O que chama atenção é o fato da internet ter superado a televisão. O brasileiro perde (ou investe) mais tempo navegando na rede mundial de computadores do que assistindo tv. A internet está vencendo de longe. 21% dos brasileiros passam ao menos 20 horas por semana na internet, contra 13% que o fazem assistindo TV.
O consumo de internet hoje no Brasil transcende a renda. Todo mundo está acessando. Na verdade, a estatística mostra que os que ganham menos de R$ 1.300,00 usam mais redes sociais que todos que ganham acima disso. Não há diferenças gritantes no consumo de mídia entre as faixas de renda.
E agora confiram a publicidade federal, da presidência e ministérios, nos últimos 2 anos, segundo dados obtidos pelo Cafezinho junto a Secom:
Observe que a internet, de longe a mídia mais usada pelos brasileiros, recebe apenas 5,8% das verbas publicitárias federais, enquanto os jornais, que figuram em último lugar no ranking das mídias mais importantes, recebe 10%.
É evidente que os jornais estão supervalorizados, em função do seu peso político. Repare que a participação dos jornais na divisão do bolo cresceu de 7% para 10% de 2011 a 2012, na contramão da tendência do mercado. Mas qual a lógica da Secom? Ampliar o peso político de um setor em declínio?
Temos que deixar claro uma coisa: o aumento dos investimentos da publicidade estatal na internet não é para beneficiar nenhuma “blogosfera progressista” ou “governista”. É para aumentar a publicidade para todos: sites de notícias, portais especializados em educação, blogs de pesquisa científica, páginas de literatura. O governo poderia inclusive criar uma espécie de “Adsense”, ou seja, um sistema difuso de publicidade, que direcionasse roboticamente os anúncios para toda internet brasileira, bastando se cadastrar e provar que o blog é feito por brasileiros e destinado a brasileiros. A internet hoje é a grande geradora de empregos para os profissionais da área de comunicação, ao contrário dos jornais impressos, cada vez menos relevantes neste sentido. Uma ação pública assim estimularia um aumento dos anúncios privados e, com isso, criaria um círculo econômico virtuoso.
Isso é o mínimo, e o lógico, que poderia ser feito, e corresponderia a um extraordinário incentivo à produção cultural brasileira, para todos os segmentos, ciência, arte, economia, política, culinária, etc.
À diferença da TV, onde apenas um lado fala, e o outro ouve passivamente, a internet permite a interação e dá voz ao consumidor de mídia. Essa é a razão histórica do sucesso da internet e se um dia algum filósofo analisar mais profundamente o processo de seu nascimento, poderá descobrir que ela surgiu justamente como um contraponto político e cultural ao gigantismo anti-democrático de uma mídia privada cada vez mais concentrada em grandes grupos. Uma reação do Ser a um desequilíbrio interno do sistema. Um ajuste de contas da humanidade consigo mesma.
É obrigação de um governo democrático respaldar uma vitória tão emocionante da democracia, e não se posicionar como uma força reacionária, como vem fazendo. O fato de termos um governo com pretensões progressistas torna a situação ainda mais absurda. Se considerarmos, como se deve fazer, a comunicação como um direito humano, a postura não apenas do governo federal, mas do Estado brasileiro em geral (legislativo, judiciário, MP, estados, municípios), tem sido profundamente equivocada, colaborando com o atraso cultural, político, econômico e científico do país.