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O calote é coisa séria - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 11/06
É preocupante o que andam informando a maioria dos indicadores da economia brasileira. Entre eles, há um de pouco brilho, mas de muita importância como sinalizador da saúde financeira daquele que deveria ser o principal foco das atenções: o consumidor. Trata-se do índice de inadimplência, palavrão que traduz o popular cano, calote ou, simplesmente, a incapacidade do comprador a prazo, do tomador de empréstimos ou de usuários de serviços permanentes de pagar as contas.
Instituições especializadas na tarefa de medir diariamente o número dessas pessoas e o valor de suas dívidas - como o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), mantido pela Confederação Nacional dos Dirigentes Logistas (CNDL) e a multinacional Serasa Experian - vêm alertando para o crescimento acelerado do número de famílias endividadas no Brasil. Não é algo que chegue às manchetes, mas o problema acaba de ganhar uma proporção que deixa os especialistas em alerta.
No relatório sobre a inadimplência em maio, o SPC Brasil constatou um crescimento de 9,56% do número de pessoas com suas contas em atraso, em relação a maio do ano passado. É o percentual de aumento mais alto desde o início da série histórica, em 2010. Segundo o relatório, entre abril e maio deste ano, 1,2 milhão de pessoas tiveram seus nomes e CPFs incluídos nos serviços regionais de proteção ao crédito, elevando para 55 milhões o total dos brasileiros inscritos.
Isso quer dizer que um em cada quatro consumidores não está ou não esteve em dia com as prestações do crediário ou com as faturas da luz, da internet ou da tevê a cabo, entre outras contas. E essa é uma situação que provoca reações negativas em todos os agentes que concedem crédito, com reflexos na economia.
A primeira delas é tornar menos fácil a liberação do crediário para compras novas ou dos empréstimos em bancos e financeiras, situação já perceptível na praça. O ministro Guido Mantega, da Fazenda, e até o ex-presidente Lula têm acusado esse golpe e, inadvertidamente, insistem que os bancos deveriam ser mais liberais.
A outra é a imediata elevação dos juros. A respeitada Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) informa que, apesar de a taxa Selic ter sido mantida em 11% pelo Banco Central, entre abril e maio, os juros cobrados de empresas e consumidores completaram o sétimo mês consecutivo de altas. Em maio, os taxas anuais variavam de 66% a 112% ao ano, conforme o produto comprado a prazo.
Mesmo que nada justifique essas taxas escandalosas, a explicação é clássica: se não houve aumento de impostos nem de custos bancários, a vilã é mesmo a inadimplência média registrada no mercado. É ela que sinaliza aos bancos o tamanho do risco que eles estão correndo e os leva a punir os justos pelos pecadores, ou seja, os juros sobem para todo mundo.
Está aí mais uma pedra no caminho da retomada da economia. É mais um preço a pagar pelo excesso de estímulo ao consumo sem contrapartida de investimentos na produção e pelo baixo esforço fiscal para conter a inflação nos últimos anos. Resta esperar que essa enrascada não chegue aos empregos, para que a população não tenha de pagar por erros que não cometeu.
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