O feitiço contra o feiticeiro - FERREIRA GULLAR
Geral

O feitiço contra o feiticeiro - FERREIRA GULLAR


FOLHA DE SP - 03/11

Há muito mais necessitados do que Lula pensava e todos passaram a querer também bolsa, casa, geladeira etc.


Sinceramente, você acha que Lula contava com tamanho descontentamento popular, após dez anos de governo petista?

Acredito que não. Pelo menos, é o que poderia deduzir dos tantos discursos que fez, quando presidente da República, e que foram repetidos depois por sua substituta, Dilma Rousseff, pelos ministros de ambos os governos e pelos dirigentes petistas. O Brasil nunca antes, em tempo algum, foi tão feliz. Por isso mesmo, insistem em fazer de conta que o descontentamento, que se manifesta todos os dias nas ruas, não tem nada a ver com eles.

Mas tudo tem limite. Por isso mesmo, Lula, esperto como é, veio a público dizer que, quando líder sindical, nunca participou de vandalismos. É verdade. Mas o problema maior, para ele, não é o vandalismo, que todo mundo condena.

O que é mais preocupante, para o governo, nessas manifestações, pelo que reivindicam e pelo que denunciam, é a demonstração de que algo deu errado nos governos petistas, que vieram para contentar os trabalhadores e o povão.

Não resta dúvida de que Lula, ao ampliar o assistencialismo com o Bolsa Família, ao aumentar o salário mínimo e tomar medidas estimuladoras do consumo, possibilitou a ascensão de um amplo número de pessoas a condições de vida um pouco melhores.

Esse fato teve reflexo positivo na vida econômica --mas no quadro social do país, como advertiram os economistas, tratava-se de uma melhoria momentânea, incapaz de ampliar-se e mesmo sustentar-se por muito tempo. É que os investimentos imprescindíveis em setores estruturais, de que depende o crescimento econômico efetivo, não foram feitos, certamente porque não trariam consigo o mesmo apelo eleitoral. Essa é uma característica do populismo, coisa antiga no Brasil.

A preocupação em conquistar o eleitor --e especialmente o eleitor mais carente e menos informado dos problemas do país-- foi desde o início a marca do governo petista. E não por acaso. Todos se lembram da declaração de José Dirceu, dada naquela época, garantindo que o PT ficaria no governo por 20 anos, pelo menos.

Dez anos, ele já ficou; quanto aos outros dez, pelo que se vê agora, restam sérias dúvidas. Mas, por isso mesmo, a preocupação essencial do governo Dilma é a mesma que a do governo Lula, mas com algumas concessões que foi obrigada a fazer, como privatizar aeroportos e, agora, permitir a participação de empresas privadas estrangeiras no leilão do campo de Libra.

Por suas raízes ideológicas, o PT nasceu sonhando com uma revolução do tipo cubana no Brasil e, consequentemente, contra o capitalismo. Foi difícil manter-se nessa posição, com as mudanças ocorridas no mundo, após queda do Muro de Berlim.

O radicalismo petista --que o levara a negar-se a assinar esta nova Constituição que está em vigor-- amainou-se após as sucessivas derrotas de Lula como candidato à Presidência da República. Ele obrigou o partido a recuar e passar a falar mais manso. Graças a isso, foi eleito e passou a viver um dilema: se se mantivesse esquerdista, não governaria. De qualquer modo, abraçava Bush e fazia questão de mostrar que sua verdadeira simpatia para Ahmadinejad.

Aqui dentro, a coisa era mais complicada: como privatizar os aeroportos se sempre condenara as privatizações? Mas tinha de fazê-lo e passou, então, a chamar as privatizações de "concessões" e pôr nelas exigências que as inviabilizavam. Agora, teve que recuar. Por outro lado, restava-lhe o caminho ambíguo do populismo chavista. E assim ampliou em vários milhões os beneficiados pelo Bolsa Família e financiou o consumismo das faixas mais pobres.

Sucede que, no Brasil, há muito mais necessitados do que Lula pensava e todos passaram a querer também bolsa, casa, geladeira, fogão, televisão de graça. Por outro lado, a economia exige que o Estado se abra à iniciativa privada. Ou faz isso, ou o país para de crescer. Aliás, já há quem preveja, para breve, crescimento zero.

Assim, Dilma abriu o leilão de Libra a empresas estrangeiras, o que foi certo, mas os operários do petróleo não pensam assim; pensam como Lula lhes ensinou: privatizar a exploração do petróleo é trair a pátria. Com essa ele não contava.




- Nem Que A Vaca Russa - Ferreira Gullar
FOLHA DE SP - 21/06 Por incrível que pareça, a presidente Dilma Rousseff anunciou, na semana passada, um programa de concessões no valor de cerca de R$ 190 bilhões para investir em rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e telecomunicações. Digo...

- Mudaria O Natal Ou Mudei Eu? - Ferreira Gullar
FOLHA DE SP - 09/02 O que resta daquele partido que nasceu para mudar o Brasil, uma vez que o jogo duplo continua? Amanhã, dia 10 de fevereiro, o Partido dos Trabalhadores completa 34 anos de fundação. Esse fato me levou a perguntar se esse partido...

- Qual é A Marca Da Presidente Dilma? - Luiz Carlos Azedo
CORREIO BRAZILIENSE - 06/11 Bem que a presidente da República está tentando realizar um governo com a sua identidade, a ponto de provocar reações de petistas e aliados Não foi à toa a reunião do sábado passado da presidente Dilma Rousseff com...

- Bolsa Família E Eleição - Fernando Rodrigues
FOLHA DE SP - 30/10 BRASÍLIA - Até quando o Bolsa Família será vital nas eleições presidenciais no Brasil? Se depender do PT, para sempre. O partido deu grande ênfase ao tema em sua propaganda na TV na semana passada. Hoje, haverá uma grande festa...

- Salve-se Quem Puder - Ferreira Gullar
FOLHA DE SP - 28/07 A verdade é que o setor da sociedade que nada lucrou com o populismo lulista decidiu ir às ruas Seria muita pretensão minha afirmar que entendo perfeitamente o que está ocorrendo no país, desde as passeatas de protesto que invadiram...



Geral








.