Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
A campanha publicitária contra Dilma tenta, diariamente, dar a impressão de que o governo acabou e que os eleitores de outubro fugiram. Quem viu a cobertura do discurso da presidente, ontem a noite, pode até achar que a única reação dos brasileiros foi abrir a janela para fazer uma batucada numa frigideira e depois assumir o volante do carro para buzinar pela vizinhança. Nada mais falso.
Em sua coluna de hoje, a consultoria Bites, que tem uma boa carteira de empresas brasileiras entre seus clientes, mostra uma situação bem diferente nas redes sociais, que funcionaram como o principal instrumento das mobilizações de ontem.
Conforme o levantamento, até às 22.23hs, a expressão panelaço, usada de várias formas por internautas adversários do governo, totalizou 24.330 twitters. Já o hashtag #dilmadamulher, de aliados de Dilma, que fez um pronunciamento no Dia Internacional da Mulher, bateu num número 50% maior: 34.245.
Os dados são importantes porque se referem, justamente, ao momento do pronunciamento de Dilma e aos 80 minutos posteriores. É nesse ocasião que ocorrem os debates mais vivos dentro de casa, entre amigos, e emergem as impressões mais espontâneas.
A partir de estimativas padronizadas para medir audiência na internet, pode-se calcular o seguinte: a turma do panelaço atingiu um público potencial de 156 milhões de pessoas. Já #dilmadamulher bateu em 203 milhões — uma diferença considerável.
Houve sim um protesto contra a presidente, concentrado em bairros de alta classe média, que sempre votaram contra o PT. Mas é bom não exagerar, num esforço artificial para ampliar o coro dos descontentes.
Estes dados vão além de um simples palmômetro. Mostram uma situação de equilíbrio político, coerente com uma eleição presidencial encerrada por uma diferença de pouco mais de 3% dos votos. Dilma foi à TV e como é natural, mobilizou aliados a favor e adversários contra.
Ao longo da noite e da madrugada, o quadro mudou. Os twitters do panelaço cresceram e se igualaram ao total acumulado por Dilma, mudança que permite várias explicações.
A mais plausível é que a oposição e seus ativistas estão mais mobilizados para o combate na internet, o que se explica pela postura de Aécio Neves e demais líderes do PSDB. Ao recusar-se a reconhecer, de uma vez por todas, sem ambiguidades, a derrota nas urnas, evitando acatar a legitimidade absoluta da vitória de Dilma, eles estimulam tentações autoritárias e deixam uma porta entreaberta para iniciativas golpistas.
Ninguém irá negar a nenhum brasileiro o direito democrático de bater panela ou apertar a buzina do carro contra a presidente. É bom viver num país onde isso ocorre com naturalidade.
Mas também é essencial compreender que ninguém tem o direito de desrespeitar a vontade da maioria, definida em 26 de outubro. Se havia alguma dúvida, ela se dissipou apõs a lista de Rodrigo Janot, certo?
É muito feio confundir panelinha com panelaço, vamos combinar.
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