O FEMINISMO E OS RELACIONAMENTOS AMOROSOS
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O FEMINISMO E OS RELACIONAMENTOS AMOROSOS


A Carol H deixou um comentário interessante neste post. Como é um tema que não é tão abordado, gostaria de trazer essa discussão à tona. Primeiro, a Carol:

"Eu acho que enquanto o feminismo não abordar a questão dos relacionamentos amorosos, haverá poucas mudanças positivas e concretas na vida das mulheres.
Não precisa ser gringo, há também a questão de ter que ter dinheiro e/ou prestígio para ser 'um bom partido'. Já vi várias mulheres recusarem homens ótimos por causa deste detalhe extremamente machista e homens que se recusam a ficar com mulheres que eles consideram de um 'patamar' maior que o deles. Resultado: um monte de gente infeliz nos relacionamentos porque levam em consideração os desejos e imposições da sociedade capitalista e machista e não o que elas realmente querem ou sentem.
Sem falar que mulher sem homem, seja ficante, namorado ou marido, é um pária.
Pelo menos no meu meio social, que não é de gente sem acesso a dinheiro, cultura ou boas oportunidades, ainda é assim.
Tenho uma amiga de faculdade que parou de sair comigo assim que se formou, pois o namorado não deixava! Olha, este é um caso extremo, mas quantas mulheres que conhecemos abrem mão de empregos, vida social, interesses, hobbies, para 'cuidar do marido ou filhos'? Aposto que muitas, porque o medo de ser sozinha é enorme, em qualquer classe social.
A minoria bem aventurada que escreve aqui e encontra companheiros legais e tem oportunidade e escolha de se livrar da criação machista é muito pouca. Queria que isto fosse levado a todas mulheres, independente de renda, cor, classe social, que elas possam ser mais do que um simples objeto sexual ou objeto doméstico."

Minha resposta: Carol, você fala de várias perspectivas diferentes. Primeiro, sim, é verdade que a sociedade ainda vê "mulher sem homem" como uma pessoa fracassada. E também vê "homem sem mulher", a partir de uma certa idade, como alguém suspeito. Porém, pra variar, quem sofre mais cobrança é a mulher.
É esquisito, porque existe um ditado que tem tradução em várias línguas, o "antes só do que mal acompanhado". E, se existe esse ditado, é porque a ideia faz parte do senso comum. Acontece que, na realidade, pra mulher, esse ditado é invertido: vira "antes mal acompanhada do que só". Tem muita gente que considera melhor pra uma mulher ser casada com um grosseirão do que ser "solteirona", "ficar pra titia". Esse tipo de mentalidade serve como combustível para a violência doméstica -- mais vale aguentar umas agressões do que não ter um homem pra chamar de seu. Mesmo com a Lei Maria da Penha, ainda é grande o número de pessoas (mulheres inclusive) que acreditam que um marido afere respeito a uma mulher.
Logicamente, o feminismo luta contra esse (e tantos outros) preconceito. Não há nada de errado em não casar, em não namorar, em casar ou namorar uma mulher, em se separar se o relacionamento não está dando certo. Assim como não há nada de errado se um homem não quiser casar ou namorar. Aliás, se o cara for um ogro, tipo um mascuzão, dou todo o apoio para que ele não se relacione com ninguém. Feministas apoiam o marriage strike (greve de casamento) dos mascus!
Mas é totalmente normal que feministas foquem nos problemas das mulheres, não nos dos homens (os homens não têm um movimento pra eles? Por que será? Seria porque estão mais ocupados atacando feministas do que resolvendo seus problemas?). Assim, de modo geral, feministas não aconselham que esposas e mães abram mão da independência financeira para se dedicar exclusivamente à família. Mas o feminismo é a favor da liberdade, então também não condena as mulheres que optem por esse caminho. 
E isso de "cuidar do marido"?! Pfff. Mulher cuidar dos filhos (que são cada vez em menor número e cada vez mais depois de ter consolidado seu nível educacional e situação financeira) eu até entendo. Mas desde quando tem que cuidar do marido, como se ele fosse um crianção? Se isso já era ridículo em décadas passadas, quando muitas mulheres de classe média e alta não trabalhavam fora, imagina hoje, em que as mulheres já compõem quase metade de toda a força de trabalho?
O mundo mudou, e meu conselho, como feminista, é que se uma mulher estiver namorando com um carinha com essa mentalidade retrógrada, ela deve se afastar rapidinho. Porque o lugar pra esse tipo de pensamento é num museu. Imagina deixar de sair com amigxs porque o namorado não deixa! Troque de namorado com urgência. Ou fique sem namorado, que você sai no lucro.
Outra coisa que você fala é sobre o "bom partido". Como eu já disse, eu tive uma agência de casamento. Foi há quase vinte anos, e muita coisa mudou nessas duas décadas. O que mais me irritava na agência era que muitos homens já chegavam com uma ideia fixa da mulher que gostariam de conhecer (jovem, esbelta; vários pediam especificamente loiras), reduzindo toda a atração a algo tão supérfluo e passageiro como a aparência física, e muitas mulheres chegavam dizendo "Se não tiver carro, nem me apresente". 
Curiosamente, não eram as mulheres jovens que exigiam homem com carro. E nenhuma exigia homem rico. Mas as mais velhas, acima dos 35, 40 anos, tinham uma grande preocupação em não se envolver com homens de nível econômico e educacional inferior ao delas. Ainda é forte, tanto pra homens quanto pra mulheres, a ideia de que homens devem ganhar mais. 
Só que esse preconceito está começando a ruir. Com a maior escolaridade das mulheres, os salários vão um dia se equiparar, se a gente continuar pressionando. Hoje já arrisco dizer que quase todo mundo conhece um casal em que a esposa ganha mais que o marido. Se não conhece: muito prazer, meu nome é Lola. O bonitão ao meu lado é o Silvio.
Durante grande parte dos 24 anos que estou com o maridão, nós dois sempre trabalhamos, e nosso salário sempre foi equivalente, e sempre dividimos as contas (dinheiro nunca foi um problema na nossa relação, porque somos pão duros miseráveis pessoas economicamente responsáveis sem criatividade para gastar). No entanto, desde que me tornei professora universitária, passei a ganhar bem mais do que ele. Isso vai fazer cinco anos, e não afetou em nada nosso casamento. Ou melhor, afetou: hoje podemos guardar mais dinheiro e viajar mais, porque nossa renda como casal mais que dobrou. Até parece que vamos reclamar por conta disso!
Felizmente, eu e o maridão sempre fomos muito livres de estereótipos. Nosso relacionamento nunca se definiu como uma relação de poder. Um não manda no outro. Não medimos masculinidade (ou feminilidade) de acordo com os parâmetros ultrapassados da sociedade. Somos apenas pessoas. Felizes. Livres.
E quer saber? Não acho que somos tão minoria assim. Eu vejo cada vez mais gente tendo relacionamentos bacanas, sem amarras, com igualdade. Vejo cada vez mais gente se esforçando para enterrar a criação machista, racista, homofóbica, preconceituosa de forma geral, e começar de novo. 
Não é fácil. Mas é necessário. 




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