Por Altamiro BorgesEduardo Cunha – o “achacador”, segundo o apelido carinhoso dado por alguns dos seus pares – não dormirá tranquilo nos próximos dias. Ele que se achava o novo “imperador” da Câmara Federal viu seu império sofrer rachaduras. A “delação premiada” do executivo Júlio Camargo, que garantiu ter repassado US$ 5 milhões ao lobista –, acabou estragando sua performance no programa exibido em cadeia de rádio e tevê nessa sexta-feira (17). Para complicar ainda mais as suas ambições, em várias capitais ocorreram buzinaços e protestos durante sua exibição midiática. Ele até tentou usar a velha tática de que a melhor defesa é o ataque. Afirmou, no seu estilo de valentão, que vai “explodir o governo Dilma” e autorizou duas CPIs para infernizar a presidenta. Mas o desespero não é bom conselheiro. Nem o PMDB, seu partido-ônibus, apoiou o gesto tresloucado. E até o juiz-carrasco Sérgio Moro, seu antigo aliado, deu-lhe umas caneladas.
Ao anunciar o “rompimento com o governo” – como se em algum dia, desde sua posse em fevereiro, ele tivesse sido aliado do Palácio do Planalto –, Eduardo Cunha começou a trilhar o caminho do isolamento político. “Estou oficialmente rompido com o governo a partir de hoje. Teremos a seriedade que o cargo ocupa. Porém, o presidente da Câmara é oposição ao governo”, afirmou ainda na manhã de sexta-feira. Minutos depois da sua entrevista-bomba, o próprio PMDB divulgou nota oficial para reafirmar que continua na base governista e para informar que a posição de Eduardo Cunha “é a expressão de uma posição pessoal, que se respeita pela tradição democrática do partido”. As frituras peemedebistas costumam ser cruéis e ardilosas, sem maiores estardalhaços.
Na sua valentia, ele não conseguiu sequer o apoio dos demotucanos, que temem sair chamuscados com as recentes acusações contra o lobista. “A oposição, que tem andado de mãos dadas com Cunha desde que ele derrotou o PT e o governo e conquistou a presidência da Câmara, em fevereiro, também não saiu em defesa do peemedebista. Líderes oposicionistas classificaram como grave o anúncio do rompimento, afirmando temer uma crise institucional no país. ‘Há uma instabilidade institucional agravada’, afirmou o líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE). O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), não se manifestou. Até a noite desta sexta-feira, Cunha havia obtido o apoio oficial apenas do Solidariedade”, relata, amargurada, a Folha tucana.
Acuado e desesperado, Eduardo Cunha ainda comprou briga com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com o juiz da midiática Operação Lava-Jato, Sérgio Moro, e com os delegados da Polícia Federal. Afirmou que é alvo de um complô. De quem menos se esperava, veio a resposta mais dura. Sérgio Moro, seu aliado na campanha de desgaste permanente do governo Dilma, afirmou em nota que não pode silenciar “testemunhas ou acusados”, justificando o vazamento da “delação premiada” de Júlio Camargo. “A 13ª Vara de Curitiba conduz ações penais contra acusados sem foro privilegiado em investigações e processos desmembrados pelo Supremo Tribunal Federal. Não cabe ao juízo silenciar testemunhas ou acusados na condução do processo”, afirma a nota.
Diante de tanta bordoada, a tendência é que Eduardo Cunha – que não consegue conter seus instintos mais primitivos – radicalize as suas posições. Ele já anunciou que pretende amparar os pedidos de impeachment de Dilma. Ele fará de tudo para desviar a atenção da sociedade – principalmente dos famosos “coxinhas”, os setores médios envenenados diariamente pela mídia oposicionista. O Palácio do Planalto tentará evitar que os ânimos se acirrem. Em nota divulgada nesta sexta-feira, o governo afirmou esperar que a posição hidrófoba de Eduardo Cunha “não se reflita nas decisões e nas ações” da presidência da Câmara Federal. Mas é bom ficar em estado de alerta. O “achacador”, temendo seu isolamento e “morte política”, ainda vai dar muito trabalho. Ele não pode ser subestimado.
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