O 'pessimismo' vem de longe - VINICIUS TORRES FREIRE
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O 'pessimismo' vem de longe - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 06/05

Pesquisas mostram que desânimo vinha forte desde 2012, bem antes do junho de 2013 


O OTIMISMO DOS brasileiros está em baixa desde a segunda metade de 2012, muito antes de o "pessimismo" ter se tornado tema de conversa política, em particular depois do junho de 2013 dos protestos.

O início do declínio do ânimo parece inegável em algum momento do segundo semestre de 2012, mais ou menos cedo, a depender da pesquisa, tais como as de confiança do consumidor, do empresário, de diferentes fontes, ou das expectativas econômicas do eleitorado coletadas pelo Datafolha.

O assunto tornou-se politicamente sensível, para não dizer explosivo, obviamente depois de junho de 2013, quando o desânimo registrado nas pesquisas "econômicas" de súbito apareceu nas avaliações e nas votações do governo de Dilma Rousseff. Note-se, porém, que as pesquisas "políticas" registravam arranhões visíveis no prestígio da presidente desde um trimestre antes da torrente de protestos.

Pesquisas "econômicas" e "políticas" vão entre aspas porque, apesar de objetivos e métodos dos levantamentos serem diferentes, parece muito difícil desentranhar o que é "político" e "econômico" nas respostas dos entrevistados.

Desde metade do ano passado, o governo, governistas e mesmo observadores independentes atribuem a uma "campanha pessimista" os números recordes de insegurança econômica e de expectativas econômicas negativas.

Dilma Rousseff tratou disso em sua mensagem para o Dia do Trabalho, embora o tema seja recorrente no governismo, a crítica daqueles que seriam adeptos do "quanto pior, melhor". Antes, no discurso de final de ano de 2013, a presidente dissera que "o país" (seu governo, enfim), era vítima de "guerra psicológica adversa" de "alguns setores", que "instilam desconfiança, especialmente desconfiança injustificada".

Mas o "pessimismo", insatisfação, mal-estar ou seja lá o nome que se dê não foi um raio no céu azul, ressalte-se. O desânimo nas pesquisas "econômicas" era claro e contínuo desde meados de 2012.

Ainda parece difícil de identificar a causa do desânimo. Ainda hoje, o negativismo quase geral é de fato um tanto desconcertante. Afinal, como já se escreveu tantas vezes nestas colunas, a situação econômica e social é a melhor em décadas, pelo menos quase quatro delas. A economia, de resto, vinha apenas "desmelhorando"; ainda havia e já melhoras sociais.

No entanto, viu-se nas ruas de junho de 2013 que os brasileiros não estavam tratando de economia, mas de um não-sei-quê que envolve qualidade de vida, descrédito na política representativa, ojeriza a políticos e partidos.

Pode ser que junho de 2013 tenha traduzido de modo exagerado, politicamente energético, o mau humor também econômico que vinha desde 2012.

Em meados daquele ano, já se vivia um ano e meio de crescimento baixo, quase três anos de inflação desconfortável. Começavam a se disseminar de modo mais "pop" as críticas à política econômica. Depois de um primeiro ano relativamente "ortodoxo", Dilma virava a biruta. Porém, para a massa das pessoas, discussões econômicas teóricas não fazem o menor sentido.

Seja lá o que tenha acontecido, não começou no ano passado; não foi detonado por uma "campanha pessimista". Os brasileiros passaram a querer algo mais da vida.





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