O jogo do tempo - DENISE ROTHENBURG
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O jogo do tempo - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 16/08


As mulheres da pré-campanha presidencial do ano que vem são as únicas que correm contra o relógio. Dilma Rousseff, para fazer a economia deslanchar, e Marina Silva, para montar a Rede. Para quem está de olho em 2014, são esses os fatos que merecem mais atenção no atual momento da disputa

Voltar de férias sempre dá aquela avidez por novidades. O pior é constatar a escassez de boas novas. Na base governista, o PMDB manda dizer à presidente da República que não brinque com os protegidos do partido, porque, senão, virá algo pior do que orçamento impositivo. Leia-se a derrubada de vetos. Basta que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMBD-AL), e o da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), acertem colocar os temas mais controversos em pauta. No maior partido de oposição, o PSDB, acirra a guerra interna pela candidatura, o que só ajuda os adversários (as). E, no mais, a economia balança e as CPIs estão por aí a ameaçar o governo. As passeatas arrefeceram em relação ao que se viu em junho, mas, por toda a parte, crescem as preocupações com o futuro.

Mas vamos por partes. Afinal, a história que se desenha para frente nos permite tirar algumas conclusões nada precipitadas para o momento. O PMDB não vai querer largar a vaga de vice na chapa da presidente Dilma Rousseff à reeleição. E ainda que muitos dentro do governo queiram aproveitar as últimas denúncias de tráfico de influência em estatais para balançar o barco da aliança, o partido não pretende deixar que isso sirva de desculpa para que a petista afaste o parceiro. Principalmente, agora que ela dá sinais de recuperação nas pesquisas de intenção de voto. Ainda que Lula converse com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, candidato ora sim, ora também.

Eduardo Campos, por sua vez, está mais reservado e não é para menos. Em política, a hora é de continuar meio mergulhado, respirando pelo canudinho. Afinal, exposição demais em tempos de crise pode dar problema. Ele não tem pressa. E sabe que não tem o que perder sendo candidato. Afinal, por pior que se saia, sempre será um aliado importante ao governo num segundo turno. E é aí que Lula joga para mantê-lo na órbita petista. Não quer apostar num descuido que leve o aliado para o ninho do presidente do PSDB, Aécio Neves, que não deixa de procurar o governador pernambucano com acenos ao futuro.

Enquanto isso, na ala feminina da pré-campanha?
Nessa ciranda, todos trabalham com o tempo, esse senhor da razão, como certa vez estampou numa camiseta o então presidente Fernando Collor nos anos 1990. As mulheres inseridas nessa disputa são as únicas que correm contra o relógio. Marina Silva, para montar a Rede, e a presidente Dilma, para tentar acelerar as obras e dar um visual mais atraente ao governo.

Não por acaso, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, passou o dia de ontem em reuniões com investidores e o presidente da Empresa Brasileira de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo. Diante do Orçamento insuficiente para levar avante o plantel de obras, o governo recorre à iniciativa privada para alavancar o crescimento. Se der certo, obviamente, ampliam as esperanças petistas de continuar no poder.

Dilma não vê a hora de, com a economia respirando sem a ajuda de aparelhos, degustar aquela sensação de dona do jogo e senhora absoluta do tempo de cada ministro em seu governo e das verbas que destinará a cada pasta no Orçamento a ser enviado ao Congresso no fim deste mês.

A presidente não mexeu uma palha no sentido da reforma ministerial, contrariando a torcida de muitos que esperavam a queda da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, ou da própria Gleisi. As mudanças só virão em dezembro. E ninguém hoje, à exceção do presidente Lula, conversa sobre esse tema com Dilma. A não ser, é claro, se ela tocar no assunto, o que dificilmente acontece. Nesse quesito, a presidente se vê senhora da razão e não admite interferência de terceiros. Ainda que os partidos indiquem, se o ministro é aceito, a escolha final cabe a ela.

E o Supremo, hein?
O julgamento do mensalão marca a história do Supremo Tribunal Federal sob diversos aspectos. Um deles é o fim da era dos punhos de renda e do fino trato entre os ministros, algo que imperava inclusive na maioria das divergências. E, em termos de boa convivência e exemplo aos mais jovens, nada mais impróprio do que a derrocada da cordialidade. Vejamos os próximos capítulos.




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