Geral
O imponderável assombra a imprensa
Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
A morte trágica do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos interrompe o processo político iniciado com a série de entrevistas de candidatos à Presidência da República no Jornal Nacional da TV Globo. Campos foi surpreendido pela tragédia quando ainda estava celebrando o que considerava um bom desempenho diante da bancada que conta com a maior audiência entre os telejornais. Alguns analistas já ponderavam que esse seria o ponto zero de sua candidatura, empacada em torno de 8% nas pesquisas de intenção de voto.
Curiosamente, a fatalidade pode alavancar para um novo patamar a alternativa representada por Eduardo Campos, se seu partido, o PSB, optar pela solução natural de colocar na cabeça de chapa a ex-ministra Marina Silva.
Marina partiria com um patrimônio de 20%, equivalente ao melhor índice alcançado pelo outro candidato oposicionista, Aécio Neves, do PSDB, com toda a visibilidade e o apoio explícito que lhe dá a imprensa.
Em agosto do ano passado, quando ainda havia a possibilidade de se lançar candidata à Presidência à frente da Rede Sustentabilidade, a ex-ministra chegou a alcançar 26% numa pesquisa Datafolha, conforme lembra a Folha de S.Paulo na edição de quinta-feira (14/8). Mesmo com o naufrágio de seu projeto partidário, e colocada em segundo plano na chapa do PSB, ela aparecia nas sondagens como detentora de um potencial mais promissor do que o de Eduardo Campos.
O horário do acidente, ocorrido na manhã de quarta-feira (13), deu à mídia um longo período para especular sobre as circunstâncias em que se deu a tragédia, e ainda sobrou tempo para avançar em especulações em torno das consequências políticas da morte do ex-governador. Ao longo do dia, informações desencontradas falavam de choque com um helicóptero, versão sustentada pela TV Bandeirantes, e até mesmo de um possível atentado, hipótese anunciada ao vivo por um imaginoso apresentador da TV Record.
Coube à GloboNews a primazia de inserir apostas apressadas sobre o cenário político no clima de comoção, com uma entrevista afoita do senador Christóvam Buarque (PDT-DF), seguida por palpites de comentaristas da emissora. Diante do evento inesperado, os especialistas em generalidades ficaram sem referências.
Pesquisa em clima de velório
Na quinta-feira (14), passado o choque, analistas credenciados junto à mídia tradicional buscam elementos para projetar um novo cenário na disputa eleitoral. A tendência é a de apostar que a provável indicação de Marina Silva para a cabeça de chapa do PSB tiraria votos em igual proporção da presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, e do senador Aécio Neves, segundo colocado nas pesquisas. Apenas um entre os principais observadores da política, o colunista Elio Gaspari, sugere a hipótese de uma aliança entre Aécio e Marina Silva.
A maioria dos analistas usa como referência principal os indicadores das pesquisas mais recentes, eventualmente comparando com a eleição de 2010, quando a ex-ministra do Meio Ambiente empolgou uma parte considerável do eleitorado mais jovem. Entrevistado pelo Globo, o analista e porta-voz do Datafolha, Mauro Paulino, anunciou que o instituto já estaria colhendo opiniões sobre a mudança do cenário, mas considerava arriscada qualquer insinuação.
Márcia Cavallari, analista do Ibope, também ouvida pelo jornal carioca, disse que o instituto não vai fazer pesquisa em cima da tragédia e que a próxima sondagem só vai ser realizada em setembro.
Se os pesquisadores consideravam imprevisível o resultado da eleição com a presença de Eduardo Campos, seu desaparecimento pode produzir uma mudança radical na perspectiva do eleitorado, observam os especialistas. No entanto, a leitura das declarações de alguns protagonistas de peso indica que, se lançada candidata, Marina Silva tem grandes chances de personificar com mais densidade o desejo de mudança que aparece, ainda que difuso, mas de forma consistente, em todas as pesquisas feitas a partir de junho do ano passado. Essa perspectiva deslocaria o candidato do PSDB para uma posição marginal, com menos chance de ver crescer seu eleitorado.
A morte de Eduardo Campos rompe uma situação nova que se desenhava com a série de entrevistas ao telejornal da Rede Globo, e que poderia se consolidar com a sequência de sabatinas e debates programados pela mídia.
O forte apelo emocional da tragédia será explorado com cautela pelos contendores, porque o ex-governador de Pernambuco, embora na oposição, tinha fortes vínculos com o partido que controla o Planalto. Vivo, ele era um coadjuvante de peso; morto, se transforma no grande cabo eleitoral.
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