O Labirinto
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O Labirinto


Haviam paredes. Altas. Longas e que se estendiam por todos os lados. Cinzas paredes de concreto. Estreitos caminhos que ela começou a percorrer a procura da saída. Encontrou portas que se abriam para outras portas e que sempre a conduziam para os mesmos escuros corredores, ladeados por paredes cinzas. Intermináveis.

Um labirinto. Concluiu. E não adiantava caminhar às cegas. Procurava um coelho branco, mas não havia, nem pílulas vermelhas ou azuis. Nem marcações imaginárias. O labirinto e ela eram os únicos. Paredes altas e cinzas. E portas que a conduzia a lugar nenhum. 

Não havia hora, nem dias, o céu não aparecia, e ela bem que tentou deitar-se no chão e enxergar qualquer coisa além do concreto. Mas não havia céu. Por isso, dias e noites eram nada. Caminhava apenas, buscando a saída imaginária. 

Deixar marcas nas paredes, sinais que indicassem que por lá já havia passado. Uma linha, claro, como na mitologia. Mas roupas de malha não desfiam. Decidiu desnudar-se a cada porta. Blusa, calça, sapatos, calcinha e sutiã, espalhados ao longo do caminho. Não foi suficiente. O labirinto era maior do que ela. 

Feriu os dedos nas paredes, deixando uma linha de sangue. Pontos vermelhos no escuro concreto.  Aos poucos percebeu outra presença. No inicio, passos, achou que era imaginação, loucura causada pelo estresse de estar presa ali. Depois um constante arfar. 

Minotauro. Claro. Todo labirinto tem sua fera presa, prestes a devorar os que ousaram perturbar sua solidão. Seguia seu passos, ela sabia. Sentia o cheiro do sangue que gotejava dos seus dedos. Mais aflita ficou. Precisava achar a saída.

As marcas deixadas tiveram sua função, evitava retornos a pontos já percorridos, desviava de portas que traziam seus dedos estampados em vermelhos. Outros caminhos, paredes, corredores, talvez a saída fosse a próxima porta, ela pensava. Mas nunca era.

A besta agora sussurrava cada vez mais próxima, e já não era a saída que ela buscava, mas fugir do Minotauro que a seguia. Não interessava mais achar suas marcas, nem deixar o sangue como referência. A segurança estava no constante caminhar, indefinidamente. 

O cansaço a fazia tropeçar, raspar paredes... cambaleando abria a próxima porta e suspirava aliviada ao ver apenas um estreito corredor e nada da fera. Até o momento que de tão cansada, não queria mais achar a saída, nem fugir do seu perseguidor implacável. Queria apenas deitar-se sobre o frio chão e esquecer. Esquecer do labirinto, de saídas imagináveis, de minotauros... Queria apenas ficar ali, estirada no piso, deixando o concreto penetrar em suas veias, até virar ela também parte daquilo. 

O minotauro encontrou-a estátua cinza. E num gesto delicado, carregou-a até o centro do labirinto, onde outras, também frias estátuas, contemplavam um céu que não existia. 

Mas não houve tempo para a besta, amaldiçoar, mais uma vez, a própria sorte, ao longe  já  se ouvia a porta que se fechava e outra mulher a caminhar por entre os corredores do labirinto.





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