cobra (União, estado ou município), o brasileiro escolhe a poupança também para fugir do imposto. Por ter controlado gastos e poupado, considera desaforo pagar a quem não consegue fazer nem isso.

O que os depositantes esperam é que o governo veja a poupança popular como algo a ser incentivado. Ajuda a financiar a casa própria, permite a compra à vista, evita o endividamento das famílias e educa o cidadão comum para o consumo consciente. Inventar complicadores para ela ou, pior ainda, impostos para onerá-la será dar tiro no pé.




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