O prisioneiro que se nega a abandonar Guantánamo apesar de estar livre para sair
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O prisioneiro que se nega a abandonar Guantánamo apesar de estar livre para sair



Detido há 14 anos, iemenita teve chance de abandonar centro de detenção para sempre e viver em outro país, mas recusou oferta na hora de embarcar em avião.

Da BBC
Muhammad Bawazir passou os últimos 14 anos de sua vida recluso na prisão norte-americana de Guantánamo (Foto: Departamento de Defesa dos EUA)Muhammad Bawazir passou os últimos
14 anos de sua vida recluso na prisão
norte-americana de Guantánamo
(Foto: Departamento de Defesa dos EUA)
Muhammad Bawazir passou os últimos 14 anos de sua vida recluso na prisão norte-americana de Guantánamo, em Cuba.
Nesta semana, ele teve a chance de pegar um avião e abandonar o centro de detenção para sempre - como fizeram outros dois detentos - mas decidiu ficar.
Esse iemenita de 35 anos recusou a oferta de recomeçar a vida em um país que havia aceitado acolhê-lo, pois não tinha parentes por lá.
A decisão surpreendeu o advogado de Bawazir, John Chandler, que disse ter passado meses tentando convencê-lo a deixar o centro de detenção.
O caso vem a público sete anos após o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ter assinado uma ordem para fechar a prisão de Guantánamo.
A base é usada por autoridades americanas desde 2002 para conter suspeitos de terrorismo, e é alvo de campanhas de entidades de defesa de direitos humanos, por indícios de tortura e maus-tratos contra os presos.
A ordem de Obama é de 22 de janeiro de 2009, mas a cadeia continua em funcionamento.
"É cara, desnecessária e serve apenas como propaganda de recrutamento para nossos inimigos", disse Obama no último dia 12, em seu discurso anual sobre o Estado da União.
Problemas legais, oposição no Congresso e dificuldade em conseguir países para acolher os presos são fatores que impediram Obama de cumprir sua promessa.
Apesar disso, o número de presos na base caiu nos últimos anos de 242 para 91 - número que hoje seria 90 se Bawazir não tivesse se recusado a subir no avião no último momento.
Um preso teimoso
Bawazir chegou a Guantánamo aos 21 anos, após ser preso no Afeganistão.
Em 2008, ainda no governo George W. Bush (2001-2008), sua liberação foi aprovada, mas não pôde ser colocada em prática porque Washington se recusava a enviar prisioneiros ao Iêmen, temendo que alguns deles voltassem a representar ameaça aos EUA.
Hoje, não é possível enviar detentos para lá porque o Iêmen está em meio a uma guerra civil.
Nos 14 anos em Guantánamo, Bawazir protagonizou diversas greves de fome.
Em uma delas, chegou a pesar 41 quilos, o que levou autoridades a alimentá-lo à força para evitar sua morte.
"Ele está apavorado por ter que ir a um país onde não tem apoio garantido", disse o advogado John Chandler ao explicar a decisão de seu cliente.
Ele disse ter tentado por meses convencer Bawazir a aceitar a oferta, e que ele tinha concordado na noite de terça-feira - mas voltou atrás no dia seguinte.
"Não sei explicar a lógica da posição dele. É simplesmente uma reação muito emocional de um homem que está preso há 14 anos."
Depressão
O advogado afirmou que Bawazir estava deprimido e o comparou ao personagem do filme Um Sonho de Liberdade (1994) que não consegue acertar sua vida após passar muitos anos preso.
Problemas legais, oposição no Congresso e dificuldade em fechar acordos diplomáticos impediram o fechamento da prisão
"Ele sempre foi muito sensível. Quando estava em greve de fome me disse: 'Tudo que quero é morrer'. Ele não aguentava o lugar", disse Chandler.
As autoridades americanas não informaram o nome do país que aceitou acolher o prisioneiro, mas o advogado disse ser "um país que eu iria sem pensar duas vezes".
O desejo de Bawazir era viver em um local onde possui parentes, como Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita ou Indonésia, mas aparentemente o governo dos EUA não conseguiu fechar acordo com esses países para que recebessem detentos de Guantánamo.
Agora, diante da decisão, há dúvidas sobre o destino do prisioneiro. O advogado disse estar preocupado com a situação, sobretudo depois que Obama deixar a Casa Branca, no começo de 2017.




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