O convescote dos "inconfiáveis" - CLÓVIS ROSSI
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O convescote dos "inconfiáveis" - CLÓVIS ROSSI


FOLHA DE SP - 21/01

Davos começa com pesquisa que mostra desconfiança do público nos governos e na turma do "business"


DAVOS -- O grande convescote da elite global começa amanhã em Davos, com uma péssima notícia para esse público, em especial para os governantes: a maioria da sociedade (56%) não confia nos governos.

Mas, atenção, tampouco tem grande confiança nas corporações, justamente as que sustentam o Fórum Econômico Mundial. São dados do Barômetro Elderman de Confiança, pesquisa feita anualmente e que desta vez ouviu 33 mil pessoas em 27 países, Brasil inclusive.

Por falar em Brasil, o governo até que se sai bem: 57% confiam nele, dois pontos acima de 2013.

O dado mais chocante para o empresariado é o fato de que, embora o nível geral de confiança no "business" permaneça firme em 58%, a pesquisa mostrou que dos oito grupos de cidadãos monitorados, só funcionários governamentais são menos confiáveis que os CEOs (executivos-chefes), a palavra que mais se ouve em Davos.

Ganham as pessoas comuns, especialmente os acadêmicos, seguidos pelos peritos técnicos e por empregados normais.

Talvez ainda mais chocante seja o fato de que, em muitos países, em situação de crise, os pesquisados preferem a informação de um empregado em vez da de um CEO.

Na Espanha, por exemplo, o placar é de 41% a 13% em favor dos mortais comuns contra os "big bosses". Mesmo nos EUA, em que o sucesso se mede geralmente pela ascensão na carreira, há um virtual empate entre os que preferem informações dos executivos (31%) e o que recorreriam, na crise, a um empregado (29%).

Não são dados que me surpreendam. Frequentador de Davos há 22 anos, fui testemunha ocular do tratamento que os CEOs (e o próprio Fórum) davam a Nouriel Roubini, tido como o único mago capaz de ter previsto a grande crise de 2008/09.

Até a eclosão da crise, ele era o profeta do apocalipse, ano após ano, mas ninguém lhe dava bola. Ficava no mesmo hotel que um mero jornalista de país emergente (eu), um três estrelas familiar. No café da manhã, Roubini estava sempre só, lendo seu "Financial Times".

O que concluir dessas cenas? Que os executivos não tinham a mais leve noção de que Roubini poderia estar certo. Depois que caiu o raio em um céu que a elite via azul, Roubini mudou de hotel e sua agenda ficou sobrecarregada. Passou a ser tratado como adivinho, coisa que não é, mesmo porque em economia é impossível adivinhar.

Por falar nisso, em Davos como em outras plateias, os últimos anos foram marcados pela sensação de que a ascensão dos emergentes era imparável. Neste ano, o humor está mudando, como constata Ruchir Sharma, chefe de mercados emergentes e de macroeconomia global da Morgan Stanley: no meio da década passada, a taxa média de crescimento dos mercados emergentes bateu em 7% ao ano pela primeira vez na história e levou os que fazem previsões a bombar as implicações.

Acontece que, em 2013, o crescimento médio caiu de volta para 4%.

Só falta agora acreditar que essa queda é para sempre e que a moda dos emergentes acabou. Será ou apenas entrou no modo "pausa"? A ver.




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