O HORROR DE PIAUÍ E AS VELHAS COBRANÇAS
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O HORROR DE PIAUÍ E AS VELHAS COBRANÇAS


Em todo crime bárbaro que acontece no Brasil vem uma turma pedir a cabeça dos verdadeiros culpados: os defensores de direitos humanos. Como se fossem esses ativistas que aplaudissem e fomentassem a violência, e não os linchadores que exigem olho por olho, dente por dente. 
Quando ocorre um crime bárbaro contra alguma mulher (e como isso ocorre com frequência!), vem uma turma cobrar: e as feministas? Por que aquelas inúteis não largaram o emprego, a família, a vida, para ir ao local onde o crime ocorreu e ajudar a vítima in loco? Por que elas não estão falando sobre o caso 24 horas por dia? Ah, só pode ser porque o cara que cometeu o crime bárbaro é esquerdista, ou é negro, ou é gay, ou é menor de idade, então elas não podem falar mal dele. 

Ah, essas teorias conspiratórias!...
Centro de Castelo do Piauí, a 199 km
de Teresina
Falando por mim, já publiquei duzentos posts sobre estupro. Porém, se eu não escrevo sobre o mais recente caso de estupro que chocou o país, é porque eu não me importo com as vítimas. Ou porque não sou feminista de verdade (e quem determina quem é ou não feminista é quem odeia o feminismo). Ou porque tenho interesses obscuros por trás. Ou porque os judeus que financiam não só o meu blog como todas as feministas do planeta (esta é uma das teorias da conspiração mais divulgadas) não permitem que eu escreva sobre menores de idade ou sei lá o quê.
O lindo mirante de Castelo do Piauí
Na realidade, há mil e um motivos para não se escrever sobre um caso bárbaro de violência. Talvez eu não tenha tempo. Sim, existe essa possibilidade, já que trabalho 50 horas por semana e não ganho dinheiro com o blog. Talvez, apenas talvez, meu blog não tenha a menor pretensão ou obrigação de ser uma página policial. 
Mas o mais provável é algo que já falei diversas vezes: não gosto de escrever sobre o óbvio. Repetir uma notícia de um crime bárbaro só pra manifestar minha indignação e possibilitar montes de comentários catárticos por aqui? Tô fora. 
Os quatro adolescentes presos
Se não tenho nada para acrescentar, não escrevo. Por isso é que quase sempre escrevo sobre reações a um caso bárbaro, mais do que sobre o caso em si.
Continuo sem ter muito o que acrescentar além da minha revolta para o terrível caso de Castelo, no Piauí. Mas agora sei um pouco mais sobre esta barbárie e corro menos risco de espalhar boatos, que é o que brota aos montes assim que uma notícia corre. 
Na tarde de 27 de maio, uma quarta-feira, quatro amigas, garotas entre 15 e 17 anos, foram tirar fotos num dos principais mirantes de Castelo do Piauí, uma pequena cidade de 20 mil habitantes. O morro a que se deslocaram, em duas motos, é de difícil acesso. Esta matéria de um jornal local contém alguns vídeos do trajeto que as meninas fizeram. Em algum momento deste trajeto (ainda não se sabe exatamente onde), elas foram rendidas por um homem e quatro garotos, também entre 15 e 17 anos, que não conheciam. Esses rapazes usuários de crack as espancaram e estupraram e, por fim, as jogaram amarradas, uma por uma, do alto do morro -- uma altura de um prédio de três andares. 
Danielly, 17 anos, vítima fatal
Danielly, a primeira a ser jogada, amorteceu a queda das outras três. Depois de passar dias na UTI e se submeter a várias cirurgias, a menina de 17 anos, que estava no terceiro ano do ensino médio e sonhava ser médica, morreu ontem. 
Ainda no dia 27, a polícia encontrou as duas motos. A população da cidade acreditava que as garotas, então desaparecidas, haviam sido sequestradas. Houve protestos e queima de pneus em frente à delegacia. 
Adão, considerado mentor dos crimes
A polícia já estava à procura de Adão José de Sousa, 40 anos, porque cinco dias antes ele (que cumprira mais de 13 anos de prisão em São Paulo), com um comparsa também maior de idade, havia assaltado a gerente de um posto de gasolina em Castelo. A vítima foi baleada no ombro.
Não se sabe se, no dia 27, os rapazes ouviram a polícia se aproximar do morro, e por isso jogaram as meninas do desfiladeiro. Mas o fato é que a polícia esteve no morro e não viu as vítimas numa vala. Só mais tarde, no mesmo dia, elas foram encontradas e levadas ao hospital. 
O promotor de Justiça
Presos no mesmo dia, Adão e os quatro adolescentes por pouco não foram linchados pela população. Todos foram transferidos para Teresina. 
Antes da morte de Danielly, o promotor do caso anunciou que pediria quinhentos anos de prisão para cada um dos acusados. E, segundo a matéria d'O Olho, "prometeu ir atrás de brechas jurídicas para manter [os menores de idade] o máximo de tempo encarcerados, já que há subterfúgios judiciais que permitem que adolescentes que cometem crimes hediondos no país possam ficar presos mesmo após completarem 21 anos". 
Imagem do desfiladeiro
No dia seguinte ao crime hediondo, este mesmo jornal (que lembrou que 500 mulheres são estupradas por ano apenas no Piauí) publicou um excelente editorial, assinado pela editora-chefe: "Por que não chamar estupradores de monstros". Diz ela:
"A verdade é que estupradores são pessoas comuns [...]. Estupradores podem ser drogados sem consciência, mas nem sempre. Não existe punição de monstros, porque monstros são seres que vivem no universo da fantasia. Na própria nomeação dos criminosos, o estupro deixa de ser reflexo de uma sociedade de gêneros desiguais para ser da esfera do irreal. [...] 
Passeata em Teresina
"Se as mulheres passarem a ser vistas como seres humanos, de igual para igual com os homens, dificilmente seriam brutalizadas, porque não se brutaliza um semelhante. Respeito ao próximo e igualdade de gênero é discussão para pais e filhos, alunos e professores, toda a sociedade, em todas as camadas e esferas institucionais."
Na terça passada, um grupo de cerca de 70 pessoas, mulheres em sua maioria, fez uma passeata pelo centro de Teresina pedindo o fim da violência. Muitas pessoas já haviam doado sangue e dinheiro.
Casa da família de um dos
adolescentes acusados
O Olho também publicou uma reportagem bem completa, mas muito preconceituosa, sobre os "quatro garotos mais odiados do Piauí". Preconceituosa porque a matéria faz parecer que os adolescentes cometeram o crime por serem pobres. Lá pelo meio os jornalistas contam que as famílias dos acusados, todas miseráveis, eram beneficiadas com o Bolsa Família. 
José Philippe, de outro crime
O jornal repete que todos os garotos tinham passagem por delegacias (eles não são os únicos, aliás -- um outro caso que vem sendo discutido, sobre um rico promotor de eventos no Rio, mostra que o acusado colecionava oito passagens pela polícia). 
É também desnecessário publicar fotos das mães dos garotos. Não são elas as culpadas. Essa atitude, inclusive, pode por em risco a vida de irmãos dos acusados. Uma coisa fica evidente: se os adolescentes que cometeram o crime forem soltos, eles serão mortos. 
Casa de outro adolescente
Não é a pobreza que causa crimes. Estupro é comum em todas as classes sociais. É, aliás, um crime que frequentemente não é denunciado, e que raramente é punido. Como diz o editorial do jornal, se meninas e mulheres não fossem consideradas inferiores aos homens, elas não seriam tão bárbara e cotidianamente brutalizadas por tantos deles.
O que sabemos é que só pobres vão pra cadeia. Com isso não quero dizer que os cinco autores desse crime horrível no Piauí não sejam punidos. Quero que sejam punidos. Mas sem usar isso como uma bandeira ideológica para colocar sob suspeita automática todos os meninos pobres do país. Se vamos apontar um culpado, este tem nome conhecido: a velha misoginia. 
UPDATE em agosto 2015: Um dos adolescentes acusados do crime foi espancado até a morte na prisão, em Teresina. G. era considerado o delator do grupo. Esta matéria sobre o jornalismo justiceiro é muito boa. 
Se esta denúncia for provada verdadeira, é um escândalo: um comandante da PM teria pagado entre 2 e 2,5 mil reais a um dos menores para "causar terror" em Castelo do Piauí. Desta forma, a firma de segurança particular do PM com seu filho poderia lucrar. O PM está sendo investigado.




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