O HUMOR EM CIMA DAS ETERNAS TRAGÉDIAS
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O HUMOR EM CIMA DAS ETERNAS TRAGÉDIAS


Quadro de Zorra Total sobre mulheres encoxadas no metrô

Gostei bastante deste texto que a Secretaria Nacional de Mulheres do PSTU divulgou esta semana. Publico aqui uma parte (incluindo uns links pra situar melhor quem está de férias), deixo o link pra você ir até o blog/site original e ler o resto, e volto depois.

Abuso sexual não tem graça
Talvez você não perceba. Talvez até ache graça. Mas a violência contra as mulheres está sendo incentivada dentro da sua casa, de forma nada sutil, no humorístico Zorra Total. No principal quadro do programa, chamado “Metrô Zorra Brasil”, todos os sábados à noite, duas amigas travam um diálogo dentro do vagão lotado. Na fórmula do roteiro, lá pelas tantas, em todos os episódios, um sujeito se aproxima, encosta e bolina a mulher de várias formas. No episódio do dia 9 de julho, o quadro mostrou a mulher sendo “tocada” em suas partes íntimas com a “batuta” de um maestro.
A mulher atacada, Janete (Thalita Carauta), cochicha com sua amiga Valéria (Rodrigo Sant’anna), que, ao invés de defendê-la, diz: “aproveita. Tu é muito ruim, babuína. Se joga”. A claque ri.
O ataque relatado pelo programa acontece todos os dias com milhares de mulheres no nosso país. Só nós mulheres podemos medir a humilhação pela qual passamos nos trens e ônibus lotados e suas consequências. Não tem graça.
No metrô de São Paulo, o mais lotado do mundo, numa manhã de abril, uma jovem trabalhadora foi violentada sexualmente num vagão da linha verde, considerada uma das melhores. Um crápula a segurou pelo braço, ameaçou, enfiou a mão sob sua saia, rasgou sua calcinha e a tocou. Os passageiros perceberam, tentaram agir, mas o homem fugiu. O caso foi registrado como estupro na 78º DP da capital paulista. Impossível rir disso.
É sabido que a Rede Globo nunca foi uma defensora das mulheres e da diversidade. Neste momento mesmo, o diretor-geral da emissora exigiu que os autores da novela Insensato Coração acabassem com comentários favoráveis às bandeiras gays, e recomendou menos ousadia nas cenas entre os dois personagens homossexuais.
Mas o Zorra Total foi longe demais. O quadro do programa incentiva a violência contra às mulheres e o estupro, de uma forma sistemática, já que o ataque é parte da estrutura permanente do texto. Ou seja, todas as semanas, a Rede Globo diz que as mulheres que sofrem abuso sexual devem “aproveitar” e “agradecer”, como se fosse uma dádiva. (continue lendo aqui).

Agora sou eu de novo. Ao ler o parágrafo acima, lembrei da piada absurda do Rafinha Bastos sobre mulher feia ter oportunidade de fazer sexo através de um estupro. Que bom que esse energúmeno terá de depor (aliás, você já assinou a petição?).
Sinceramente, a gente precisa mesmo fazer piada em cima de uma chaga social que aflige milhões de mulheres em todo o planeta? O estupro é um problema universal que danifica toda a humanidade. A violência sexual contra mulheres em ônibus e vagões de trem e metrô também. Sim, é uma violência. Não é engraçado. Todo mundo deve ter o direito de escolher se, quando, por quem, e onde quer ser tocad@. Tocar alguém sem seu consentimento é uma violência. E quase toda mulher já passou por isso. Não é lisonjeiro, não é elogio, não é uma chance de prazer. É uma violência diária. Quem acha que não é, ou que as mulheres gostam, ora viu filme pornô demais, ora acha que A Dama do Lotação é documentário e não ficção (uma história de Nelson Rodrigues que virou uma das maiores bilheterias da história do cinema brasileiro). Em vários lugares do mundo o assédio sexual a mulheres em locais públicos é tratado com seriedade, pois é criminoso restringir o direito de ir e vir de uma enorme parte da população. Há vagões separados só para mulheres, o que é um gesto extremo e polêmico — afinal, ninguém quer segregação. O que queremos é que tantos homens entendam que uma mulher sozinha não é um naco de carne a sua disposição.
O humor do CQC ou do Zorra Total ou do já extinto Casseta e Planeta não tem nada de transformador. Não quer transformar, e sim perpetuar uma situação. Uma situação que, pro grupo de roteiristas (todos homens) do Zorra Total, não significa problema algum. Eles não passam por isso, né? Sequer andam de metrô ou de ônibus!
Não preciso ver Zorra Total pra saber que ele é um dos piores programas da TV brasileira, mas fiz o sacrifício extremo de assistir ao vídeo postado no YouTube (a partir do oitavo minuto). E vi um outro também. O único ponto positivo, se é que há algum, é que, em certo momento, o quadro chega a dar dicas de como se livrar do assédio (espetar o tarado com um alfinete, pisar no seu pé). Mas isso as mulheres que passam por esse martírio já estão cansadas de saber.
De fato, parece que o “humor” do quadro consiste em três situações que se repetem todas as semanas: 1) as ofensas que a transexual Valéria dirige a sua “amiga” Janete; 2) as reações de Janete e Valéria ao serem encoxadas no metrô; 3) os clichês, trejeitos, exageros, bordões de Valéria. Li uma entrevista do ator Rodrigo Sant'Anna sobre o sucesso da personagem: “É uma novidade, uma transexual nunca foi abordada pelo lado do humor. Havia comentários, a Ariadna do BBB, a modelo Lea T. Acho que foi na hora certa. Talvez antes não tivesse a aceitação que teve”.
Fico impressionada com essa fala. Rodrigo crê que transexuais na mídia nunca foram abordadas pelo “lado do humor”?! Ué, como então transexuais são retratadas pela TV? Sempre como piada pronta. O público ri porque a personagem age e fala exatamente como se espera. Desde quando essa transexual é diferente? Qual é a aceitação? Até parece que, graças a Valéria, o espectador de Zorra Total se tornará menos preconceituoso com travestis e transexuais, menos eleitor de Bolsonaros!
Olha, tá difícil, viu? Como diz a personagem numa de suas falas (e essa eu gostei): “Ai minha nossa senhora do chuveiro elétrico, dai-me resistência!”




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