Geral
O Canadá para imitar - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 22/10
Eos canadenses, hein? Assinaram um cheque em branco para o governo aumentar seus gastos. Isso mesmo. Depois de dez anos de administração conservadora, os eleitores deram uma sólida e surpreendente maioria para um jovem político de 43 anos, Justin Trudeau, que prometeu aumentar o gasto público para estimular a economia. Também prometeu reduzir o imposto da classe média e aumentar o dos ricos. E, sim, liberal, Trudeau quer a legalizar a maconha.
Bom, a maconha é um caso mais polêmico, mas isso de aumentar o gasto público certamente aparece como uma tentação para muita gente por aqui. Não admira se daqui a pouco o PT e o Instituto Lula chamarem Trudeau para dar uma palestra em Brasília.
O Canadá tem até uma semelhança econômica com o Brasil. O país encontrou enormes reservas de petróleo e beneficiou-se largamente do ?boom das commodities? ? a explosão de preços e volume de exportação de energia e matérias-primas. Como o Brasil também, o Canadá sofre hoje com a queda dos preços das commodities.
Infelizmente, porém, as semelhanças param por aí. O Canadá é rico. Sua economia industrializada, de alta tecnologia, tem um PIB na casa de US$ 1,5 trilhão, para uma população pequena, de 35 milhões. Dá mais ou menos uma renda per capita de US$ 42 mil/ano, quase quatro vezes a brasileira. É forte na indústria e serviços, além da mineração. Está no acordo de livre comércio com os EUA, tem amplo acesso ao maior mercado do mundo.
Outra diferença: os canadenses foram mais eficientes e mais rápidos na exploração do petróleo ? aberta aos capitais privados ? enquanto o Brasil de Lula e Dilma ficou anos debatendo o modelo de exploração do pré-sal, para, afinal, escolher um sistema que trava a exploração.
Mas a diferença mais importante, para o caso, está no manejo das contas públicas. É verdade que o Canadá tem uma dívida pública elevada, coisa de 90% do PIB, maior que a brasileira. Mas é uma comparação prejudicada, pois a dívida canadense é mais abrangente. E, sobretudo, é financiada por uma ridícula taxa de juros de 1,4% ao ano ? contra os 14,25% que o governo brasileiro paga.
Perguntarão: como um país com dívida mais elevada paga juros tão mais baixos?
A resposta é aquilo que não se entende no Brasil: anos, anos e anos de equilíbrio fiscal. Uma longa história de estabilidade. No final dos anos 90 e início deste século, foram 12 anos seguidos de superávit nas contas públicas. O governo foi para o déficit na crise de 2008, mas sob controle. Hoje, esse déficit está na casa de 1,8% do PIB ? abaixo do padrão internacional de prudência (3%).
No Brasil, o déficit equivalente, o nominal, que inclui a despesa financeira, passa dos 8%.
A inflação canadense também é ridícula, 1,2% ao ano. (Brasil, 9,7%).
Tudo considerado, faz sentido quando Trudeau diz que o governo pode gastar um pouco mais, e tolerar um pouco mais de inflação, para tentar turbinar uma economia que cresce apenas 1,1% ao ano.
(Outra diferença notável: o Brasil caminha para uma recessão de 3% neste ano).
Mesmo assim, o novo primeiro-ministro ressalva: serão três anos de déficit público controlado; os investimentos, de US$ 46 bilhões, vão para a infraestrutura. Ou seja, uma política de gastos com metas bem precisas orientando o mercado.
Já por aqui, tem meta de inflação, mas não é cumprida. A meta fiscal muda toda hora e agora inventaram uma flexível, do tipo se der, deu; se não der, paciência.
O debate ?ajuste fiscal versus gasto público para estimular a economia? caiu muito errado no Brasil. Uma coisa é turbinar o gasto em uma economia estável, com uma história de equilíbrio fiscal. Outra, em um país com histórico e prática de verdadeiros abusos com o dinheiro público.
Além disso, tem gasto bom e gasto ruim. A verdade é que os governos Lula e Dilma já aumentaram fortemente o gasto e o déficit. Para isso? Inflação alta, recessão e juros nas alturas?
Pensando bem, era bom mesmo que Trudeau viesse dar uma palestra por aqui.
-
O Perigo Dos Déficits Gêmeos - Editorial Gazeta Do Povo - Pr
GAZETA DO POVO - PR - 14/10 Eventual continuação do mau desempenho da balança comercial e da balança de serviços contribuirá para corroer as reservas Um dos piores resultados econômicos de 2014 praticamente confirmado é o déficit público nominal...
-
Otimismo Primário - Editorial Folha De Sp
FOLHA DE SP - 05/01 Ministro da Fazenda anuncia cumprimento de meta do governo federal para superavit, o que só remenda um fraco desempenho fiscal O ministro da Fazenda, Guido Mantega, quis iniciar 2014 com uma nota otimista. Anunciou anteontem que o...
-
Estatísticas Sem Pés Nem Cabeça - Vinicius Torres Freire
FOLHA DE SP - 19/11 Em reação a críticas, presidente amputa números ruins para que eles pareçam saudáveis A PRESIDENTE está em campanha contra o que julga ser a difamação de sua política econômica. Recheia a agenda de encontros com empresários,...
-
Juros Em Alta - Miriam LeitÃo
O GLOBO - 01/10 Não havia pior dia para se divulgar os dados fiscais de agosto. Ontem, o Banco Central também divulgou o Relatório Trimestral de Inflação. A nova tese do BC, que até agora ninguém entendeu, é que a política fiscal caminha para...
-
Histórias De Dois Excessos - Vinicius Torres Freire
FOLHA DE SP - 22/09 Deficit externo do Brasil chega ao maior nível desde 2002; parte da conta será paga em 2014-15 DIZER QUE O Brasil "está gastando demais" é um modo simples, simplório, de explicar que temos um deficit externo, que nossas transações...
Geral