Por Monique Lemos, no sítio da UJS:Nascida numa família de flamenguistas herdei por culpa do Seu José, meu pai, a fidelidade e o amor ao meu time, a paixão pelo futebol e a necessidade de sentir a energia do estádio. E eu não aprendi isso em qualquer estádio, falo do maior do mundo, do Estádio Jornalista Mário Filho, Maracanã ou Maraca para os íntimos.
Vi de perto, derrotas inacreditáveis como quando perdemos para o América-Mex em 2008, e vi vitórias mais inacreditáveis ainda, como do último título da Copa do Brasil em 2006 em cima do Vasco, 2 a 0. Com ingresso na mão, que custava R$30,00 vi meu time ser Hexacampeão Brasileiro.
É verdade que nem sempre acompanhei in loco os jogos no estádio, por estar fora do Rio, ou por compromissos outros, ou porque jogos que começam às 21h45min e terminam quase meia-noite, tornam-se mais inacessíveis para mulheres e trabalhadores, ou simplesmente porque não queria ir. Mas se quisesse eu teria ido, afinal ir ao estádio deve ser um direito. Então, não poder assistir a uma final do meu time do coração porque não tenho R$ 250,00 nunca tinha me acontecido.
Esse pode parecer o lamento de uma flamenguista, mas deveria ser dos que gostam e apreciam o futebol. Que triste será ver o Itaquerão sem os maloqueiros, o Beira Rio sem os macacos, o Independência sem o galo doido vingador.
Se o futebol é o esporte mais popular e o Brasil é o país do futebol, a sua elitização é um pesadelo nacional. Justificar os ingressos exorbitantes pela simples ”Lei do Mercado” é ignorar a razão de ser do próprio futebol, que ao fim e ao cabo é a sua torcida.
A questão é: o direito da torcida de ir ao estádio está garantido? Acredito que não.
E quero deixar claro, os novos estádios construídos não são o problema, acho ótimo ter mais conforto, mais segurança, mais serviços, o problema é que o principal é consumir futebol e não outras coisas. É isso que a elitização faz, além de afastar os mais pobres dos estádios, descaracteriza o próprio ato de torcer. O futebol vira secundário, o mais importante é a cadeira acolchoada e o conforto do patrão com seu uísque na mão.
Tudo é claro no “Padrão FIFA”. As favas com esse padrão, que na verdade quer descaracterizar o futebol e homogeneizar nossa torcida. Nós já temos um padrão, nosso padrão é popular. Quero continuar vendo os bandeirões gigantes nos bambus, quero continuar torcendo em pé ao lado da bateria, quero ver as camisas rodarem no ar. Quero ver os estádios lotados de Brasil.
Hoje quando percebi que não ia ao jogo porque um cartola que nunca pegou um trem lotado pra ir ao estádio decidiu, lembrou-me da primeira vez que pisei num. Lembro-me da emoção que eu senti, na década de 1990,nunca tinha visto tanta gente na minha vida, milhares que nunca tinham se visto e se abraçavam como irmãos. Negros e brancos, ricos e pobres, muito mais homens que mulheres é verdade (mas estamos evoluindo, não??) todo mundo junto e misturado!
Lembro ainda que o que mais me chamou a atenção foi um pai com dois filhos, que dentro do trem lotado, se gabavam de ter conseguido pular os muros da estação e com suas camisas da lubrax made in calçadão de Madureira, esperavam ansioso a chegada ao maracanã. Trem lotado!
Aquelas pessoas nunca tinham ido ao teatro, muitas não tinham ido ao cinema, poucas já tinham assistido a um grande show, mas aquele ali, o Maracanã, o principal estádio do mundo, era delas. Era o seu lugar.
E vejam, eu não sou o tipo saudosista contra as mudanças e a modernização. Nessa terra chamada Brasil, felizmente muita coisa mudou. Hoje temos mais oportunidades, o povo vive melhor, mas estão tentando tirar nosso lugar, onde tudo se mistura, onde o Brasil tem mais cara de Brasil. Não podemos esquecer que o futebol existe pra 22 jogarem e o povo torcer. O futebol é do povo e precisamos preservar seu caráter popular.
Em tempos em que se prendem manifestantes enquadrando-os na Lei de Segurança Nacional, deveríamos pensar que não garantir ao povo o direito de ir ao estádio é o verdadeiro crime contra o nosso país.
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