Geral
O Datafolha e os rumos da eleição
Por Bepe Damasco, em seu blog:
A nova pesquisa do Datafolha sobre a corrida presidencial a ser divulgada provavelmente neste sábado deve ser vista com muita cautela. O açodamento do instituto de pesquisas dos Frias, que decidiu ir a campo em plena comoção pela morte de Eduardo Campos, revela uma mal disfarçada intenção de fazer do resultado mais um instrumento de pressão para que Marina Silva seja ungida candidata à Presidência na vaga do ex-governador de Pernambuco. Para mascarar esse objetivo, o Datafolha avisa que está testando um cenário também com o PSB sem candidatura própria. Me engana que eu gosto.
Assim como seus irmãos siameses da velha mídia, o jornal paulista não tem feito outra coisa, da tragédia para cá, que não seja trabalhar para emplacar Marina candidata, embaralhando a eleição e levando a disputa para o segundo turno. Num dia destaca em manchete que os líderes do PSB e o irmão de Campos querem que Marina assuma a empreitada. No outro, segue na mesma toada, mas com um apelo mais emocional : a viúva também deseja que a vice encare o desafio de dar continuidade ao projeto do falecido.
Muito possivelmente o índice de intenção de votos em Marina nessa pesquisa do Datafolha refletirá a forte comoção que tomou conta do país. Aqui, abro um parênteses: na minha opinião, é uma flagrante falta de respeito e de compaixão pela dor da família, dos amigos, correligionários e admiradores de Eduardo Campos a realização de uma pesquisa nesse ambiente de consternação, em que nem os restos mortais das vítimas foram identificados. Mas esperar o que da Folha, não é? Fecho parênteses.
Os números inflados de Marina serão muito úteis nesse momento para baixar a guarda dos setores do PSB que ainda resistem à ex-senadora acreana. E as contas são simples: ela acrescerá aos 15% do seu cacife político-eleitoral cativo o voto oriundo do luto das pessoas, da comoção e do sentimento de solidariedade a quem desapareceu prematuramente e de forma tão trágica. Estimo, portanto, que Marina ultrapasse os 20% já nessa pesquisa, aparecendo em situação de empate técnico com Aécio Neves.
É provável que Marina belisque desde já parte dos indecisos e dos que pretendiam votar nulo ou em branco, e ainda um pouquinho dos eleitores de Aécio. Como as pesquisas vêm apontando há mais de um ano que a presidenta Dilma tem, cristalizados, um pouco menos de 40% das intenções de voto, na pior das hipóteses o que pode ocorrer nesse levantamento do Datafolha é uma pequena variação negativa da presidenta, mas dentro da margem de erro. Explico: uma pequena parte do eleitorado pode subir no muro e aderir temporariamente à fatia de indecisos até que o quadro fique mais claro.
Depois dessa pesquisa oportunista do Datafolha, a tendência é de uma disputa acirrada entre Marina e Aécio por uma vaga no segundo turno. A possibilidade de Marina não sair candidata, como especulam alguns analistas, é simplesmente desprezível. Além de o PSB não ter outro nome nacional, o pragmatismo vai prevalecer diante de todas as diferenças da cúpula partidária com Marina. Isso não que dizer que a campanha voará em céu de brigadeiro, muito pelo contrário. Mas os dois lados não têm como fugir deste casamento de conveniência, no qual o amor passa bem longe.
Sabemos que a dinâmica de uma campanha pode mudar de ponta a cabeça qualquer cenário. Uma declaração infeliz aqui, uma participação desastrosa num debate ali, a fixação de uma imagem negativa no imaginário do eleitorado acolá, bastam para mudar o rumo de uma eleição. Contudo, hoje, o mais provável é um segundo turno entre Dilma e Marina. Se a ex-senadora sobrevir, é claro, à campanha de desconstrução que certamente os tucanos farão contra ela.
E nessa disputa feminina do segundo turno, concordo com a avaliação do publicitário Hayle Gadelha, feita em artigo publicado em seu blog : a inexperiência de Marina vai assustar as pessoas e Dilma vence a eleição.
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