Por José Dirceu, em seu blog:
O que esta em jogo realmente na defesa fanática e ortodoxa de uma taxa Selic maior como instrumento para reduzir a inflação, um maior ou menor crescimento do PIB ou o modelo desenvolvimentista? Vejam, a campanha sistemática pela elevação de novo da Selic encerra uma contradição evidente, que expressa o absurdo do aumento dos juros: persiste, tanto com o baixo crescimento anual, como quando o PIB trimestral dobra de 0,3% para 0,6%.
Para nossos adversários é preciso mudar o modelo e não apenas subir os juros para reduzir a inflação. Até porque o dragão da maldade já dá sinais de recuo. Basta ler os editoriais dos jornais da direita conservadora. Não nos iludamos, o que está em jogo é nosso projeto politico de desenvolvimento nacional e não apenas uma questão de política monetária e/ou da autoridade e autonomia do Banco Central (BC).
A oposição, no sentido amplo que damos a palavra, não tem limites. Vive de campanhas. Primeiro foi a campanha do apagão. Depois, a da Petrobras arruinada, uma mistificação. Na sequência, as do apagão logístico, uma mentira, e a do impostômetro, uma farsa. E agora, mais recentemente, na esteira de boatos fabricados, a campanha contra o Bolsa Família.
Fracassam em suas campanhas, mas deflagram outras
Nesta campanha permanente que fazem, de torcida por uma inflação fora do controle, a versão mais recente teve como símbolo do ridículo o tomate. E como a oposição conta com apoio da mídia de direita monopólica, ela cria expectativas. Como as expectativas que a oposição faz de tudo para criar no exterior contra a imagem do país buscando afugentar os investidores.
Pior, neste caso até conseguiram. Os atores e agentes do mercado, e depois o próprio BC foram capturados pela criminosa campanha do descontrole inflacionário e da necessidade absurda de aumentar os juros com a economia desaquecida, e com o consumo, o comércio, e a inflação em queda.
O que isso significa realmente? Significa que estamos travando uma luta política, de versões, de captura do imaginário, numa batalha que se trava pelos meios de comunicação. Uma luta com a qual os adversários, a partir de problemas reais como o da inflação buscam nos obrigar a abandonar nosso rumo e o programa de governo aprovado pelo povo nas urnas três vezes, em 2002, 2006 e 2010.
Querem apagar o crescimento
O discurso e a proposta da oposição não têm a mínima lógica. Eles oferecem ao nosso povo a opção de perder o valor de seu salário sempre, ou pela desvalorização do dólar ou pelo aumento dos juros e corte dos gastos. Pelo desemprego e pela recessão.
Não se pode voltar à ortodoxia religiosa do tripé juros, câmbio e superávit, como se os dez últimos anos não existissem, apagando o crescimento sustentável do país nesse período, o emprego e da renda, do salário mínimo, dos benefícios da previdência, do Bolsa Família e dos demais programas sociais.
Querem apagar o aumento extraordinário do crédito e a ascensão de dezenas de milhões de brasileiros à cidadania, a redução da pobreza, a política industrial e o papel dos bancos públicos, a política de inovação e educacional, o ProUni, o Fies, as escolas técnicas, a expansão das universidades, a política externa e a integração sul-americana, o PAC e o Minha Casa Minha Vida, o aumento do investimento público em energia, petróleo e gás, o pré-sal e o novo marco regulatório.
Não se pode propor que abramos mão de nosso maior recurso, o mercado interno e a distribuição de renda, o papel do Estado e dos bancos públicos, o aumento do crédito e as políticas anticíclicas, a defesa de nossa indústria e da economia popular, da soberania que o Brasil conquistou ao não depender mais do FMI, de ordens do capital financeiro, ao ocupar seu lugar no mundo.
Nossa oposição diz que o crescimento não se pode dar a partir do consumo e do mercado interno, do crédito e dos gastos públicos, e sim do investimento e clama contra o custo Brasil, mas quando o nosso governo reduz os juros – o custo maior de nossa economia, basta ver nosso serviço da dívida interna e os spreads cobrados pelos bancos – o custo da energia e reduz os impostos a produção, investimentos, exportação, quando nosso governo aprova políticas de defesa comercial e cambial, de estimulo ao conteúdo nacional e a inovação, dizem que não basta. Quando não se opõem, como fizeram com a redução da tarifa de energia.
Defendem a recessão
Gritam que é preciso investir mais, mas na prática propõem reduzir os investimentos públicos e privados e mesmo a demanda, ao defender sempre e em quaisquer circunstâncias subir os juros, com os resultados que conhecemos em todo mundo: recessão e desemprego.
Mesmo a alegação correta de que os custos do trabalho e de logística nos tiram competitividade esconde a verdadeira questão no mundo hoje: a desvalorização administrada do câmbio pelos nossos competidores e o real valorizado. Isso sem falar do nosso maior custo, o financeiro, os juros que querem porque querem subir e subir para domar a inflação já em queda e dentro da meta mais a banda.
Todos os países do mundo reduziram os juros. As exceções são o Brasil, o Egito e Gana. Há uma queda do crescimento em praticamente todos países, começando pela China, Rússia, Índia e mesmo a área da Ásia-Pacifico. Desconhecer essa realidade e o impacto da recessão europeia, da queda do comercio mundial, da guerra cambial em nossa economia, o impacto da queda de nosso comércio com a Argentina só pode ter uma finalidade: escamotear os problemas que enfrentam nosso país e nosso governo com fins políticos.
Não há solução em curto prazo para nossos problemas de infraestrutura e inovação, e o governo vem fazendo a lição de casa nessas áreas. Jamais se investiu tanto na infraestrutura do país. E agora com a retomada dos leilões de petróleo e gás, com o programa de concessões e com o apoio cada vez maior à inovação, demos um passo importante para exatamente aumentar os investimentos e a produtividade.
Não há solução mágica para aumentar os investimentos e eles vêm crescendo – tanto os públicos como os privados. Sem falar no aumento ano a ano do Investimento Direito Estrangeiro. Mas propor resolver essas questões abandonando o rumo e o modelo que mudou o Brasil nesses últimos dez anos é um suicídio e uma volta a um passado que a maioria dos brasileiros seguramente rejeitará e repudiará.
Ao contrário do que propõem nossos adversários, a direita conservadora que sempre governou ou os que sempre ditaram regras aos governos, começando pelos barões da mídia, precisamos consolidar o modelo de desenvolvimento nacional que por três vezes nosso povo apoiou nas urnas, única forma de enfrentar a crise que o mundo atravessa e não cair no mesmo abismo que a Europa vive de desemprego e recessão sem resolver os problemas da dívida pública e dos déficits fiscais.
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